Quem sou eu

Minha foto
Agrônomo, com interesses em música e política

sexta-feira, 28 de julho de 2017

Histórias que Laís conta...(1)


Laís Barreira
Vovó Jovina

" 'Cuidei que era uma menina, mas já é uma mulherzinha!' Exclamou o viajante admirado com a beleza da mocinha de olhos azuis que lhe entregava uma caneca de água fresca."


Naqueles tempos os vendedores ambulantes eram chamados de viajantes e andavam, geralmente a cavalo, pelas cidades das redondezas oferecendo seus artigos.

Vovô Targino era um caboclo, porém, de cabelo liso, bem apessoado e era um desses viajantes que sempre passava pela propriedade da família de Jovina, à beira da estrada.

Certo dia ele resolveu parar para pedir água; apeou do cavalo e percebeu a menina sentada no terraço com uma mulher que penteava seus longos cabelos.

Vovó Jovina era uma moça baixinha e usava longas tranças negras que lhe desciam pelas costas e davam-lhe a aparência de menina.

Quando a moça lhe trouxe a água o cavaleiro percebeu que se enganara, diante dele uma bela e pequena mulher lhe oferecia a caneca d’água, deixando-o apaixonado.

Targino passou a parar sempre naquela propriedade, com a desculpa de beber água e a intenção de prosear com a moça que conquistara seu coração; até que um dia, suponho que com o seu consentimento, ele carregou Jovina na garupa de seu cavalo “roubando-a” de sua família, único jeito de casar-se com ela naquela época.

E assim, dessa união que durou até o fim de suas vidas nasceu Euclides, o meu pai.


(História narrada por Laís Barreira, aos 100 anos e transcrita por Vólia Barreira.)


Tua Cantiga (Cristovão Bastos e Chico Buarque )



via Biscoito Fino

terça-feira, 11 de julho de 2017

Jombrega, Detefon e Carnaval


A foto encontrei num vídeo do You Tube postado por Luciano Hortêncio. No detalhe uma placa com os dizeres "Detefon para Jombrega". Devia ser alguém que torcia pelo Kanal.



Francisco José Róseo de Oliveira, mais conhecido como Jombrega (19 de março de 1918), é um ex jogador de futebol. Jogou nas décadas de 1930 e 1940 como ponta direita do Fortaleza Esporte Cube.

Ao longo da carreira, jogou no Maguari , Fortaleza ,Peñarol, Ferroviário , Ceará.

Foi campeão da Copa Cidade de Natal de 1946, e cearense em 1936, 1937, 1938, 1941, 1943, 1944, 1946 e 1947.






O vídeo





segunda-feira, 10 de julho de 2017

Saber Mentir (Antonio Bruno)

por Nina Wirtti



Rolando Boldrin recebe a cantora Nina Wirtti (Santa Maria - RS) que canta "Saber Mentir" (Antônio Bruno). Músicos acompanhantes: Guto Wirtti (contrabaixo), Luis Barcelos (bandolim), Rafael Mallmith (violão 7 cordas) e Ruy Quaresma (violão).

A NOITE DE SÃO JANUÁRIO

Por Luiz Antonio Simas


Não é apenas sobre futebol. É sobre a cidade. A tragédia de ontem em São Januário é derivada de inúmeros fatores, tais como o despreparo da PM, a crise política do Vasco, a cultura da violência como elemento de sociabilidade entre membros de torcida, a construção de pertencimento a um grupo a partir do ódio ao outro (elemento marcante da relação entre Vasco e Flamengo nas últimas décadas), o esfacelamento da autoridade pública no Rio de Janeiro, etc.

Ela tem como pano de fundo, todavia, o assassinato do Maracanã. Morte matada, cruel, pensada nos gabinetes mais sórdidos do poder. Como um sujeito que tenta participar minimamente do debate público sobre a cidade, escrevi sobre isso em O Globo (Santuário Profanado, 26/12/2011) e em O Dia (A cidade era o Maracanã, 27/04/2016). Retomo aqui algumas ideias daqueles artigos.

O Maracanã talvez tenha sido a maior encarnação, ao lado das praias, de certo mito de convívio cordial, ao mesmo tempo sórdido e afetuoso, da cidade do Rio de Janeiro. O estádio foi pensado, em 1950, para ser frequentado por torcedores de todas as classes sociais, mas não de forma igualitária. Ele foi espacialmente dividido, como se cada torcedor tivesse que saber qual é a sua posição na sociedade: os mais pobres na geral, a classe média nas arquibancadas, os mais remediados nas cadeiras azuis e os mais remediados ainda em suas cadeiras cativas.

Esta fabulação de espaço democrático que era o antigo Maracanã, todavia, ainda permitia duas coisas que nos faziam acreditar em uma cidade menos injusta: a crença num modelo de coesão cordato, em que as diferenças se evidenciavam no espaço, mas se diluíam em certo imaginário de amor pelo futebol; e a possibilidade de invenção de afetos e sociabilidades dentro do que havia de mais precário. A geral – o precário provisório – acabava sendo o local em que as soluções mais inusitadas e originais sobre como torcer surgiam.

A geral era, em suma, a fresta pela qual a festa do jogo se potencializava da forma mais vigorosa: como catarse, espírito criativo, performance dramática e sociabilização no perrengue.O fim da geral, a rigor, poderia ser defensável, considerando-se a precariedade do espaço. O problema é que ele veio acompanhado de um projeto muito mais perverso: não era a geral que precisava sumir; eram os geraldinos. Na arena multiuso, interessa um público restrito, selecionado pelo potencial de consumo dentro dos estádios e pelos programas de sócios torcedores. Facilita-se assim a massificação das transmissões televisivas por canais a cabo.

O fim da geral foi, simbolicamente, o esfacelamento de um pacto de cordialidade que usou o manto do consenso para desenhar simulacros de democracia na cidade. Mas até isso já era. Prevalece agora a lógica da exclusão explícita.




Noves fora isso, a destruição do Maracanã fez parte do projeto mais amplo de assalto ao Rio de Janeiro promovido pela organização criminosa de Sérgio Cabral / Pezão e comparsas.

Eu não acredito em qualquer pacto ou em qualquer reconstrução da cidade do Rio de Janeiro - esfacelada, aniquilada, assaltada , extorquida, mediocrizada - que não passe pela devolução do Maracanã aos cariocas.

Um efeito perverso, dentre vários, que vai ser gerado pela noite triste em São Januário é o reforço do discurso dos que acham que o futebol tem que ser mesmo elitizado. Outro efeito deletério é a desqualificação de São Januário, um templo da cultura carioca e um patrimônio do Brasil que, todavia, não pode comportar clássicos.

Desculpem-me os que acham que estamos discutindo futebol ao debater o que aconteceu em São Januário e o crime cometido contra o Maracanã. Não é isso. Nós estamos discutindo a cidade e o Brasil como mínimas possibilidades de convívio digno, fraterno e inventivo entre nossas gentes. 

quinta-feira, 6 de julho de 2017

A SOCIEDADE DO CANSAÇO ( 5)

POR hAN, BYUNG-CHUL

"O próprio afirma-se na outro, negando a negatividade do outro. Também a profilaxia imunológica, portanto a vacinação, segue a dialética da negatividade. Introduz-se no próprio apenas fragmentos do outro para provocar a imunorreação.

Nesse caso a negação ocorre sem perigo de vida, visto que a defesa imunológica não é confrontada com o outro, ele mesmo. Deliberadamente, faz-se um pouco de autoviolência para proteger-se de uma violência ainda maior, que seria mortal. O desaparecimento da alteridade significa que vivemos numa época pobre de negatividades. É bem verdade que os adoecimentos neuronais do século XXI seguem, por seu turno, sua dialética, não a dialética da negatividade, mas a da positividade. São estados patológicos devido a um exagero de positividade.

A violência não provém apenas da negatividade,mas também da positividade, não apenas do outro ou do estranho, mas também do igual.

Num sistema onde domina o igual só se pode falar de força de defesa em sentido figurado. A defesa imunológica volta-se sempre contra o outro ou o estranho em sentido enfático. O igual não leva à formação de anticorpos. Num sistema dominado pelo igual não faz sentido fortalecer os mecanismos de defesa.

IN SOCIEDADE DO CANSAÇO - DE BYUNG-CHUL HAN
EDITORA VOZES




quarta-feira, 5 de julho de 2017

Coito das Araras (Cátia de França) - com Julia Vargas

A SOCIEDADE DO CANSAÇO (4)

Por Han, Byung-Chul

"O paradigma imunológico não se coaduna com o processo de globalização. A alteridade, que provocaria uma imunorreação atuaria contrapondo-s ao processo de suspensão de barreiras. O mundo organizado imunologicamente possui uma tipologia específica.

É marcado por barreiras, passagens e soleiras, por cercas, trincheiras e muros. Essas impedem o processo de troca e intercâmbio. A promiscuidade geral que hoje em dia toma conta de todos os âmbitos da vida, e a falta da alteridade imunologicamente ativa, condicionam-se mutuamente.

Também a hibridização, que domina não apenas o atual discurso teorético-cultural mas também o sentimento que se tem hoje em dia da vida, é diametralmente contrária precisamente à imunização. A hiperestesia não admite qualquer hibridização.

A dialética da negatividade é o traço fundamental da imunidade. O imunologicamente outro é o negativo, que penetra no próprio e procura negá-lo. Nessa negatividade do outro o próprio sucumbe, quando não consegue, de seu lado, negar àquele. A autoafirmação imunológica do próprio, portanto se realiza como negação da negação."

IN a SOCIEDADE DO CANSAÇO -
BYUNG-CHUL HAN
EDITORA VOZES


terça-feira, 4 de julho de 2017

SOCIEDADE DO CANSAÇO (3)

por Han, Byung-Chul

"Hoje a sociedade está entrando cada vez mais numa constelação que se afasta totalmente do esquema de organização e de defesa imunológicas.

Caracteriza-se pelo desaparecimento da alteridade e da estranheza. A alteridade é a categoria fundamental da imunologia.  Toda e qualquer reação imunológica é uma reação à alteridade. Mas hoje em dia, em lugar da alteridade entra em cena a diferença, que não provoca nenhuma reação imunológica. A diferença pós-imunológica, sim, a diferença pós-moderna já não faz adoecer. Em nível imunológico, ela é o mesmo.

Falta à diferença, de certo modo, o aguilhão da estranheza, que provocaria uma violenta reação imunológica. Também a estranheza se neutraliza numa fórmula de consumo. 

O estranho cede lugar ao exótico. O tourist viaja para visitá-lo. O turista e o consumidor já não é um sujeito imunológico.

in O sociedade do cansaço, Byung-Chul Han - editora Vozes

Risque - Alcione

Por Biscoito Fino


“Alcione Boleros”, conforme explicita o título, é um espetáculo que premia o gênero romântico em uma de suas expressões mais emblemáticas. 

Apesar de ser geralmente rotulada como sambista, a Marrom sempre exibiu, orgulhosamente, sua veia romântica.

Boa parte de seus maiores hits, uma lista imensa de sucessos, pertence ao gênero romântico e fala sobre amores e desamores, encontros e desencontros.

 Mas, quase sempre, com uma narrativa que valoriza a força da mulher e uma eterna disposição para dar a volta por cima. Afinal, como ela mesma diz, "não é uma qualquer".

A SOCIEDADE DO CANSAÇO (2)

por Han, Byung-Chul

"O século passado foi uma época imunológica. Trata-se de uma época na qual se estabeleceu uma divisão nítida entre dentro e fora, amigo e inimigo ou entre próprio e estranho. Mesmo na guerra fria seguia esse esquema imunológico. O próprio paradigma imunológico do século passado foi integralmente dominado pelo vocabulário dessa guerra, por dispositivo francamente militar. A ação imunológica é definida como ataque e defesa. Nesse dispositivo imunológico, que ultrapassou o campo biológico adentrando no campo e em todo o âmbito social, ali foi inscrita uma cegueira: Pela defesa, afasta-se tudo que é estranho.
O objeto da defesa imunológica é a estranheza como tal. Mesmo que o estranho não tenha nenhuma intenção hostil, mesmo que ele não represente nenhum perigo, é eliminado em virtude de sua alteridade."

In A sociedade do Cansaço, de Byung-Chul Han - editora Vozes.

segunda-feira, 3 de julho de 2017

A sociedade do cansaço (1)

por Han, Byung-Chul

" Visto a partir da perspectiva patológica, o começo do século XXI não é definido como bacteriológico nem viral, mas neuronal.

Doenças neuronais como a depressão, transtorno de déficit de atenção com síndrome de hiperatividade (Tdah), transtorno de personalidade limítrofe (TPL) ou a síndrome de Burnout (SB) determinam a paisagem patológica do começo do século XXI. Não são infecções, mas infartos, provocados não pela negatividade de algo imunologicamente  diverso, mas pelo excesso de positividade. 

Assim, eles escapam a qualquer técnica imunológica, que tem a função de afastar a negatividade daquilo que é estranho."

in Sociedade do cansaço, Byung-Chul Han, editora Vozes