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segunda-feira, 5 de junho de 2017

Parque Estadual do Cocó: uma vitória do movimento ambientalista, mas ainda falta


MOVIMENTO SOS COCÓ




No dia 4 de junho de 2017 foi formalizada a criação do Parque do Cocó,

enquanto Unidade de Conservação (UC), através de Decreto Estadual. Trata-se

de um momento histórico para o(a)s ambientalistas, pois resultado de uma longa

e extensa luta já com cerca de 40 anos.

As lutas pela preservação da bacia do Rio Cocó iniciaram no final dos anos

1970: em 1977, aconteceu a primeira manifestação do(a)s ambientalistas pela

preservação da planície do rio realizada pela Sociedade Cearense de Defesa do

Meio Ambiente e Cultura do Estado do Ceará – SOCEMA, de cuja mobilização

subsequente resultou a criação do Parque Adahil Barreto pela Prefeitura de

Fortaleza. Na sequência, já por mais de três décadas, teve a atuação

permanente do “Movimento SOS Cocó”. Foram incontáveis idas e vindas,

avanços e retrocessos, decretos vazios, obstruções da especulação imobiliária,

fóruns diversos, estudos acadêmicos e trabalhos técnicos, reportagens e

denúncias, dentre outros. Mais recentemente, ocorreram discussões em torno

do “Fórum Cocó”, criado a partir de proposta da Procuradoria Geral da

República no Ceará, o qual reuniu representantes de movimentos e entidades

ambientalistas, universidades, instituições públicas e segmentos empresariais.

Todo esse longo processo tem o seu ápice no momento atual, com a

formalização da criação do Parque a partir do qual se espera uma proteção

efetiva de, pelo menos, 1.571,29 ha da bacia do rio Cocó

Esse Decreto, o quarto editado pelo Governo do Estado sobre esse assunto,

vem, portanto, inaugurar uma nova etapa do longo processo de lutas pela

preservação do Cocó.

Outras iniciativas institucionais relevantes - concretizadas por meio de ações

adotadas pelo Governo do Estado do Ceará, além da Prefeitura e Câmara

Municipal de Fortaleza - tiveram lugar ao longo desses 40 anos. Tais iniciativas

compreendem, principalmente, decretos estaduais ou leis municipais que

instituíram áreas de interesse social para fins de desapropriação e a criação de

algumas UCS de menor dimensão, como “Áreas de Proteção Ambiental - APAs”

e a “Área de Relevante Interesse Ecológico - ARIE - Dunas do Cocó”. Com o

incremento destas e de outras medidas, sempre decorrentes de intensos

processos de lutas, fomos paulatinamente conseguindo assegurar a existência

de espaços verdes em meio ao concreto, impedindo uma maior devastação da

bacia do rio e do seu vale.

Sem embargo do aspecto positivo atinente à consolidação formal - ainda que

parcial - de mais essa importantíssima reivindicação histórica do movimento

ambientalista, observamos a existência de situações que exigem a urgente

mobilização da sociedade. A propósito, cerca de 400 hectares de áreas verdes

localizadas no entorno do vale do rio ficaram fora da nova poligonal (delimitação)

do Parque. Essa área é formada sobretudo por dunas, parte fundamental do

ecossistema, que garantem a alimentação freática do rio, além de abrigarem

importante parcela de biodiversidade nativa. Duna é APP (Área de Preservação

Permanente), mas, mesmo assim, tem sua preservação constantemente

ameaçada por parte de atividades de especulação imobiliária e até de órgãos

governamentais, através, por exemplo, da realização de operações

consorciadas.

Ademais, existem dentro dos limites da poligonal do Parque comunidades

tradicionais que retiram o sustento da planície do rio de forma sustentável, as

quais poderão ficar sujeitas a injustas restrições quanto ao uso dos recursos

naturais, podendo até serem expulsas. Quanto a isso, o Governo do Estado tem

anunciado a realização de estudos visando definir o perfil das comunidades

tradicionais e sua eventual permanência, sem, contudo, divulgar com clareza

como ocorrerão os trabalhos.

Vislumbramos, ainda, que existem propostas de usos de espaços do parque e

de suas áreas limítrofes por parte dos governos estadual e municipal que não

estão evidentes, o que pode significar abertura de áreas preservadas para a

construção de empreendimentos privados potencialmente degradadores, algo

incompatível com a dimensão pública e de conservação da UC criada.

Por fim, importa destacar, o rio encontra-se bastante poluído, o que implica em

danos para a biodiversidade e a saúde pública, bem como para a dinâmica

hídrica e o equilíbrio sedimentológico do canal fluvial e da zona costeira

adjacente. Portanto, faz-se necessário o desenvolvimento de urgentes

intervenções dos órgãos públicos responsáveis pelo saneamento ambiental e a

promoção de ações de despoluição.

Assim, conclamamos toda a sociedade interessada na efetiva e definitiva

preservação dos ecossistemas reunidos na bacia do rio Cocó a ficar atenta e

participar das lutas socioambientais – as quais certamente não cessarão – tendo

em vista a ampliação, o quanto antes, do espaço compreendido na poligonal do

novo Decreto, de modo a garantir a adequada conservação de todo o vale do rio

Cocó, com sua riquíssima biodiversidade e seus ambientes ecologicamente

relevantes, além da manutenção de todas as comunidades tradicionais que ali

residem e/ou trabalham de modo sustentável.

Nossa luta continuara, agora com ainda mais força!

Viva o Cocó e as boas lutas do povo de Fortaleza!

Fortaleza/CE, 5 de junho (Dia Internacional do Ambiente) de 2017.

MOVIMENTO SOS COCÓ

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