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segunda-feira, 1 de outubro de 2012

UM TAL MONTEIRO LOBATO E O TEMPO: TERMINA POR AQUI?

Por Ana Rabelo

Já dediquei algumas palavras sobre o tema. Mas vale retomá-lo. Monteiro Lobato é um dos maiores escritores do Brasil. E seu “Sítio do Pica-pau Amarelo” é mais fabuloso do que o mundo maravilhoso de Alice. Mas essa criação brasileira tem a infelicidade de estar presa em um tempo de valores que ferem os avanços das lutas sociais e políticas, a defesa dos direitos humanos.
Emilia por Dirce Migliaccio
Como lingüista, defendo a permanência da obra de Monteiro Lobato nas escolas do mundo inteiro. Como militante em defesa da “leitura para todos/as”, também defendo a permanência da obra de Monteiro Lobato. Como militante socialista, também defendo. Pela liberdade de expressão, pela possibilidade de apresentar universos amplos, pela possibilidade de desenvolver leitores críticos, pelo encantamento de minhas memórias pessoais, por minhas corridas – e de tantas outras crianças - a cada chamada na voz de Gilberto Gil... Por tudo isso, eu defendo.

Cecília Meireles, em sua obra “Problemas da Literatura Infantil”, afirma que “A Literatura precede o alfabeto. Os iletrados possuem Literatura” (p.19). E, assim, sob esse ponto de vista, que em suas reflexões sobre a dificuldade de definir o que é literatura infantil que declara:

“São as crianças que, na verdade, o delimitam com sua preferência. Costuma-se classificar como Literatura Infantil o que para elas se escreve. Seria mais acertado, talvez, assim classificar o que elas lêem com utilidade e prazer. Não haveria, pois, Literatura Infantil a priori, mas a posteriori”. (p. 20)

Nós fomos as crianças que vimos a literatura que ali estava... Lembra? Agora...Quais personagens - mesmo - fizeram parte da sua infância?

É evidente que há questões que são polêmicas, mas isso não impossibilita de apresentar a magia contida em tudo o mais que é o Sitio do Pica-pau Amarelo. É preciso construir o pensamento crítico no leitor brasileiro. É preciso discutir as questões polêmicas em sala de aula. É preciso desnaturalizar as questões de avanço histórico, porque já foram avançadas. São conquistas. Não permanências. Como já dizia Calvino, em “Seis propostas para o próximo milênio”, em outro contexto (e peço desculpas pelo arranjo que faço): ao entendermos o valor do peso, damos o verdadeiro valor à leveza.

Que o tempo não esvaeça toda a ternura da curiosidade de Emília. Que nasçam mais Emílias!!! Que outros cavalos sejam montados por outros Pedrinhos... E que outras bibliotecas possam ser moradas para novos Viscondes de Sabugosa...

Quer uma pílula falante?

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