Laís Barreira |
O
cinema e o amor
Quando fiz 15 anos minha mãe, embora tivesse “poucas
posses”, fez uma festinha para comemorar meu aniversário.
E no dia da minha festa de 15 anos conheci Américo.
Eu
já o conhecia “de vista” das retretas da Praça do Ferreira; ele e os amigos
tinham um local de encontro, na esquina da Rua Guilherme Rocha ao lado do Hotel
Excelsior; uma parte do grupo ficava perto da parede e outra na ponta da calçada, formando um “corredor polonês” de modo
a obrigar as garotas a passar no meio deles; quando passávamos eles diziam
piadinhas, o que me deixava meio constrangida.
Outra
vez, quando voltava pra casa com uma amiga ele e um dos amigos nos seguiram até
minha casa, dizendo “chistes” espirituosos; até então, nunca havia passado
disso.
Ele
não foi convidado para o aniversário e entrou como penetra, como se diz hoje,
porque era amigo do vizinho que namorava minha irmã.
Levou-me
de presente um álbum da revista CINEARTE, com fotos dos meus artistas de cinema
favoritos e, como eu era louca por cinema, o presente me encantou. Eu costumo
dizer que ele “me ganhou” com o álbum da CINEARTE.
Naquele
dia, no auge da minha juventude, nunca poderia imaginar que aquele rapaz que me
olhava com olhos de um intenso azul, com jeito de galã de cinema seria meu
marido e viveria comigo até o fim da vida dele.
O
namoro durou oito anos!
Quando
o conheci ele havia sofrido, recentemente, um sério acidente; descendo de um
ônibus em movimento ele acabou sendo atropelado por um bonde que passava na
mesma hora. Sua perna quebrou-se em várias partes e só não foi amputada porque
o pai dele não permitiu. O médico que o operou alertou que, por alguns meses
ele não poderia pisar no chão e, por mais algum tempo teria que andar de
muletas.
Porém,
ele era muito vaidoso e não seguiu a recomendação médica; andava de bengala e
acabou ficando com uma perna mais curta que a outra.
Logo ele começou a frequentar nossa
casa, porque minha família já conhecia a família Barreira e minha mãe tinha
amizade com uma tia dele; meu pai também gostava dele e às vezes o convidava
para almoçar com a gente; isso foi estreitando laços e fortalecendo o namoro.
Quando
começamos a namorar ele tinha 17 anos, mas já estava na faculdade de direito o que
representava um status maior do que namorar um aluno do colégio militar.
Além
disso, já começava a demonstrar sua liderança e seu brilhantismo como orador,
que sempre foram suas grandes qualidades e um sério defeito: era namorador.
Por
causa desse defeito, terminamos várias vezes o namoro. Nesses intervalos ele
namorava outras meninas, mas sempre me procurava pedindo para voltarmos e
prometendo mudar; como eu era tímida nunca iria pedir pra voltar o namoro.
Passados oito anos de idas e vindas, me
casei com um homem que, durante sua vida foi um político brilhante; tivemos
sete filhos e durante 53 anos de vida em comum compartilhamos momentos felizes,
tristezas, mágoas e muito desassossego, principalmente por causa da sua ideologia
política, de sua militância partidária de esquerda e do seu destemor que lhe acarretaram
perseguições e sua prisão no golpe militar de 1964.
(História
narrada por Laís Barreira, aos 100 anos e transcrita por Vólia Barreira.)
Um comentário:
Adorando as histórias da D. Laís! Tomara que esse livro saia logo!
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