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segunda-feira, 25 de novembro de 2013

"Agredir" para proteger

Por Felipe Araújo

Mais do que a suposta presença de Banksy, o grande rebuliço do Festival Internacional de Arte Urbana – realizado em Fortaleza ao longo da semana passada – acabou sendo a intervenção de alguns artistas no (até então abandonado e negligenciado) Farol do Mucuripe.

Em que pese a pertinência dos argumentos dos que se manifestaram contra a grafitagem – alegando, sobretudo, sua “ilegalidade”, posto que feito sobre um bem público tombado –, a ação dos artistas me encheu de entusiasmo. Foi o tipo de movimento que nos colocou na fronteira potente em que se discutem os pactos sociais e os contratos legais que sedimentam o poder de plantão. Esse, sim, o principal responsável pela degradação criminosa do farol.

Foto: Kiko Silva
Penso, repercutindo ideias do filósofo Vladimir Safatle, que certas “violações” do chamado Estado de Direito são condições fundamentais para que exigências mais amplas de justiça se façam sentir. E o que os grafiteiros “exigem” é justamente um olhar mais criativo e efetivo em relação ao nosso patrimônio (e ao Farol, em particular). Muito diferente (e na direção oposta), portanto, da pressão feita pelo poder econômico (ou pelo próprio poder político) sobre muitos bens históricos. O grafite “agrediu” (e transgrediu) para proteger aquilo que o poder público finge proteger para, afinal, “agredir” (com sua leniência a serviço de conveniências diversas).

Nesse encontro entre arte, política e história, o grafite fez a cidade abraçar novamente o farol e afirmou um novo pensamento sobre Fortaleza. Ainda citando Safatle, “o pensamento, quando aparece, exige que toda ação não efetiva pare, a fim de que o verdadeiro agir se manifeste.

Nessas horas, entendemos como, muitas vezes, agimos para não pensar, pois pensar de verdade significa pensar na sua radicalidade, utilizar a força crítica e a força radical do pensamento”, diz ele. “Quando a força do pensamento começa a agir, então todas as respostas começam a ser possíveis, alternativas novas começam a aparecer na mesa”. Que Fortaleza saiba aproveitar as alternativas diante das quais essa polêmica sobre o Farol nos colocou.

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