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quinta-feira, 31 de maio de 2012

No princípio era a fome


Metáforas de alimentação como gênese de expressão do povo brasileiro

Por José Paulo Oliveira

Oswald de Andrade definiu o brasileiro como "uma mistura de floresta com escola, um misto de dormenenêqueobichovempegá com equações".
Nosso falar mole e descansado conserva, perante a comida, um respeitoso vínculo, profundo e quase umbilical.

Vítima da miséria secular, a gente brasileira encontrou nas metáforas ligadas à alimentação uma forma genuína de expressar-se, de representar e recriar o mundo.

Expressões culinárias

Linguagem rica, banquete pra mais de mil talheres.


Se vingança é prato que se come frio, o gostinho da vitória terá de ser saboreado.

Desaforos não devem ser engolidos, pessoas inflexíveis e de temperamento forte são pão, pão, queijo, queijo e gente de má índole é farinha do mesmo saco.

Tua batata tá assando. Perigo iminente! Farinha pouca? Meu pirão primeiro. A mais pura definição do salve-se quem puder.

A situação vai melhorar? Batata: junto com as boas novas vem, no pacote, um angu de caroço.

Enquanto os políticos falam abobrinha  e são tratados a pão de ló, o povo continua comendo o pão que o diabo amassou.

Dá pra pagar as contas? Mamão com açúcar? Que nada... Sobreviver continua osso duro de roer.

Essas e outras tantas expressões, todo brasileiro sabe. Conhecê-las faz parte de nossa educação florestal; desconhecê-las é desentender as motivações que alimentam nossa alma.


Educação culinária


Em um país de tanta abundância e tão pouca oportunidade para tantos, há quem acredite que a nova classe C está destinada a ficar por cima da carne seca e tirar a barriga da miséria. Nem nos causa estranheza que nossos ministros sejam fritados ou a liberação de recursos para a saúde e a educação seja eternamente cozinhada em fogo brando e mantida em banho-maria. Aliás, quem é que não sabe que tudo aqui acaba em pizza?

No Brasil, fast-food e alopatia convivem na boa com a mamadeira, a canjica, os chás de erva-cidreira e erva-doce. Geleia global.
Tudo bem que os americanos tenham o seu "piece of cake", designativo das coisas fáceis de obter. Houve tempo em que eles só souberam da fartura e não sentiram na carne o que é ter de descascar um abacaxi, resolver um pepino, encarar uma batata quente e enfrentar o angu de caroço que é o nosso dia a dia.

Afinal, mesmo em crise, eles ainda ganham em dólar. E comem como poucos...


José Paulo Oliveira é professor, consultor de comunicação e coautor, ao lado de Carlos Alberto Motta, de Como Escrever Melhor (Publifolha, 2000)

quarta-feira, 30 de maio de 2012

"Nem tudo que se diz se faz"


Feitio de Oração - Homenagem a São Jorge





Gravado no dia 23 de abril de 2012, dia de São Jorge, no Clube Renascença, em uma segunda-feira dia do Samba do Trabalhador comandado por Moacyr Luz. Um dia de festa. Feijoada, cerveja, alegria e devoção, o lugar e o dia ideal para uma homenagem em forma de samba.

Salve São Jorge, Salve Ogum!

terça-feira, 29 de maio de 2012

Leila Pinheiro canta Mulheres

Por Marcus Vinicius

Leila Pinheiro no Show "Leila Canta Mulheres" no Centro Dragão do Mar - Fortaleza Ce, Maio de 2012











O segurança


O novo centro Cultural

Do Dragão pro novo centro





Detalhe do Dragão

Detalhe















A cultura como campo de combate

Vladimir SafatlePor Vladimir Safatle

Um dos fenômenos sociais mais importantes dos últimos anos é a transformação da cultura e da modernização dos costumes em setor fundamental do embate político. Durante os anos 1970 e 1980, a cultura fora um campo hegemônico das esquerdas. Este não é mais o caso. Há de se perguntar o que ocorreu para encontrarmos atualmente um processo de politização da cultura por parte, principalmente, de representantes da direita.

Poderíamos dizer que a direita do espectro político teria compreendido que a população, em especial as classes populares, é naturalmente conservadora nos costumes, pois avessa a questões como aborto, casamento homossexual e políticas de discriminação positiva. Da mesma maneira, ela seria conservadora em cultura, pois mais sensível ao peso dos valores religiosos na definição de nossas identidades e de nossos “valores ocidentais”. É possível, porém, que o movimento em questão seja de outra natureza.

Em um astuto livro chamado O Que Há de Errado com o Kansas?, o ensaísta norte-americano Tom Frank lembra como o pensamento conservador soube se aproveitar do sentimento de abandono social das classes populares. Frank serve-se do Kansas para perguntar: como um dos estados politicamente mais combativos dos EUA nas primeiras décadas do século XX tornou-se um bastião conservador? Sua resposta é: sentindo-se abandonado pelas elites intelectuais esquerdistas cosmopolitas que, à sua maneira, não foram completamente prejudicadas pelos desmontes neoliberais, as classe populares deixaram que um conflito de classe se transformasse em um conflito cultural.

Em vez de se voltarem contra os agentes econômicos responsáveis por tais desmontes, elas se voltaram contra o modo de vida que representaria as elites liberais. Neste deslocamento, os responsáveis pelo empobrecimento dos setores mais vulneráveis da população apareceram como os portadores dos “verdadeiros valores de nosso povo”. Desta forma, a direita pode falar menos sobre economia e mais sobre hábitos e cultura. Ela pode, inclusive, tentar instrumentalizar o anti-intelectualismo, como vimos nas reações caninas contra a Universidade de São Paulo e seus departamentos de Ciências Humanas à ocasião dos conflitos com a Polícia Militar.

Mesmo a discussão europeia sobre a imigração deve ser lida nesta chave. Qualquer pessoa séria sabe que a discussão sobre imigração nada tem a ver com economia. Quem quebrou a Europa não foram os imigrantes pobres que servem de mão de obra espoliada e desprovida de direitos trabalhistas. Na verdade, quem a quebrou foi o sistema financeiro e seus executivos “brancos e de olhos azuis”. A discussão sobre imigração é um problema estritamente cultural. Maneira de deslocar conflitos de classe para um plano cultural.

Este é um fenômeno parecido ao ocorrido em países como a Tunísia após a Primavera Árabe. Feita por jovens esquerdistas diplomados e filhos da classe média tunisiana, a revolução permitiu a vitória de um partido islâmico (Ennahda) porque, entre outras coisas, eles souberam captar a lassidão das classes populares em relação à classe média europeizada de cidades como Túnis e Sfax. Os islâmicos souberam dizer: “O desprezo a que vocês foram vítimas durante todos esses anos é, no fundo, desprezo aos valores que vocês representam, desprezo ao nosso modo de vida de alta retidão moral contra a lassidão dos mais ricos”. Mudam-se os agentes, mas a estrutura do discurso é a mesma.

Contra isso, a esquerda não deve temer entrar no embate cultural e dos costumes. Devemos quebrar as tentativas de nos fazer acreditar que as classes populares são naturalmente conservadoras e mostrar como a cultura virou uma forma de o capitalismo absorver o descontentamento com o próprio capitalismo. A melhor maneira é mostrar como o modo de vida baseado na modernização dos costumes e da cultura tem forte capacidade de acolher as demandas populares.

Por exemplo, boa parte dos absurdos falados contra o casamento de homossexuais vem do medo de desagregação das famílias em ambientes onde elas aparecem como núcleos importantes de defesa social. Talvez seja o caso de lembrar que nenhum estudo demonstra que famílias homoparentais são mais problemáticas do que famílias tradicionais. Famílias tradicionais também são bons núcleos produtores de neuroses. Ou seja, os impasses e dificuldades da família continuarão, com ou sem famílias homoparentais. Mostrar a fragilidade de nossos “valores” e “formas de vida” é uma maneira de quebrar a fixação a um estado de coisas que não entrega o que promete.

http://www.cartacapital.com.br/sociedade/a-cultura-como-campo-de-combate/?autor=961

Carol Oliveira e Marco Túlio

Por Marcus Vinicius

Carol Oliveira e Marco Tulio,  no Anfiteatro do Centro Dragão do Mar - Domingo dia 27 de maio 2012






segunda-feira, 28 de maio de 2012

A nota oficial de Lula


NOTA À IMPRENSA

São Paulo, 28 de maio de 2012

Sobre a reportagem da revista Veja publicada nesse final de semana, que apresenta uma versão atribuída ao ministro do STF, Gilmar Mendes, sobre um encontro com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 26 de abril, no escritório e na presença do ex-ministro Nelson Jobim, informamos o seguinte:

1. No dia 26 de abril, o ex-presidente Lula visitou o ex-ministro Nelson Jobim em seu escritório, onde também se encontrava o ministro Gilmar Mendes. A reunião existiu, mas a versão da Veja sobre o teor da conversa é inverídica. "Meu sentimento é de indignação", disse o ex-presidente, sobre a reportagem.

2. Luiz Inácio Lula da Silva jamais interferiu ou tentou interferir nas decisões do Supremo ou da Procuradoria Geral da República em relação a ação penal do chamado Mensalão, ou a qualquer outro assunto da alçada do Judiciário ou do Ministério Público, nos oito anos em que foi presidente da República.

3. "O procurador Antonio Fernando de Souza apresentou a denúncia do chamado Mensalão ao STF e depois disso foi reconduzido ao cargo. Eu indiquei oito ministros do Supremo e nenhum deles pode registrar qualquer pressão ou injunção minha em favor de quem quer que seja", afirmou Lula.

4. A autonomia e independência do Judiciário e do Ministério Público sempre foram rigorosamente respeitadas nos seus dois mandatos. O comportamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o mesmo, agora que não ocupa nenhum cargo público.

 José Chrispiniano
Assessoria de Imprensa
Instituto Lula

"Lucinha" o cd de Lúcia Menezes

Por Marcus Vinicius


Lucia Menezes esta lançando o CD "Lucinha" (Timbre / Microservice, 2012) - produzido por José Milton




Cada do CD
Músicas do disco:

Bola sete 
(Angela Brandão - Marcelo Lima) 
Sanfoneiro, toque 
(João Lyra - Joana Lyra) 
Coração 
(Sinval Silva) 
O amor é velho e menina 
(Tom Zé) 
Moer cana 
(Chico César) 
O torrado 
(Luiz Gonzaga - Zé Dantas) 
Estaca zero 
(Ednardo - Climério) 
Requebrado 
(Angela Brandão) 
Pisei num despacho 
(Elpídio Vianna - Geraldo Pereira) 
Que loucura - participação Artur Menezes
(Sérgio Sampaio) 
Casaca de couro 
(Rui de Moraes e Silva) 
Injuriado 
(Chico Buarque) 
Dono dos teus olhos 
(Humberto Teixeira) 
Vapô de carangola 
(Manezinho Araújo - Fernando Lobo)



http://www.luciamenezes.com.br/discografia_2012.htm

Plinio Marcos e o samba paulista

Plinio Marcos
Por Marcus Vinicius

Plinio Marcos (1935- 1999), ator (parceiro de Luiz Gustavo em Beto Rockfeller, um marco na telenovela), dramaturgo (Navalha na Carne de 1967, sucesso de público e crítica) sempre foi um "outsider". Falava das classes desfavorecidas, usava o palavreado do marginal em textos muito bem elaborados. Os temas de suas peças: drogas, marginalidade, homossexualidade, prostituição. "Navalha na Carne", "Abajur Lilás", "Querô", "Dois perdidos numa noite suja", "Quando as máquinas param" são clássicos do teatro brasileiro.

E, enquanto sua obra teatral não é reeditada (se é que será?) o escritor "maldito" volta a cena.

E volta em forma de música. Foi reeditado no formato CD, o LP gravado em 1974, "Plinio Marcos em prosa e verso com Geraldo Filme, Zeca da Casa Verde e Toniquinho Batuqueiro", numa iniciativa de Charles Gavin e Aninha Barros, filha de Plinio.

No LP/CD a trajetória dos três sambistas paulistas são apresentados através de crônicas de Plinio. Contam as "histórias das quebradas do mundareú":
"Lá onde o vento encosta o lixo e as pragas botam os ovos. Da gente que sempre pega a pior, come da banda podre, mora na beira do rio e quase se afoga toda vez que chove. E só berra da geral sem nunca influir no resultado."
Cada do Cd
O texto que acompanha o Cd, de Tárik de Sousa, "Plinio Marcos dá voz ao samba paulista" é excelente.