CARNAVAL É SAUDADE
por Mateus Perdigão
Carnaval é saudade. É também esperança. É um ano à espera daquilo que se quer viver. É reviver.
A quarta-feira de Cinzas sempre nos corta a alegria bruscamente, devolvendo-nos as incumbências da vida cotidiana.
Mas dessa vez é diferente. A saudade neste ano é enorme. Ano atípico, aliás, que começou logo após o último Carnaval e em que mais de 240 mil pessoas apenas no Brasil nos deixaram saudades por causa de uma doença. Doença da qual, finalmente, estou livre sem maiores complicações.
De todos os textos que escrevi às quartas-feiras de Cinzas, este é o mais difícil por não saber o que dizer exatamente e pela saudade de um tempo em que a vida parecia difícil, mas não impossível. O meu conforto é que o mesmo Carnaval que agora nos foi afastado também já ensinou muito pela palavra e pelo exemplo. Os blocos pelo Brasil afora foram os primeiros a se manifestar contra a realização da festa sem uma campanha de vacinação em massa, a nossa maior esperança.
E a esperança nos move, “é preciso cantar / mais que nunca é preciso cantar”, escreveu Vinícius de Moraes. Perto ou longe, a esperança de que conseguiremos nos vacinar é a mesma de que essa tormenta acabará e de que teremos uma forte, bonita e alegre festa no próximo ano. Como disse o Monarco, um dos baluartes da Portela, “Carnavais vem muitos por aí, vida a gente só tem uma”. Tenho a esperança de no futuro poder me lamentar apenas por ter chegado a quarta-feira de Cinzas. E construiremos esse futuro como sempre construímos a nossa festa mais brasileira, um dia de cada vez até o momento da celebração.
Faltam 374 dias para o próximo Carnaval. Enquanto ele não chega, cuidemo-nos uns dos outros. Cuidemos de nossa saúde, de nossas alegrias e renovemos nossas esperanças.
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