Quem sou eu

Minha foto
Agrônomo, com interesses em música e política

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

A moça dos Sonhos (Chico e Edu) com Alfredo Pessoa

Nossos Momentos - Tetê Espindola


Nossos Momentos ( Arnaldo Black e Carlos Rennó)

Sozinhos e juntos na dor e no prazer
Nas fases difíceis e nas fáceis de viver
Tivemos dia a dia tristezas e alegrias
Belezas, fantasias e tantas outras coisas em comum
Em busca dos sonhos de felicidade a dois
Por vezes estranhas a realidade a dois
Nós temos mais que um dia
Momentos de poesia tão claros e tão raros
Que neles nós vivemos algo incomum

Neles, tudo mais para nada mais se compara
Ao par, ao casal que somos nós dois
Sem par, sem igual
Nossos momentos não tem antes nem depois

Sozinhos e juntos na dor e no prazer
Nas fases difíceis e nas fáceis de viver
Tenhamos outras vezes momentos como esses
Instantes transcendentes
Instantes em que somos como dois em um

Neles, tudo mais para nada mais se compara
Ao par, ao casal que somos nós dois
Sem par, sem igual
Nossos momentos não tem antes nem depois

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Fábio - Encouraçado ( Sueli Costa e Tite de Lemos)

Lendo o livro VIVA de Patrick Deville, lembrei desta música que muito tem a ver com Trótski, o proscrito, o fora da lei.



Encouraçado (Sueli Costa e Tite de Lemos)


Encouraçado nos meus agasalhos
Nesta vaguíssima avenida
Nesta lentíssima espreguiçadeira
No seio desta tarde confortável
Distante fugitivo
Da primitiva aldeia dos macacos
Onde cresci, onde me debrucei
E de onde fui expulso
Por raiva e desafio
Ao berço e à dinastia
Eu, bandoleiro
Eu, o proscrito
Eu, o fora da lei
E o que fazer
Eu quero, eu quero, eu quero

Encouraçado nos meus agasalhos
Nesta vaguíssima avenida
Nesta lentíssima espreguiçadeira
No seio desta tarde confortável
Exalo com voz cava
Os mais terríveis urros, vaticínios
A 100 mil anos luz
Da Palestina, da China e da Abissínia
Por raiva e desafio
Ao berço e à dinastia
Eu, bandoleiro
Eu, o proscrito
Eu, o fora da lei
E o que fazer
Eu quero, eu quero, eu quero

Encouraçado nos meus agasalhos
Nesta vaguíssima avenida
Nesta lentíssima espreguiçadeira
No seio desta tarde confortável
Contemplo a maravilha
A doce madrugada de Sodoma
Que os índios vão tomar à mão armada
Aos uivos e vagidos
Por raiva e desafio
Ao berço e à dinastia
Eu, bandoleiro
Eu, o proscrito
Eu, o fora da lei
E o que fazer
Eu quero, eu quero, eu quero

Moacir Bedê - Um Tango Argentino Me Vai Bem Melhor Que Um Blues

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Programa Cisternas ganha prêmio no combate à desertificação

via Asa

O Programa Cisternas, uma política pública de acesso à água que possibilita às famílias rurais do Semiárido brasileiro viver na região, foi considerada a segunda iniciativa mais importante do mundo no combate à desertificação. O reconhecimento vem do Prêmio Política para o Futuro 2017, o único que homenageia políticas em vez de pessoas a nível internacional. A divulgação do Prêmio Prata para a política brasileira foi anunciada hoje (22). A cerimônia de entrega da premiação será em 11 de setembro, durante a 13º Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas, em Ordos, na China.

O prêmio, uma iniciativa do World Future Council que, este ano, teve a parceria da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD), atesta a efetividade das ações de convivência com o Semiárido como uma política pública com potencial para reverter a degradação do solo, que impossibilita a produção de alimentos, abandono das regiões afetadas pela sua população, fome e miséria. A desertificação afeta 58% da área do Semiárido, onde vivem 11,8% brasileiros e brasileiras, muitos deles em situação de pobreza ou extrema pobreza.

Característica marcante e diferenciada do Programa Cisternas é ter nascido no seio das experiências da sociedade civil, proposta como política pública de convivência com a região pelas organizações atuantes no Semiárido através da Articulação Semiárido (ASA) e assumida pelo Estado. Trata-se de uma política pública de Estado, como considera o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), dado que vários governos têm interagido com ele, o Governo Fernando Henrique, de modo especial os governos Lula e Dilma e, atualmente, o Michel Temer.

“Graças a um movimento social, o Brasil introduziu o Programa Cisternas para apoiar a meta de instalação de um milhão de cisternas de coleta de água da chuva para uso doméstico de milhões de pessoas que residem em áreas rurais no Semiárido. O objetivo da instalação de um milhão de cisternas foi alcançado em 2014. Também há 250 mil tecnologias de água produtiva e milhares de cisternas construídas para escolas. Agora, muito menos pessoas deixam a região devido à seca e, apesar de, desde 2012, a região ter experimentado uma das piores secas já registradas, relatórios indicam que não há incidência dos piores efeitos da seca - mortalidade infantil, fome, migração em massa - que costumava ser generalizada no Semiárido”, atesta o texto de divulgação da premiação.

No Sertão do Araripe, em Pernambuco, a história de seu Luiz Pereira Caldas, 58 anos, e a esposa Nilza de Oliveira Caldas, 60, é emblemática quanto ao movimento inverso de migração que passou a ocorrer na região depois das políticas públicas de convivência com o Semiárido. Após duas décadas em São Paulo, eles voltaram para sua cidade natal, no município de Granito. Um dos principais motivos do retorno foram as condições favoráveis à prática da agricultura trazidas com a instalação do barreiro-trincheira na propriedade de sua mãe. Este tipo de barreiro é escavado no solo para acumular, no mínimo, 500 mil litros de água da chuva. Por ser estreito e fundo, o espelho d´água em contato com a ação do vento e do sol é pequeno, o que diminui a evaporação do líquido.

Ao chegar no sítio Venceslau onde cresceu, seu Luiz e dona Nilza passaram a plantar, próximo ao barreiro, feijão, andu, maracujá, acerola, tomate, jerimum, abóbora, banana e macaxeira. Logo depois, seu Luiz aprendeu a construir cisternas em cursos oferecidos pelas organizações que fazem parte da ASA para ampliar a renda familiar. Em 2015, a família conquistou mais uma tecnologia de convivência com o Semiárido: a cisterna-calçadão, que também guarda água da chuva, geralmente, utilizada para o quintal produtivo sobretudo para aguar hortaliças, um tipo de cultivo que pede muita água e precisa ser protegida do sol forte.

Com a água e manejo adequado do solo, as famílias agricultoras plantam de tudo, inclusive, a produzir mudas de plantas nativas dos biomas para sua preservação dos biomas. A da Caatinga e do Cerrado, biomas que ocorrem na região semiárida, e que estão são bastante degradados pelas ações do homem para criação de gado, expansão de monocultivos e extração de madeira.

“Quando comprei esse pedaço de terra não tinha nenhuma árvore plantada. Nem uma vara pra fazer um espeto pra assar um pedaço de carne, então eu plantei umburana, sabiá, catingueira, craibera e outras árvores. No meio delas planto palma e hoje coloco minhas colmeias”, conta o agricultor Francisco de Assis da Silva, popular Preguinho, da comunidade São Luiz, do município de Maravilha, em Alagoas. Ele tem alcançado bons resultados ao trabalhar com a agroecologia, como a reversão da infertilidade do solo. Essa prática tem contribuído para produção mesmo em épocas de estiagem.

O agricultor pratica técnicas de uso sustentável do solo como cobertura morta, defensivos naturais, período de pousio, rotação de culturas, diversidade produtiva entre outras. “Se eu usasse veneno contaminava a terra, os alimentos, minha saúde e as abelhas não iriam produzir mel de qualidade”. Além do cultivo de espécies nativas, forragem e hortaliças, Seu Francisco também cria aves, ovinos e desenvolve a atividade de apicultura.

Desertificação – Segundo a UNCCD, as terras secas cobrem 40% da superfície da Terra, onde ocorrem os climas árido, semiárido e subúmido seco da Terra. Evidências do processo de desertificação estão presentes em quase todas as partes do Semiárido e, em alguns locais, são tão marcantes que foram rotuladas de núcleos de desertificação: Seridó (RN/ PB), Cariris Velhos (PB), Inhamuns (CE), Gilbués (PI), Sertão Central (PE), Sertão do São Francisco (BA).

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Histórias que Laís conta – 4



O primeiro amor não se esquece
Laís Aires Barreira


Ele era aluno do Colégio Militar, o sonho de toda garota da época. Além disso, era um rapaz muito bonito, “um pitéuzinho” e, me apaixonei por ele.

Eu tinha 14 anos e era louca pra namorar de verdade. Naquela época, na década de 30 do século passado, uma moça chegar aos vinte e cinco sem namorado recebia o apelido de “vitalina”; eu estava longe disso, mas cuidava para não correr esse risco.

Eu o conheci nas retretas de domingo que aconteciam na Praça do Ferreira, onde sempre tocava uma banda de música. Os rapazes ficavam parados conversando, as moças ficavam dando voltas na praça e quando se cruzavam flertavam. Muitos namoros começaram assim.

Outra coisa que facilitava os encontros é que a irmã dele era minha colega de escola. Mesmo sendo de família mais “abastada” que a minha, ela estudava na Escola Normal Justiniano de Serpa, uma escola pública; nós estudávamos juntas, com outras duas amigas, hora na casa de uma, hora na casa de outra; No entanto, nunca contei para ela que estava namorando seu irmão.

Os namoros de antigamente não eram como os de hoje, com tanta liberdade que os casais se vêm  todo dia e até dormem juntos!

No meu tempo, quando a mãe consentia a gente namorava na sala de casa, dia de sábado e tinha hora pra chegar e sair.

Meu primeiro namoro não foi consentido, aliás, não foi nem falado para a minha mãe, era um namoro escondido.
Eu saia de casa com as amigas e ele ia me encontrar. Algumas vezes fomos ao cinema, que ficava próximo da igreja Coração de Jesus.

O cinema é um capítulo à parte. Eu e minha irmã Nadia adorávamos e durante muitos anos tivemos esse hábito e sempre que podíamos íamos assistir aos filmes românticos, de aventura e suspense e ver nossos artistas preferidos.

Um épico que recordo até hoje foi Ben Hur, que fez enorme sucesso na década de 50, estrelado por Charlton Heston e as atrizes mais famosas eram Ginger Rogers, Greta Garbo, Bette Davis, Hedy Lamarr, Marlene Dietrich, Olivia de Havilland, todas glamorosas.

Teve ocasião em que o filme era tão bom que nós pagávamos o ingresso e quando a sessão acabava nós duas ficávamos dentro do cinema esperando a próxima começar. Quando o “lanterninha” não percebia, a gente assistia duas e até três vezes o mesmo filme!

Namorar no cinema era muito bom! Assim que as luzes apagavam a mão dele se insinuava até alcançar a minha, dava um frio na barriga, as mãos suavam, o coração acelerava e nós passávamos toda a sessão de mãos dadas. Era o máximo que acontecia, nem sequer um beijinho, mas, era proibidíssimo e uma ousadia, se minha mãe ficasse sabendo não iria acabar bem.

O cinema mais frequentado por nós era o Cine Pio X, dos frades capuchinhos que ficava pertinho da igreja do Coração de Jesus e do Parque da Liberdade (Cidade da Criança) onde encontrávamos as amigas para a sessão das três da tarde ou os namorados, cuja sessão era à noitinha.

O namoro durou três ou quatro meses e ia muito bem dessa forma, escondido, até que um dia minha mãe recebeu uma carta anônima mentirosa dizendo que eu fui vista “me agarrando” no escurinho do cinema.
Logo no Pio X, onde os frades capuchinhos eram tão rigorosos, ao ponto de, nas cenas de beijo, os “lanterninhas” iluminarem a plateia com suas lanternas para flagrar algum casal mais ousado!

Minha mãe me mandou imediatamente acabar esse namoro sob pena de que eu ficasse “falada”.
Muito triste fui falar com ele e contei-lhe da carta maldosa que nos denunciou e que por isso seria melhor nos afastarmos por um tempo.
Para minha surpresa ele não só acatou minha decisão como nunca mais me procurou.  Agiu covardemente, com medo de se meter em confusão, deixando uma mágoa que guardei por muito tempo.

Quanto à fofoqueira, nunca descobri quem foi a traidora que me entregou, talvez despeitada por eu namorar um aluno do Colégio Militar!

(História narrada por Laís Barreira, aos 100 anos e transcrita por Vólia Barreira)

Alfredo Pessoa - Tua Cantiga ( Chico Buarque e Cristóvão Bastos)

Alfredo Pessoa - Pai e Mãe (Gilberto Gil)

Alfredo Pessoa - Rancho das 7 cores ( Guinga e PC Pinheiro)

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Histórias que Laís conta – 3

Laís Barreira

Moça não tem juízo!


Eu vi muita coisa mudar nessa cidade. 

Lembro que durante muitos anos eu morei no centro da cidade, na rua Sena Madureira, perto da Cidade da Criança que, naquela época, chamava-se Parque da Liberdade e tinha o portão de entrada encimado pela estátua de um índio quebrando os grilhões, que não sei se ainda está lá.  (A estátua permanece no local).

Cheguei na Sena Madureira ainda menina e saí de lá moça feita, j diplomada como professora.

Em 1930 eu tinha 14 anos e, morando próximo do parque ia muito lá com as amigas. Era um lugar muito agradável e embora fosse frequentado pelas famílias que moravam ali ao redor, as Leite Barbosa e as Carvalhedo, um pessoal “meio rico”, a sociedade daquela época não andava muito lá.

Próximo ao Parque, na Praça da Igreja do Coração de Jesus existia o Colégio Castelo Branco e nós, as mocinhas, tínhamos uns “namoricos” com os alunos do colégio que eram o motivo dos nossos passeios no Parque da Liberdade.

Porém, para as moças entre 15 e 18 anos o ideal, ao qual almejávamos, era namorar um aluno do Colégio Militar, principalmente por causa de suas fardas que achávamos lindas, especialmente a farda de gala usada nos desfiles de Sete de Setembro, que a gente adorava.

Eu e minhas amigas não perdíamos os desfiles de jeito nenhum; a estrela principal era o Colégio Militar que esperávamos ansiosas e fazíamos qualquer coisa para flertar com os rapazes!

Nós íamos esperar o início do desfile no Beco dos Pocinhos (início da Av. Santos Dumont) e sabíamos qual era o roteiro da “parada”.  Assim que os rapazes do Colégio Militar passavam nós corríamos para a outra rua só para vê-los passar novamente, trocar olhares, sorrisos e piscar de olhos.

Moça não tem juízo!

A gente fazia essas “loucuras” que hoje em dia nem consigo imaginar; naquele tempo eu adorava só que hoje eu sou contra os militares.

 (História narrada por Laís Barreira, aos 100 anos e transcrita por Vólia Barreira.)

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Eu e meu coração (Lupicínio Rodrigues ) - com Jamelão



Nina Wirtti e Luis Barcelos gravaram a música de Lupicínio Rodrigues no CD Chão de Caminho. Aqui numa interpretação de Jamelão.


Resultado de imagem para nina wirtti cd



Eu e meu coração (Lupicínio Rodrigues)

Quando o coração tem a mania de mandar na gente
Pouco lhe interessa a agonia que a pessoa sente
Eu, por exemplo, sou um desses infelizes
Que nem direito tenho tido de pensar
Pois meu coração tem a mania de me governar

Eu preciso esquecer a mulher que me fez tanto mal
Tanto mal que me fez
E ele insiste em dizer que lhe quer
E que eu devo lhe procurar outra vez

E por isso vivemos brigando
Toda a vida, eu e o meu coração
Ele dizendo que sim
Eu dizendo que não

terça-feira, 8 de agosto de 2017

Damião - Douglas Germano




DAMIÃO

Dá neles, Damião! 
Dá sem dó nem piedade E agradece a bondade e o cuidado De quem te matou Dá neles, Damião! E devolve o hematoma. Bate mesmo, até o coma Que essa raiva, passa nunca, não Sangue e suor pelo vão. Sentir mais a dor, vingar Ver respingar o pavor Quem bateu, levar Dá neles, Damião! Mesmo que peçam clemência Faz que é tua essa demência Faz pesar a consciência do plantão Dá neles, Damião! Mira no meio da cara Dá com pé, com pau, com vara Bate até virar a cara da nação Sangue e suor pelo vão Sentir mais a dor, vingar Ver respingar o pavor Quem bateu, levar Dá neles, Damião! Bate até cansar e quando cansar Me chama 

Composição: Douglas Germano/Everaldo Ferreira da Silva


30/08/2016 06h20 - Atualizado em 30/08/2016 06h20

Caso Damião: 1ª condenação do Brasil na OEA completa 10 anos

Cearense morreu espancado em hospital psiquiátrico em Sobral, no Ceará.
Família recebeu indenização; acusados não foram punidos.

Hermeto Pascoal: A MPB "precisa voltar a jogar bola"

 Por Jotabê Medeiros e Pedro Alexandre Sanches


Em tom de brincadeira, mas com um leve fundo de verdade, o albino Hermeto Pascoal reclama de ter de trabalhar demais no dia de seu 81º aniversário. Nesse 22 de junho, o alagoano de Lagoa da Canoa que ganhou o mundo como instrumentista-inventor de jazz (ou de música universal, na denominação que prefere) concede entrevista a Carta Capital antes de fazer show paulistano no Bourbon Street.
Sem demonstrar cansaço físico nem menos ainda mental, prepara-se para lançar, pela primeira vez, um registro em disco com uma banda de jazz, Hermeto Pascoal e Big Band, pela Natura Musical.

Numa conversa concisa de menos de uma hora num hotel paulistano, Hermeto fala da condição de albino que não enxerga muito bem, como o classificou um dos compositores baianos um pouco mais jovens com quem guarda relação de afeto e de alguma competitividade.
Descreve como enxerga a situação política de “mundo virado” dos dias atuais, mesmo após ensaiar se esquivar do tema, afirmando que sua única política é a música, com o forró como matriz. Fala da teimosia da lenda brasileira Tom Jobim, menor que a de Hermeto, e defende a lenda norte-americana Miles Davis, que lhe teria surrupiado as composições Selim, Nem um Talvez e Igrejinha (essa sob o título Little Church), em 1971.

CartaCapital: Você conheceu músicos albinos pelo mundo afora?
Hermeto Pascoal: Não, nenhum. Conheci o Sivuca, né? Quem quiser ver muito albino no Brasil tem que ir a Caruaru. Na Rua Preta 90% são albinos. Quiseram criar uma coisa meio preconceituosa, como se o albino tivesse sofrimento só porque é albino.
Para ser feliz e para sofrer não tem cor. Meu corpo ser assim para mim é uma dádiva também. Meu carma na Terra que Deus me deu é ser assim, e estar falando com vocês agora, com meus 81 anos, que é pouco. Eu acho, modéstia à parte, que pessoas como eu, que fazem muita coisa aqui, deveriam viver muito. O ser humano não devia viver menos de 200 anos.
Muitos, com 70 anos, já começam a ficar debilitados. O cara parece que já começa a pagar os pecados porque fez uma coisa linda pelo mundo. Isso acontece com religiosos, com todo o mundo. Já falei com Deus, ele me disse: “Olha, antes de você vir para cá já vou garantir, só não posso te dar jeito agora porque o teu carrinho tem pouco tempo aí...” “Mais 50 anos?” “Não, 40.”
CC: Como é Deus, Hermeto? É albino?
HP: Deus é tão maravilhoso que ele é como a gente imagina. É mentira que Deus é uma fisionomia só. Existe a cor, existe a diferenciação de pessoas. Mas ele diz logo: chamem vocês aí de diferente, mas o meu diferente é semelhante, é a semelhança.
Se a gente vivesse 200 anos, ia dar tempo até para acertar o errado de tudo. Ou quem não acertasse ia pegar mais anos de carga, ia sofrer mais e envelhecer também. Essa é a vida.

CC: Nos anos 1960, você foi tocar para a Rhodia, e dizem que não quiseram que aparecesse junto aos outros artistas por causa da sua aparência, por ser albino.
HP: Foi, foi. O rapaz que era presidente da Rhodia hoje já está lá onde Deus quer, não vou dizer o nome dele porque ninguém conhece, não adianta. Estava lá tocando com Geraldo Vandré, com o Trio Novo. O Quarteto Novo nem estava formado.
O pianista Cido Bianchi é que trabalhava na Rhodia e convidou essa turma, Airto Moreira, e eu fui convidado também. Mas, quando o rapaz me viu, disse que eu era feio, destoante para o desfile. Para resumir, eu toquei e ele acabou consentindo. Eu vestia as roupas e esse cara começou a se agradar do meu jeito.
Eu tinha o cabelo compridão, chego na Rhodia, vem convite para eu ser o quê? Modelo da Rhodia, meu amigo. O que você diz disso? Aí já notei que veio o lado “abichaiado” (risos). Abichaiado, que eu falo, não estou criticando os bichas, não, sabe? Eu só não dou, mas eu tenho um pouquinho também de bicha.
Veio ele pessoalmente e me pediu desculpas pelos mal-entendidos. Para ele era um mal-entendido. Aí eu digo: “Não, que é isso? Eu me amo. Eu me amo, eu me amo, não adianta me falarem nada”. Claro que não aceitei, eu não tinha tempo, estava na fase jovem, na fase de estudar e tocar mais, já com meus filhos e tudo.

CC: Contam que nos Estados Unidos começou a tocar Tom Jobim no som ambiente, Garota de Ipanema, e Tom falou para você que não aguentava mais ouvir Garota de Ipanema. É verdade?
HP: É. Eu fiquei surpreso, porque ele estava no auge. A bossa nova estava no auge. Para tocar em elevador é porque a música fez sucesso. Eu ia subindo no elevador com ele, fui para tocar uma flauta baixo no disco do Tom.
Quando vejo ele tira aquele chapéu dele, nervoso, nervoso mesmo. A intenção que ele tinha da bossa nova era de que ela fosse uma música num nível de estar tocando nos teatros. Mas aí os culpados maiores são os parceiros dele, não era ele.
Tom falou no elevador, para uma das pessoas que sentiam a música, que era eu: “Eu queria fazer um som parecido como aquele do Quarteto Novo”. Ainda bem que o elevador demorou, eu gostei, pude dizer assim para ele: “Você mora nos Estados Unidos.




Airto Moreira, Flora Purim  e Hermeto, exilados nos EUA (Foto: Hulton Arhive/Getty Images)
Uma experiência que tenho, quando saio do Brasil, é que, se eu demorar dois meses fora, já começo a sentir falta. Agora, Tom, quando a gente fala Brasil, a gente fala no povo”. Ele queria evoluir mais, como eu fiz com o forró. Forró não é um ritmo só. Forró tem variedades. O forró que nós falamos é no sentido de chamar uma pessoa para a festa, para a farra. Mas aí criaram um estilo de música e botaram esse nome de forró.
É bonito o nome, o estilo, mas que não seja uma coisa só. Por exemplo, eu fiz um disco de forró, já faz um tempo, vai ser lançado logo, logo. Você vai escutar meu disco de forró, tem chorinho, maracatu, frevo, tem de tudo, porque tudo é forró. Jazz, clássico, todos os estilos eu toco, sem preconceito nenhum.
É uma mistura que eu chamo de música universal. No comecinho, eu já comecei a incendiar o forró com a flauta, com Edu Lobo, no Ponteio (do Festival da TV Record de 1967). O Edu não fez música pronta, ele fez uma música, uma letra bonita, e nós ganhamos o festival, mostrando sem palavras, na prática. Para o público não precisa mostrar nada, o público está aberto. O público é o deus da música.

CC: Você abordou levemente a questão da morte, de viver 200 anos. Chegou a tocar com Belchior?
HP: Não. Tive um convite uma vez. Me ligaram, tinha uma turma do Ceará que queria falar comigo. Era uma turma nova, ninguém tinha nome ainda. Marcaram, foram. Aí foi que conheci o Fagner, o Belchior.
E para que eles foram lá? Você vê o que é a meninada, né? Foram lá para a gente fazer uma onda, competir, como se fosse um tipo de competição, claro que sadia, musical, com os baianos, com a onda que estava dos baianos. Eu nunca acho que música é moda. A música, para mim, está em todas as modas, em todos os contextos.

Eu digo: “Não, eu agradeço muito a vocês”. É aquela história, quando você convida uma pessoa para fazer uma coisa, ela tem o direito de querer ou não, né? E tem que ser sincera também. Ficamos amigos, eu não quis porque estava com essa ideia do meu grupo, que é o que estou fazendo hoje.
Eles aí continuaram, e tudo bem e, quando foi daqui a uns tempos, o Fagner me convidou para fazer os arranjos do disco com nome Orós (1977), antológico. O difícil do músico é segurar a qualidade da música.
Não é que ele não segurou, é que ele ficou mais comercial. Não estou criticando, gente, estou sendo amoroso, estou sendo de pai para filho. Os produtores induzem, a coisa que eu tinha mais medo era quando eu via o produtor se aproximando de mim.
Tinha produtor que dizia que eu podia, em 15 dias, ter o grupo mais famoso do Brasil. “Só que tem umas coisinhas que eu queria te pedir, Hermeto. A roupa, esse jeito do grupo se vestir... E a música, para você maneirar um pouquinho, tocar uma música mais simples.” Como quem diz “toca brega”, né?
Quando o cara fala isso para mim ele está praticamente ofendendo a minha mãe. Não adianta, ninguém tirou e ninguém tira a minha maneira, o meu ser. Eu não premedito, eu sinto. E sou 100% intuitivo.
CC: Com 8 anos, quando começou a tocar, você já era assim?
HP: Com 8 anos. Quando saí de casa, no bom sentido, quando fui embora para o Recife, com 14 anos, muita gente pensa que minha mãe e meu pai ficaram chorando. Mas eles confiavam naquela coisa espiritual, lá do interior.
Mamãe dizia: “Meu filho parece um homem”. Assim mesmo. Sempre fui brincalhão, aí, quando cresci, ela dizia, com seus 86 pra 87 já: “Mas, meu filho, nunca vi você ser homem” (risos). Eu, para brincar com ela, digo: “Mãe, a senhora não tem os seus netinhos já? Como a senhora diz que eu não sou homem?” “Não, meu filho, eu estou dizendo isso porque você brinca muito, desde quando era pequenininho.”
Eu não sinto a diferença da minha idade. Não sinto, não é porque não quero, é porque não sinto mesmo. Minha avó dizia: “Meu filho, os dias são iguais perante Deus”. Como se Deus cometesse uma gafe dessas.
E eu, pequenininho, já sorria, já era “ironiquinho”. Se eu souber como vai ser meu show hoje, para mim, não é novidade. Nem vou. Quero viver o agora, o hoje, meu amanhã é hoje, sempre. Se eu morrer, vou morrer hoje. No dia que eu morrer é hoje.
CC: Você já ouviu Hermeto no elevador? Ou no rádio, no táxi?
HP: Não, porque a imprensa não tem gabarito para isso, não tem alcance. Eu não estou ofendendo a imprensa, estou sendo sincero. A imprensa devia se sentir envergonhada, como é que eu loto teatro mais do que muita gente?
Já estive em teatro com o meu amigão Gilberto Gil assistindo ao meu show, de eu chegar e Gil sentado, e eu sabia que ele tinha um show no mesmo dia.
Estou lá tocando, olho, vejo o Gil, ele já sabe que eu não enxergo, né? “Ih, rapaz, você aqui?” Ele disse: “Não tinha ninguém lá no meu, tinha pouca gente, não teve o show, vim assistir ao seu”. Olha que humildade, que pessoa maravilhosa.
Não falei na imprensa generalizando, falei naqueles que sabem muito bem o que não fazem para a música. A carapuça que caia.
CC: Você falou que não enxerga, mas enxergou o Gil. Quanto enxerga ou não?
HP: Não, eu enxergo, eu enxergo pouquinho. O Gil estava perto. O Gil é muito musical. Por isso eu não perdoo os músicos que têm a musicalidade e não exploram. Rapaz, o Gil, no tempo da Record, você precisava ver o Gil tocar violão.
Depois eles formaram uma música para fazer sucesso, tudo bem, mas que continuasse com aquele nível. Gil é um músico maravilhoso. Só que na prática é igual a um grande time de futebol que não está jogando bola. Precisa voltar a jogar bola.


Com o mestre paraibano Jackson do Pandeiro (Foto: Facebook/Hermeto Pascoal)

CC: Quando Caetano fala de “hermetismos pascoais”, ou “o albino Hermeto não enxerga mesmo muito bem”, ele se refere à sua música como hermética, como uma música difícil.
HP: Genial, é outro poeta maravilhoso. O Gil e o Caetano, eles representam demais. São os baianos. O Sivuca até dizia para mim: “A Bahia é a África brasileira”. Ele achava isso.

CC: A bossa nova tirou a sanfona da música brasileira. Portanto, tirou o forró?
HP: É, para você ver como é que pode... Você acha que um Tom Jobim ia ter uma ideia dessa, um genial músico que era o Tom Jobim, para achar que uma sanfona não pode tocar qualquer música?
Não digo levado, ele foi educado pelos produtores, que queriam fazer as coisas mais comerciais. Foram eles que levaram o Tom a ser educado. O que tinha ao redor, para ele se firmar cada vez mais, não estava à altura dele. Ele não era assim como o Hermeto, teimoso. Tom era mais educado do que eu. Por isso ele cedeu.

CC: O que está enxergando da atual situação política do Brasil. Já tinha visto, na sua vida, um período como este?
HP: Não, com 81 anos eu nunca vi falar. E eu me lembro que alcancei o tempo da ditadura. Era o tempo que eu estava assim num lugar, por exemplo, tocando na Argentina, para ir pro teatro tinha que passar pelos lugares com mandado. Como aqui no Brasil. Aquela época era ruim, coitados dos caras que morreram, que mataram.
Aí não vou nesse assunto, porque a minha política, digo sempre, é a música. Não me meto em política, mas eu sou um cidadão também. O que eu sinto é que o mundo está virado, cara, não é só aqui, não. É no mundo inteiro. Não é normal o Brasil ser esse país que é, com essa beleza, ser um dos países mais duros do mundo.
Quem guarda dinheiro, para mim, não demora, demora, mas vai ser guardado. Dinheiro é uma doença. Como é que o cara é tão bom, estuda, se forma, e guarda bilhões, sabendo que não vai viver 100 anos? Se fosse pra gastar, mas ele nem vai poder gastar. Mas eu achei, mesmo assim, que está melhorando, pelo menos aparentemente.
Estão descobrindo os nomes. Só que, quando descobre o nome de uma pessoa, aquele que descobre também vai depois. Eu acho que ele fez isso exatamente pra se encontrar depois, “pode deixar que eu estou indo também”. Porque todo mundo sabe o que fez.

CC: Miles Davis nunca deu o crédito de Igrejinha para você, ou deu? Airto Moreira falou que era sua.
HP: Houve uma onda lá... Airto falou, mas eu não falei, eu não confirmei. É só pedir as provas para o Airto, pede para ver se ele dá as provas. Eu defendo o Miles, porque conheci pessoalmente. Miles era rico, não precisa de dinheiro.
Sabe o que eu fiz para acabar com a festa? Eu tinha umas 4 mil músicas, pedi para dizer para o advogado: “Olha, essas músicas eu tenho, se Miles Davis quiser... Doutor, não é por causa de duas músicas. Se eu, dono das músicas, não estou brigando, quem quer dinheiro? Eu não quero”.

CC: Herbie Hancock e Wayne Shorter entraram com uma ação.
HP: Sim, mas eu não pedi. Eles tinham raiva do Miles, sabe por quê? Ele gravou uma música popular mexicana e botou no nome dele. Era um cara tão desligado, assim como eu, a gente que é músico de verdade não liga pra dinheiro.
Eles queriam fazer uma onda, como já sentiram que eu estava sendo muito forte nos Estados Unidos. Tanto é que, agora, vocês têm que me chamar de doutor. Como brasileiro, ganhar um prêmio desses nos Estados Unidos, não é qualquer um.


In Carta Capital

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Histórias que Laís conta – 2


Emisabel
Laís Barreira


Seu nome era Maria Isabel, mas, a forma como bordava em seus lençóis e toalhas, M. Isabel, definiu o apelido com que passaria a ser chamada pelos netos e netas.

Emisabel, como sempre a chamamos, era uma mulher alegre e extrovertida demais para o final do século XIX, época em que viveu sua juventude; sua risada chamava a atenção e provavelmente escandalizava os mais puritanos, porém, foi justamente o seu temperamento que encantou o jovem tenor espanhol que veio ao Brasil com uma companhia de ópera que acabou falindo e se desmanchando.

Uma companhia de ópera que vem da Espanha e vai para o interior do Ceará, se vê logo que não andava bem das pernas. Suas últimas apresentações foram em Sobral, cidade em que minha avó nasceu e foi criada por “padrinhos” que tinham “alguma posse”.

A estreia da ópera alvoroçou Sobral. 

O espetáculo era O Guaraní, estrelado pelo tenor José Ubeda Perales que interpretava Peri. Ao final da apresentação, o jovem tenor que era bonito, apesar de não ser alto, recebeu rosas da plateia; a escolhida para entrega-las representando a sociedade sobralense foi a jovem Maria Isabel.

Sobre isso minha mãe contava um fato engraçado: o buquê entregue ao tenor era amarrado por um belo laço de fita que encantou o garoto que trabalhava na casa de minha avó. Sem falar com ninguém, no dia seguinte o rapaz foi ao hotel onde a companhia estava hospedada e solicitou a devolução da fita do buquê. O tenor, envergonhado, procurou a senhorinha que lhe entregara as flores pedindo-lhe desculpas, pois “não sabia que era costume em Sobral devolver a fita do buquê”.

Assim eles se conheceram e o tenor encantou-se tanto pela moça que decidiu ficar definitivamente no Brasil e a história dos dois terminou em casamento.

Depois de casados, com a companhia teatral falida, ambos resolveram ir morar em Camocim que era uma cidade em expansão por causa do porto e lá abriram uma pensão que se tornou uma das melhores da cidade.

José, um jovem culto e muito inteligente, nunca mais se apresentou como cantor, voltou uma única vez à Espanha e terminou sua curta vida em Camocim como guarda-livros, que hoje é a profissão de contador, da pensão que tinha com a mulher.

Emisabel, ao contrário, viveu quase cem anos e morou muitos anos em Fortaleza com Elisa, a mais velha dos seus cinco filhos, minha mãe.
Eu, meus irmãos e irmãs, convivemos muito com essa avó avançada, que fumava charuto, não tinha “papas na língua” e falava palavrão, o inverso da minha mãe, recatada e muito religiosa.


 (História narrada por Laís Barreira, aos 100 anos e transcrita por Vólia Barreira.)