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segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Histórias que Laís conta – 4



O primeiro amor não se esquece
Laís Aires Barreira


Ele era aluno do Colégio Militar, o sonho de toda garota da época. Além disso, era um rapaz muito bonito, “um pitéuzinho” e, me apaixonei por ele.

Eu tinha 14 anos e era louca pra namorar de verdade. Naquela época, na década de 30 do século passado, uma moça chegar aos vinte e cinco sem namorado recebia o apelido de “vitalina”; eu estava longe disso, mas cuidava para não correr esse risco.

Eu o conheci nas retretas de domingo que aconteciam na Praça do Ferreira, onde sempre tocava uma banda de música. Os rapazes ficavam parados conversando, as moças ficavam dando voltas na praça e quando se cruzavam flertavam. Muitos namoros começaram assim.

Outra coisa que facilitava os encontros é que a irmã dele era minha colega de escola. Mesmo sendo de família mais “abastada” que a minha, ela estudava na Escola Normal Justiniano de Serpa, uma escola pública; nós estudávamos juntas, com outras duas amigas, hora na casa de uma, hora na casa de outra; No entanto, nunca contei para ela que estava namorando seu irmão.

Os namoros de antigamente não eram como os de hoje, com tanta liberdade que os casais se vêm  todo dia e até dormem juntos!

No meu tempo, quando a mãe consentia a gente namorava na sala de casa, dia de sábado e tinha hora pra chegar e sair.

Meu primeiro namoro não foi consentido, aliás, não foi nem falado para a minha mãe, era um namoro escondido.
Eu saia de casa com as amigas e ele ia me encontrar. Algumas vezes fomos ao cinema, que ficava próximo da igreja Coração de Jesus.

O cinema é um capítulo à parte. Eu e minha irmã Nadia adorávamos e durante muitos anos tivemos esse hábito e sempre que podíamos íamos assistir aos filmes românticos, de aventura e suspense e ver nossos artistas preferidos.

Um épico que recordo até hoje foi Ben Hur, que fez enorme sucesso na década de 50, estrelado por Charlton Heston e as atrizes mais famosas eram Ginger Rogers, Greta Garbo, Bette Davis, Hedy Lamarr, Marlene Dietrich, Olivia de Havilland, todas glamorosas.

Teve ocasião em que o filme era tão bom que nós pagávamos o ingresso e quando a sessão acabava nós duas ficávamos dentro do cinema esperando a próxima começar. Quando o “lanterninha” não percebia, a gente assistia duas e até três vezes o mesmo filme!

Namorar no cinema era muito bom! Assim que as luzes apagavam a mão dele se insinuava até alcançar a minha, dava um frio na barriga, as mãos suavam, o coração acelerava e nós passávamos toda a sessão de mãos dadas. Era o máximo que acontecia, nem sequer um beijinho, mas, era proibidíssimo e uma ousadia, se minha mãe ficasse sabendo não iria acabar bem.

O cinema mais frequentado por nós era o Cine Pio X, dos frades capuchinhos que ficava pertinho da igreja do Coração de Jesus e do Parque da Liberdade (Cidade da Criança) onde encontrávamos as amigas para a sessão das três da tarde ou os namorados, cuja sessão era à noitinha.

O namoro durou três ou quatro meses e ia muito bem dessa forma, escondido, até que um dia minha mãe recebeu uma carta anônima mentirosa dizendo que eu fui vista “me agarrando” no escurinho do cinema.
Logo no Pio X, onde os frades capuchinhos eram tão rigorosos, ao ponto de, nas cenas de beijo, os “lanterninhas” iluminarem a plateia com suas lanternas para flagrar algum casal mais ousado!

Minha mãe me mandou imediatamente acabar esse namoro sob pena de que eu ficasse “falada”.
Muito triste fui falar com ele e contei-lhe da carta maldosa que nos denunciou e que por isso seria melhor nos afastarmos por um tempo.
Para minha surpresa ele não só acatou minha decisão como nunca mais me procurou.  Agiu covardemente, com medo de se meter em confusão, deixando uma mágoa que guardei por muito tempo.

Quanto à fofoqueira, nunca descobri quem foi a traidora que me entregou, talvez despeitada por eu namorar um aluno do Colégio Militar!

(História narrada por Laís Barreira, aos 100 anos e transcrita por Vólia Barreira)

4 comentários:

Américo disse...

Excelente depoimento. Transcrição sensível de uma narrativa leve e instigante.

Unknown disse...

Obrigada D. Laís por compartilhar suas histórias! Parabéns Vólia pela narrativa simples e envolvente! Adorei!

Roberto disse...

Marcus
Amei esta narrativa! Espero que este depoimento continue.
Abraços
Roberto

Neile disse...


Marcus,

Maravilha essas historias da D. Lais!
Sua espontaneidade e vivacidade permanecem ainda hoje!
Patrimonio da Familia e dos amigos!
bj pra ela e pra Volia, que também dois brinda com seu dom da escrita.