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segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Blog do da Vinci

Por Vitor Knijnik

Vitor é colunista da Revista Carta Capital,  assina a coluna Blogs do Além.


DA VINCI A ZERO


Se você não aguenta mais ouvir falar de Steve Jobs, imagina eu que, de uma hora para outra, quase perdi o posto de maior gênio da humanidade. As comparações entre os nossos feitos não cessam na imprensa e nas redes sociais. Não sou só eu que estou indignado. Jesus também não está gostando nada de ter o seu Sermão da Montanha irmanado ao discurso aos formandos da Universidade Stanford, proferido pelo pai da Apple, aquele que faz sucesso no YouTube.  
Entendo que todo morto célebre tem tendência a virar santo. Mas nem estão dando tempo de apurar os milagres de Jobs e já o estão canonizando. Enquanto devotos deixavam velas, flores e condolências nas Apple Stores, outros, a metros dali, ocupavam Wall Street e protestavam contra o sistema financeiro. O próprio Jobs alertava, em seu já referido discurso, sobre a importância de ligar os pontos. Mas parece que as pessoas não associaram um evento ao outro. Talvez a realidade rode em Flash. 
Notem, não quero diminuir o valor de Jobs. Sua contribuição é notável, especialmente quando a bateria ainda não se foi. Apenas é preciso colocar as coisas nos seus devidos lugares. Passei séculos sendo considerado um dos maiores pintores de todos os tempos e como possivelmente a pessoa mais dotada de diversos talentos a ter vivido. Não é justo que alguém, em menos de uma semana, passe a ser tratado como exemplo de homem renascentista.
 Por isso, decidi comparar nossas obras mais conhecidas. Sei que é uma coisa estúpida fazer um paralelo entre máquinas e obras de arte. Mas todo gênio tem muito de idiota.  

Homem Vitruviano X iPod 
Meu famoso desenho é o símbolo da simetria básica do corpo humano, cujo funcionamento é uma analogia para o funcionamento do Universo. Ou seja, com meu esboço anatômico fiz uma cosmografia do microcosmo. 
O tocador de música da Apple destruiu a indústria fonográfica e gerou milhares de músicos de churrascaria. Além de nos criar o hábito de acumular músicas que jamais vamos ouvir.  

Mona Lisa x iPad 
A fila para ver a Mona Lisa é permanente. E há um bom tempo. 
A fila para comprar o iPad é grande. Mas só nos períodos de lançamento.

A Última Ceia x iPhone 
Fiz a Última Ceia para a iGreja de meu protetor, o Duque Lodovico Sforza.
É um dos quadros mais famosos do mundo. Baseia-se em João 13:21, no qual Jesus anuncia aos 12 apóstolos que alguém, entre eles, o trairia. Sua reprodução está nas casas de metade do planeta e nunca precisou ser atualizada. 
Já o iPhone acabou com todas as ceias coletivas. Hoje, cada um fica curvado esfregando os dedos na telinha. Jobs nunca avisou quando ia trair seus fiéis compradores. Lançou novas versões do seu smartphone a todo momento. O que tornava obsoletos os modelos recém-adquiridos. 

Um comentário:

Anônimo disse...

"Sua contribuição é notável, especialmente quando a bateria ainda não se foi."

Sacana genial!

Rogério