Jornal O Povo - 17 de Novembro de 2008
O CAMINHO SE FAZ CAMINHANDO - POR ACRÍSIO SENA
Há momentos em que a realidade nos obriga a reordenar a lógica de pensamento. Weber ensina que o cientista social não pode querer enquadrar a realidade no conceito, mas o contrário. Mas a insistência na contramão dessa idéia, alimentada por artigos como o de Gilvan Rocha, publicado dia 14, nos obriga a fazer um apelo ao bom senso. O articulista critica a prefeita Luizianne Lins porque ela "disse que continuará com um perfil de esquerda", colocando em dúvida se a gestão que estamos vivendo hoje em Fortaleza pode ser chamada assim. Há erros crassos na hipótese. Em primeiro lugar, por reiteradas vezes Luizianne deixou claro que sabia dos limites de administrar no capitalismo - inclusive durante a campanha - e foi honesta o suficiente para não prometer implementar o "socialismo" nesta capital. Tal transformação abrangeria ações econômicas e políticas de caráter mundial. Mas existe, sim, uma convicção de esquerda nesta administração que rompeu diversos limites impostos pelo capital. Basta ver as ações sociais de curto, médio e longo prazo e as práticas políticas adotadas. São outros tempos em Fortaleza e o caminho para construção dessa nova sociedade leva bem mais de quatro anos. Em segundo, é triste ver um debate rebaixado do tipo "eu sou mais à esquerda que você". Isso sim é uma sandice. Luizianne fez aliança com 12 partidos a partir de um projeto de cidade. Alguém duvida que a prefeita seja socialista? Alguém duvida que o Psol, do companheiro Gilvan, seja de esquerda? Mas, para eleger 15 de 25 parlamentares, o Psol adotou arcos de alianças mais diversificados, incluindo PSDB, DEM, PT, PPS, PSB, PR, PHS, PRB, PMN, PDT, PSL, PTdoB, PRTB e PV. É o caso de devolver a pergunta feita no artigo: que esquerda? A questão não é essa. Marx afirma que os homens constroem sua história, mas não como querem. Para mudar o capitalismo, é necessário envolver-se com uma série de contradições, num processo dialético de vivência, negação e superação. Administrar é viver essas contradições. Não tenho dúvida que essa gestão é de esquerda. O resto é esquerdismo.
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