Em um dos emails dirigidos a minha lista pessoal, depois de defender meu voto em Dilma Rousseff, eu afirmava torcer sinceramente pelo segundo turno. Isso se deu há 15 dias. No domingo da eleição, pude me por à prova no confronto direto entre lucidez, coração e vísceras. Estas venceram na maior parte do tempo e me peguei urrando de felicidade quando havia a possibilidade de definição no primeiro turno.
Mas a realidade seguiu seu curso próprio e tive que segui-la em minha própria espreita. A complexidade do novo desenho político saído das urnas é de tal magnitude que nem cabe nesse espaço nem no tempo adequado para considerá-la. Compartilho então uma breve exortação àqueles que fazem a parte mais nobre do fator Marina: deixo de lado, por hora, as questões morais e religiosas que sua candidatura evoca para reconhecer o forte apelo entre a juventude classe média universitária e militante, notadamente aquela mais "outsider", alternativa, natureba, "ioguin", "ongueira" e já descrente da vida político-partidária. Só isso já bastaria: o reaquecimento da juventude.
A biografia de Marina e sua "elegância discreta" decantada por Caetano não podem mesmo ser desprezadas. Agora redesperta, a novíssima geração tem a oportunidade de tomar as rédeas de um país cuja democracia contínua tem exatamente sua bela e tenra idade, 20 e poucos anos. Para mim, não é pouca coisa, "filhote da ditadura" que sou, na expressão eternizada por Brizola, nas eleições de 89.
Esses "filhotes da democracia" ainda verde (com licença do trocadilho) verão a democracia brasileira amadurecer a partir de suas escolhas e omissões. É neles que aposto, pois os votos dos religiosos, dos (i)moralistas, da esquerda madura desencantada ou ressentida com o petismo/lulismo, daqueles que foram a Marina pelo fator anti-Dilma (sobre o qual pouco se fala), já estão decididos mesmo antes do resultado do pleito, e com todo o direito.
Aposto nos jovens pois quero crer que não se deixarão levar por argumentos morais conservadores, por credos religiosos que exijam dos adversários que renunciem a suas convicções pessoais para abraçar uma profissão de fé. Não aceitarão a hipocrisia oportunista do medo de enfrentar temas controversos como o aborto e a união civil entre pessoas do mesmo sexo. Dedicarão esse mês para se inteirar dos projetos em confronto, pois não se tratam mais de
promessas ao vento e sim de experiências com resultados claros.
Discutirão que Brasil eles receberam e o que querem para seus filhos e netos. Lerão o PNDH-3 e procurarão saber o que foram as Conferências Nacionais. Discutirão continuidades e rupturas entre as duas experiências de governo que ora disputam. Temos a chance histórica de ver o debate que postergamos.
Não, não quero a lucidez cética que me atingiu em cheio ao ver o discurso de Serra no domingo: ele se compromete com a democracia e a liberdade de expressão. Isso não está em disputa e ele sabe. Nem Dilma ter que agradecer a Deus. Ele não tem nada a ver com isso. Consenso (possível?), continuidade (do que?), mudança (para onde?), maioria (de quem, para que?). São as perguntas que devemos, os jovens e os nem tanto, querer respondidas. Sim, aqui é o coração. É o coração que fala e atende ao poeta: parou de pensar, deixou o pensar na cabeça. Como nos tempos idos, o coração está na boca e na ponta dos dedos.
Sandra Helena de Souza - Professora de Filosofia e Ética da Universidade de Fortaleza
Mas a realidade seguiu seu curso próprio e tive que segui-la em minha própria espreita. A complexidade do novo desenho político saído das urnas é de tal magnitude que nem cabe nesse espaço nem no tempo adequado para considerá-la. Compartilho então uma breve exortação àqueles que fazem a parte mais nobre do fator Marina: deixo de lado, por hora, as questões morais e religiosas que sua candidatura evoca para reconhecer o forte apelo entre a juventude classe média universitária e militante, notadamente aquela mais "outsider", alternativa, natureba, "ioguin", "ongueira" e já descrente da vida político-partidária. Só isso já bastaria: o reaquecimento da juventude.
A biografia de Marina e sua "elegância discreta" decantada por Caetano não podem mesmo ser desprezadas. Agora redesperta, a novíssima geração tem a oportunidade de tomar as rédeas de um país cuja democracia contínua tem exatamente sua bela e tenra idade, 20 e poucos anos. Para mim, não é pouca coisa, "filhote da ditadura" que sou, na expressão eternizada por Brizola, nas eleições de 89.
Esses "filhotes da democracia" ainda verde (com licença do trocadilho) verão a democracia brasileira amadurecer a partir de suas escolhas e omissões. É neles que aposto, pois os votos dos religiosos, dos (i)moralistas, da esquerda madura desencantada ou ressentida com o petismo/lulismo, daqueles que foram a Marina pelo fator anti-Dilma (sobre o qual pouco se fala), já estão decididos mesmo antes do resultado do pleito, e com todo o direito.
Aposto nos jovens pois quero crer que não se deixarão levar por argumentos morais conservadores, por credos religiosos que exijam dos adversários que renunciem a suas convicções pessoais para abraçar uma profissão de fé. Não aceitarão a hipocrisia oportunista do medo de enfrentar temas controversos como o aborto e a união civil entre pessoas do mesmo sexo. Dedicarão esse mês para se inteirar dos projetos em confronto, pois não se tratam mais de
promessas ao vento e sim de experiências com resultados claros.
Discutirão que Brasil eles receberam e o que querem para seus filhos e netos. Lerão o PNDH-3 e procurarão saber o que foram as Conferências Nacionais. Discutirão continuidades e rupturas entre as duas experiências de governo que ora disputam. Temos a chance histórica de ver o debate que postergamos.
Não, não quero a lucidez cética que me atingiu em cheio ao ver o discurso de Serra no domingo: ele se compromete com a democracia e a liberdade de expressão. Isso não está em disputa e ele sabe. Nem Dilma ter que agradecer a Deus. Ele não tem nada a ver com isso. Consenso (possível?), continuidade (do que?), mudança (para onde?), maioria (de quem, para que?). São as perguntas que devemos, os jovens e os nem tanto, querer respondidas. Sim, aqui é o coração. É o coração que fala e atende ao poeta: parou de pensar, deixou o pensar na cabeça. Como nos tempos idos, o coração está na boca e na ponta dos dedos.
Sandra Helena de Souza - Professora de Filosofia e Ética da Universidade de Fortaleza
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