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segunda-feira, 11 de março de 2013

O "mártir" Tom Zé

Por Felipe Araújo

Tom Zé é um ponto fora da curva tropicalista. Sua trajetória é uma espécie de reserva de “integridade artística” se comparadas às “concessões” de Gil e Caetano. Em mais de 40 anos de carreira, tornou-se quase um mártir da coragem e da “pureza” de sua arte, o que lhe rendeu períodos de ostracismo, mas lhe assegurou audiência e público fiéis.

Há alguns dias, esses fãs foram surpreendidos com a participação do cantor num comercial da Coca-Cola referente à Copa do Mundo da FIFA. A reação foi quase sangrenta: Tom Zé teria vendido a alma ao diabo, personificado em duas das mais controversas corporações multinacionais. A avalanche de insultos e desabafos nas mídias sociais reeditou a sanha de passeatas de outrora – como a procissão contra a presença da guitarra elétrica na MPB.

Em sua página no Facebook, Tom Zé se disse preocupado com a repercussão: “O apoio de vocês sempre foi uma base de sustento. Será que uma alegria nascida do privilégio de até hoje, aos 76, ter vivido dessa profissão de músico e cantor, me fez pensar que eu poderia afrontar essa sustentação?”. Ele explica que os recursos do anúncio permitirão que ele retome o projeto de instrumentos experimentais que começou a desenvolver nos anos 70 – um dos aspectos centrais da sonoridade do músico baiano.

“Aí entrou o anúncio da Coca-Cola que, mesmo sem ela saber, patrocinaria boa parte da pesquisa. Será que o uso dos recursos obtidos com o anúncio muda a avaliação de vocês?”. Não sei se muda a opinião do caro leitor. Nem mudou a minha: sigo contra sua participação no comercial. Mas a argumentação me fez lembrar de uma coluna recente de Contardo Calligaris aqui no O POVO, em que o psicanalista discutia nossa “alienação” diante de escolhas forçadas.

Não concordei com Tom Zé. Mas, por entender que a redução desse debate ao maniqueísmo simplista do bem contra o mal não superará os impasses da vida real, seguirei como grande fã de seu trabalho – como sou grande fã da música de Caetano e Gil. Afinal, ninguém precisa virar mártir de minhas convicções.

http://www.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2013/03/11/noticiasjornalopiniao,3020153/o-martir-tom-ze.shtml

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