Emisabel
Laís Barreira |
Seu
nome era Maria Isabel, mas, a forma como bordava em seus lençóis e toalhas, M.
Isabel, definiu o apelido com que passaria a ser chamada pelos netos e netas.
Emisabel,
como sempre a chamamos, era uma mulher alegre e extrovertida demais para o final
do século XIX, época em que viveu sua juventude; sua risada chamava a atenção e
provavelmente escandalizava os mais puritanos, porém, foi justamente o seu
temperamento que encantou o jovem tenor espanhol que veio ao Brasil com uma
companhia de ópera que acabou falindo e se desmanchando.
Uma
companhia de ópera que vem da Espanha e vai para o interior do Ceará, se vê
logo que não andava bem das pernas. Suas últimas apresentações foram em Sobral,
cidade em que minha avó nasceu e foi criada por “padrinhos” que tinham “alguma
posse”.
A
estreia da ópera alvoroçou Sobral.
O espetáculo era O Guaraní, estrelado pelo
tenor José Ubeda Perales que interpretava Peri. Ao final da apresentação, o
jovem tenor que era bonito, apesar de não ser alto, recebeu rosas da plateia; a
escolhida para entrega-las representando a sociedade sobralense foi a jovem
Maria Isabel.
Sobre
isso minha mãe contava um fato engraçado: o buquê entregue ao tenor era
amarrado por um belo laço de fita que encantou o garoto que trabalhava na casa
de minha avó. Sem falar com ninguém, no dia seguinte o rapaz foi ao hotel onde
a companhia estava hospedada e solicitou a devolução da fita do buquê. O tenor,
envergonhado, procurou a senhorinha que lhe entregara as flores pedindo-lhe
desculpas, pois “não sabia que era costume em Sobral devolver a fita do buquê”.
Assim
eles se conheceram e o tenor encantou-se tanto pela moça que decidiu ficar
definitivamente no Brasil e a história dos dois terminou em casamento.
Depois
de casados, com a companhia teatral falida, ambos resolveram ir morar em
Camocim que era uma cidade em expansão por causa do porto e lá abriram uma pensão
que se tornou uma das melhores da cidade.
José, um jovem culto e muito inteligente, nunca mais se
apresentou como cantor, voltou uma única vez à Espanha e terminou sua curta
vida em Camocim como guarda-livros, que hoje é a profissão de contador, da
pensão que tinha com a mulher.
Emisabel, ao contrário, viveu quase cem anos e morou muitos
anos em Fortaleza com Elisa, a mais velha dos seus cinco filhos, minha mãe.
Eu, meus irmãos e irmãs, convivemos muito com essa avó avançada,
que fumava charuto, não tinha “papas na língua” e falava palavrão, o inverso da
minha mãe, recatada e muito religiosa.
(História narrada por Laís Barreira, aos 100
anos e transcrita por Vólia Barreira.)
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