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terça-feira, 10 de setembro de 2013

Airton Monte

Aírton Monte
Por Urico Gadelha

Às vezes meu telefone tocava no meio da noite, naquelas horas em que você vai atender já se preparando pra receber noticia ruim. Atendia o telefone e logo o sobressalto sumia ao ouvir o indefectível: Dorico, cego velho , sou eu. 
Era assim que ele se dirigia a mim. Desde muito cedo ele me elegeu como aquele que entendia tudo que a ele fugisse ao entendimento ou interesse, principalmente questões de cujo descumprimento lhe resultasse dano ou sanção de alguma natureza; trazia um tom de voz assustado e ansioso o que tornava sua gagueira mais exuberante. 
A certeza de que eu entenderia e saberia como resolver e a confiança de que não me furtaria a entender e atender sua demanda faziam-me sentir como um pai diante de um filho em aflição. Muitas vezes ri diante do que ouvia, um medo imenso de um coisa nenhuma a atormentar o meu amigo. 
Lógico que gostava e cumpria este sagrado papel a mim reservado, afinal quem não gostaria de ser, ainda que de emprestado, o pai de um poeta. 
Assim foi nossa amizade por mais de 40 anos.
No dia 10 de setembro de 2012 uma amiga comum me telefona e comunica: Urico Gadelha, o Airton Monte se foi.
Que Deus o tenha, Airton Monte. Nosso poeta, meu filho!

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