POR VÓLIA BARREIRA
A casa da escadaria
A bela escadaria da casa
da minha infância
tinha degraus que eu subia
em alegre algaravia.
Construída no centro de um
terreno elevado
seus sete degraus davam
acesso à varanda
encimada pelo amarelo do pé
de acácia.
Com os olhos da recordação
vejo-me a subir correndo as
escadas, contando os degraus,
como fazia em criança
enquanto nos ouvidos,
ainda ressoam os passos do meu pai
escada abaixo,
a caminho de uma
imensurável prisão
na madrugada que se
eternizou na memória.
Num canto da escada, às
escondidas, sinto o coração aos pulos
com a descoberta inusitada
do desejo
e das profundas
infelicidades dos amores imaturos.
Com os pés pesados feito
chumbo
desci os degraus na vez primeira
quando tive a consciência da nossa finitude
e o fiz, na derradeira,
carregada de tristeza,
no dia em que a casa se
transformou em sentimento .
Em suas paredes ficaram grudadas
as minhas memórias
que reconstituem cada vão,
cada mosaico, cada planta
do jardim...
Apurando os ouvidos,
ouço os sons de um tempo,
que ainda repercute.
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Poema premiado no
5 comentários:
Bem impactante !
Maravilhoso!!!!
Parabéns, Vólia! Muito bonito!
Que lindo, Vólia!
Belo, belo. Essa casa continua - e continuará sempre - viva e pulsante em você, como uma indelével, firme e amada marca dos seus bons tempos.
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