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terça-feira, 23 de agosto de 2016

Carta para Helena


Fortaleza, maio de 2016.


Minha pequena Helena,


Antes de abrires teus olhinhos pra ver o mundo, já nos acende um sentimento novo no coração.
És a primeira das nossas melhores expectativas!

Viverás em um planeta muito bonito e, por vezes, encherás teus olhos com tanta beleza.
Porém, esse mundo em que vivemos, não tem sido acolhedor com os seres que ele abriga.

O planeta terra, onde a gente vive, é formado por muitos rios, pelos mares, pelas florestas e montanhas que chamamos de natureza e, aqui moram muitos animais, uns bem grandes e outros tão pequeninos que cabem dentro da tua mãozinha.

Muitas pessoas que vivem aqui na terra, estão se esquecendo de cuidar da natureza e de todos os seres vivos.

Algumas palavras que aprenderás, como intolerância, egoísmo, ganância, individualismo, preconceito, têm muita responsabilidade por isso tudo.

Neste ano de 2016, do teu nascimento, o nosso país, o Brasil, está passando por um período de muitas ameaças.
A mais grave delas é a uma palavra que se chama democracia.

Quando cresceres um pouco mais, vou te explicar o que ela significa e vou te contar que por ela e em defesa dela, muita gente sofreu.

Vou contar a história do teu bisavô Américo e como ele lutou pela democracia.

Infelizmente, nesses tempos, parece que muitas pessoas estão esquecendo-se de usar a palavra respeito.
Esta bela palavra não significa que temos que concordar em tudo com a outra pessoa, mas significa não discriminar ou ofender essa pessoa pelas suas escolhas, seus pensamentos e sua forma de viver.
A falta do respeito esbarra numa palavra muito dura: a intolerância.

Estou torcendo muito para que essa realidade mude logo.
Por isso, minha menina, não poderei te prometer tempos fáceis!

Mas, posso prometer cantar as mais belas canções que aprendi,
Para te fazer dormir e espantar teus medos.
Também prometo mostrar o mundo das histórias, que moram dentro dos livros e que nos ensinam como viajar para lugares muito distantes, com o nosso pensamento.

Num dia de sol, prometo que conhecerás o mar, uma água muito grande, que pode nos levar, de verdade, para quase todos os lugares do mundo.

Eu te darei, pra provar, pitomba e seriguela, frutinhas pequenas que guardam a infância e, vou te deixar se lambuzar de mangas e cajus que deixarão para sempre, em tua língua, o doce, o azedo e o travoso de maravilhosos sabores.
E, nesses dias, prometo que vamos todos virar crianças, com a alegria dos teus risos e das tuas gaiatices.
Tu vais conhecer e conviver com algumas pessoas maravilhosas, que te ensinarão palavras que te farão enxergar além dos horizontes e te abrirão novos caminhos.
E com outras, que tentarão influenciar tuas escolhas.

Mas saiba querida, que caberá somente a ti escolher o teu caminho.

Aprenderás que os caminhos às vezes são planos e cheios de lindas paisagens, e andarás por eles como se fosse um passeio.
E que, às vezes, eles têm curvas cansativas e grandes montanhas que precisarás subir ou contornar, mas, sei que terás a energia e a vontade necessárias para transpor todas as dificuldades.

Porém, não precisas te preocupar com isso agora;
Além do mais, sempre terás pessoas queridas ao teu lado.
Quando não estiveres bem e quando estiveres muito bem.

E saiba que cada uma dessas pessoas será importante na construção de cada pedacinho da tua identidade.
No entanto, nós, essas pessoas ao teu lado, não somos as “sabichonas” que iremos te ensinar tudo e tenho a certeza de uma coisa muito boa:
A nossa garotinha vai nos trazer muitas ideias novas e nos ensinará um pensar e um olhar diferente.

O amor não tem preconceitos e não se mede por nossas ações, nem por nossas escolhas, portanto, sejam quais forem as tuas, o meu lado sempre será o teu lado.
E vou torcer sempre por ti, sobretudo por tua felicidade.

Precisamos falar também de duas palavras que sempre andam juntas: alegria e risada.
Esta tua avó cearense não tem o espírito “moleque”, famoso nessas terras de José de Alencar e de Chico Anísio!
Mas, o humor é fundamental e já me disseram que quem sabe rir de si mesma vê a vida de uma perspectiva diferente e é capaz de torná-la mais leve.
Por isso, ria sempre e ria muito.

Por fim, gostaria de te dizer que dê muita importância a sentimentos como amor, generosidade, justiça, indignação...
Essas palavras são forças transformadoras!

Porém, de todas elas, uma para mim é especial: a palavra ética.

Na nossa família aprendemos o que ela significa e este foi o nosso melhor ensinamento.
A ética é uma palavra pequena, mas é muito grande no significado. Ela nos ensina a viver e conviver com as pessoas e faz com que a gente seja uma pessoa bacana de verdade.
Aprenderás muitas palavras, umas duras, outras doces, que farão de ti a pessoa que serás.
Mas, sobretudo, como disse o ídolo revolucionário Che Guevara, que um dia acreditou que mudaria o mundo:

“Não perca a ternura jamais”!

E para não dizer que não falei da poesia, deixo-te uns versos, entre tantos, que gosto muito. 

Põe quanto és no mínimo que fazes
Ricardo Reis (heterônimo de Fernando Pessoa)


Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.

Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

Vou finalizar essa cartinha com uma música que, quando ouço, me faz pegar pelo braço a menina que ainda dança dentro de mim e sair rodopiando com ela.
Quando cresceres, não se esqueça de levar sempre contigo a tua menina que dança!


A menina dança 
– Moraes Moreira e Galvão


Quando eu cheguei tudo tudo
Tudo estava virado
Apenas viro me viro
Mas eu mesma
Viro os olhinhos

Só entro no jogo por que
Estou mesmo depois
Depois de esgotar
O tempo regulamentar
De um lado o olho desaforo
E o que diz o meu nariz arrebitado
Que não levo pra casa
Mas se você vem perto eu vou lá

Eu vou lá

No canto do cisco
No canto do olho a menina dança
Dentro da menina
A menina dança

E se você fecha o olho a menina ainda
Dança dentro da menina
Ela ainda dança
Até o sol raiar
Até o sol raiar
Até dentro de você nascer
Nascer o que há.

Quando eu cheguei tudo tudo
Tudo estava virado
Apenas viro me viro
Mas eu mesma
Viro os olhinhos.

Seja bem vinda ao mundo minha querida!

Um beijo da avó que te aguarda,

Vólia.

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