Por Danilo Casaletti
Essa é capa da nova biografia da cantora Elis Regina (1945-1982). O livro, publicado pela editora Master Books, foi escrito por Allen Guimarães (também curador da mostra de mesmo nome, Viva Elis, que está rodando por cinco capitais brasileiras) e é resultado de uma pesquisa de quase uma década. Ao longe desse tempo, Allen colheu depoimentos de dezenas de artistas e pessoas que conviveram e trabalharam com Elis. Além disso, o autor mergulhou em recortes de revistas e jornais para traçar um panorama do que foi a carreira da cantora.
De acordo com o autor, trata-se de uma “biografia artística”. “O livro não traz detalhes vida pessoal da Elis. Os fatos da vida dela que cito servem para costurar ou justificar os dados artísticos”, diz Allen.
A narrativa é feita em ordem cronológica. Da cantoria de menina que encantava seus avós, ainda em Porto Alegre, cidade onde nasceu, ao seu derradeiro show, Trem Azul, em 1981. Os fatos são ilustrados por depoimentos de artistas que participaram daquele momento ou por entrevistas concedidas por Elis a diversos meios de comunicação da época.
Há passagens bem interessantes e ignoradas por biografias anteriores (a mais famosa é Furacão Elis, da jornalista Regina Echeverria), como a do disco que Elis planejava lançar apenas com músicas do compositor Vinicius de Moraes. O álbum seria gravado em 1979, quando Elis deixou a gravadora Philips (atual Universal) devendo um disco. A ideia da cantora era gravar, apenas acompanhada pelo piano do seu então marido, o músico César Camargo Mariano, as composições do Poetinha. Porém, a gravadora, para se “vingar” da saída de Elis, lançou um disco com gravações que não haviam entrado em seus discos anteriores, o que fez com que a cantora desistisse do projeto.
O livro também dá destaque para dois grandes projetos inovadores realizados por Elis. O primeiro é o “Circuito Universitário”, de 1973, quando Elis e seus músicos saíram em um ônibus para apresentações por diversas cidades do interior de São Paulo, Paraná e Santa Catarina. “Foi a maior coisa que fiz na minha vida. Sabe lá o que é você cantar para gente que sai de casa exclusivamente para te ouvir?”, diz Elis, em reportagem reproduzida pelo livro.
Outro grande êxito da carreira da cantora, o show Falso Brilhante, que ficou em cartaz entre 1975 e 1977, apenas em São Paulo, também é destacado. As apresentações, que aconteciam de terça a domingo, sempre com o teatro lotado, foram um marco no show business brasileiro. “Pintou a ideia da gente conta a vida da gente, não a minha vida ao a do César (Camargo Mariano) e sim a vida da classe da gente. Mostrar como vivem os músicos e uma cantora latino-americana”, disse Elis, em depoimento à época.
Uma das passagens mais bonitas do livro está presente em um depoimento do artista gráfico Elifas Andreato, autor da programação visual do último show da Elis. Ele conta que, pouco antes da cantora morrer, chegou ao apartamento de Elis e a encontrou sentada no show, junto com Maria Rita, então com quatro anos de idade, na penumbra, ouvindo o disco Elis & Tom. Segundo ele, Elis lhe disse: “Elifas, nunca mais vai acontecer uma coisas dessas (referindo-se à gravação com Tom Jobim). Jamais! É muito bonito!”
Viva Elis ainda traz diversas fotos de diferentes fases da carreira de Elis. Entre elas, uma do show Transversal do Tempo, de 1978, na qual Elis aparece vestida com um manto que representa a imagem de Nossa Senhora Aparecida. Era o momento em que ela, no show, cantava “Romaria”. O adereço foi usado apenas nas primeiras apresentações da temporada e logo foi proibido.
O livro, que teve patrocínio da Nivea, via Lei de Incentivo à Cultura, será distribuído em escolas e instituições de ensino de todo o país, além de ser colocado à venda. O lançamento está previsto para acontecer no Rio de Janeiro, durante a passagem da exposição Viva Elis pela cidade (de 09 de agosto a 30 de setembro, no Centro Cultural Banco do Brasil).
Fotos: Divulgação; Arquivo Editora Globo
(Danilo Casaletti)