Por Zenilce Bruno
A base construtiva da família é a amorosidade cuidada, querida e
apreciada como valor entre as pessoas. Amorosidade se constrói com
palavras e ações, sentimentos e fazeres. Diria que somos todos
responsáveis por nossos sentimentos em família. Uma vigilância sobre as
impulsividades se faz necessária. E quando os filhos são adultos, eles
são igualmente responsáveis pelo bem estar ou mal estar em família.
A
casa, a família, os pais e filhos são as maiores referências do ser
humano quanto aos afetos vividos. Afetos positivos e negativos. Amor,
amizade, cumplicidade, ciúme, rivalidade e ódio. Lugar por excelência
da ambivalência afetiva, a família se tece entre amorosidades e
animosidades. Mais precisamente, entre amor e ódio. Talvez soe mal aos
nossos ouvidos desejosos de mais amorosidades, dizer em voz alta que a
família é também o lugar do afeto negativo, sofrido e destrutivo. Os
fatos contemporâneos expostos pela mídia têm atestado sem pudor, que
nessa cultura de superego frágil, são frequentes as atuações onde
membros de uma família se maltratam, destroem-se, matam-se.
É
tempo de acabar com a tirania de achar que os pais são os únicos,
grandes e eternos responsáveis pela infelicidade dos filhos. Quando
adulto, o filho tem que assumir seu estar no mundo, sua personalidade,
corrigir suas falhas, buscar ajuda profissional para resolver-se e
tornar-se melhor para si e para os outros. É preciso compreender, que
dinâmica ancora as relações em pontos que estrangulam a amorosidade
possível, no seio da família. Muitas vezes, só se expressa o desamor, a
raiva, o peso das relações. É muito fácil em meio à impulsividade não
medir as consequências da palavra (mal) dita. Por mais que seja verdade
interna, é preciso ser sadio o suficiente para administrar a
impulsividade e não abrir feridas tão profundas na alma dos pais e
filhos. A saúde psíquica precisa ser mais buscada, mais desejada, nos
dias atuais. É mais fácil enganar-se, tomar um remédio de leve, beber
uma para esquecer, mas o fundamental é tratar-se, buscar ajuda
eficiente que possibilite compreensão profunda da própria alma, dos nós
que se formaram e que precisam ser desatados. Isso se compreende
levando a sério um tratamento psicológico.
Na contra face
disso, há na família, uma enorme capacidade humana de se plantar
sementes preciosas, dizendo-se palavras (bem) ditas, fazendo-se mais
declarações de amor. Como na família estão às relações mais sagradas de
nossas vidas, é preciso muito cuidado para que elas não se pautem mais
pelo ódio que pelo amor. O ódio que coexiste terá de ser compreendido,
resolvido e superado para que não se instaure a impossibilidade
amorosa entre pessoas que também se amam.
Muitas vezes a
convivência com pessoas de valores negativos, amigos e amores
inadequados, geram uma ambivalência e uma cegueira de atitudes que é
preciso considerar seriamente. Salvar a família, supõe cuidar dos
valores pessoais, do respeito ao outro, da tolerância e de certa dose
de humildade. Isso pode tornar viável o conviver construtivamente.
http://www.opovo.com.br/app/opovo/dom/2015/09/12/noticiasjornaldom,3503152/artigo-amorosidade-familiar.shtml
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