por Sandra Helena de Souza
Nesse intervalo, participei de dois seminários promovidos por jovens alunas do curso de Psicologia da Unifor, cujo tema era o amor. No primeiro, em 2013, onde os convidados palestrantes fomos reunidos por perspectivas epistêmicas, e onde eu representava, vejam que pretensão das meninas, a ‘visão filosófica’ do amor, aproveitei para fazer uma catarse pública de meus demônios nessa matéria lendo um de meus artigos publicados nessa sessão, no ano de 2012, um dos mais comentados e compartilhados, de título ‘O Nosso Amor de Ontem’, onde eu me despedia, ainda sem disso ter plena consciência, de um grande amor que se exauria de modo irreversível. Na ocasião, afirmando que me dirigia às ‘vítimas’ do amor, levei a imensa plateia às lágrimas, com voz embargada e tomada de forte emoção. Isso me valeu um segundo convite para edição do mesmo evento agora em 2014, quando fiz a plateia rir das diatribes de quem já se considerava uma ‘sobrevivente’ do amor, disposta a dar lições, vejam que pretensão, para as jovens gerações, que ainda serão elas mesmas talhadas por essa experiência ímpar e tão decisiva que é o (des)enlace amoroso. Nesse dia também criei arestas pueris e desnecessárias.
Era hora de ler o livro. Fiquei encantada. Vi que de fato nossas dores nunca são tão assombrosas, ou as piores. O buraco sempre pode ser maior nesse mundão de desentendimentos, incompreensões, e, sobretudo deslealdades afetivas.. Só que, na condição de juíza da vara de família, a autora que tem por profissão solucionar dramas terríveis, e outros nem tanto, conseguiu, de modo despretensioso, aquilo que eu tentara sem muito sucesso: proporcionar uma paidea amorosa-familiar às avessas, e sem oferecer lições, apresenta de modo leve e quase jocoso, uma ‘etnografia de corações partidos’, entre casais e pais e filhos.
Para minha honra e júbilo, o juiz Leonardo Resende Martins, diretor do Foro da Justiça Federal do Ceará, me fez convite irrecusável: participar como debatedora da palestra de Andréa Pachá, amanhã à tarde, sobre seu magnífico livro. Sim, eu concordo com ela: ‘a vida não é justa’. A natureza também não é. Mas não podemos abdicar da coragem da verdade sobre isso. E nunca desistir de sobreviver às injustiças com dignidade e certa alegria. E oferecermos para as jovens gerações um pouco daquilo que aprendemos sobre a humanidade em nós. Pode sim fazer diferença para os egóticos corações partidos.
http://www.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2014/08/13/noticiasjornalopiniao,3297220/a-vida-nao-e-justa.shtml
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