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segunda-feira, 30 de outubro de 2017

HISTÓRIAS QUE LAÍS CONTA - 9


A vida como ela é! (2)


Laís Barreira
A vida nos traz coisas inusitadas; uma dessas foi o casamento de uma de minhas filhas (na década de 70) com o filho de um militar de alta patente, de orientação política totalmente oposta à nossa.

Na sua juventude, esse militar, quando foi delegado de Ordem Política e Social em Fortaleza, chegou a prender algumas vezes o meu marido Américo, também jovem, por “insubordinação” e “práticas subversivas”.

No início do namoro nós vivíamos sob a ditadura dos militares; o presidente naquela época era o General Médici (Governo Emílio Garrastazu Médici 1969-1974, um dos mais duros e repressivos dos governos militares) e havia muita censura a rádios e jornais, perseguição política, tortura e morte de presos políticos (o período do governo Médici ficou conhecido como “anos de chumbo” e foi a época de maior repressão e censura à jornais, revistas, livros, peças de teatro, músicas e outras  formas de expressão artística); foi um tempo de insegurança e medo, o Américo havia sido preso no início do golpe militar (1964) e ainda estava com os seus direitos políticos cassados e eu, ainda ressabiada com tudo que havíamos passado, não me sentia confortável com aquela aproximação e dizia à minha filha quando o jovem chegava lá em casa: “a partir de agora não se fala de política; cuidado, que até as paredes têm ouvidos”.
Porém, como sempre foi nossa característica, nunca proibimos o namoro.

Com o passar do tempo, ele foi se aproximando de toda a família, ganhando nossa confiança e amizade e se revelou um admirador do Américo, passando a ser seu discípulo no municipalismo e fiel e sincero amigo até o fim da vida do meu marido. Um dos episódios engraçados deu-se no dia do casamento dos dois.

Durante a cerimônia de casamento na igreja, um amigo nosso, que estava sentado ao lado de convidados da família do noivo, ouviu o seguinte comentário a respeito do sogro de minha filha: “o Góes tem um azar danado com os filhos, primeiro casou uma filha com um guerrilheiro palestino e agora o filho se casa com a filha de um comunista!”.

Apesar das diferenças ideológicas, as duas famílias acabaram se entrosando, mantiveram um bom relacionamento e essa história acabou virando uma piada engraçada.

(História narrada por Laís Barreira, aos 100 anos e transcrita por Vólia Barreira.)






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