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terça-feira, 18 de junho de 2013

"Não se apaixonem por vocês mesmos".

Por Mateus Perdigão
Mateus Perdigão


A frase é do filósofo Slavoj Žižek, em Wall Street, durante o Occupy Wall Street. Ele falava que o que importava era pensar nos dias seguintes - os dias normais, cotidianos - aos protestos que aconteciam em Nova Iorque. E alertava: “carnavais vêm baratos”.

Me chama a atenção a quantidade de pessoas declaradamente conservadoras e de direita que me convida para “ir pra rua” porque “o gigante acordou”. Pessoas que, até pouco tempo, tinham medo de ir pra rua mesmo pra curtir o (pré-)carnaval de Fortaleza.

Intriga-me a quantidade de celebridades que, de uma hora pra outra, chama a população pra rua. Deixa-me encucado a quantidade editoriais de jornais, revistas e TV que deram a “marcha à ré” mudando o caminho para o qual antes seguiam. Incomoda-me essa história de dizer que o movimento é apolítico.

Os meios de comunicação conservadores não entrarão em confronto direto com um movimento que cresce a cada dia, eles vão tentar redirecioná-lo para os seus objetivos – acabar com a corrupção no Brasil, talvez? Basta ver a quantidade de editorias que mudaram o teor dos textos e o bizarro vídeo do Datena tentando induzir uma “pesquisa” de TV ao vivo: “eu acho que o protesto tem que ser pacífico, não pode ter depredação, não pode impedir via púbica (…) eu não sou a favor desse tipo de protesto”, bradou.

E aí eu volto ao Žižek: “o problema não é a corrupção ou a ganância. O problema é o sistema. Ele o força a ser corrupto. Tenham cuidado não só com os inimigos, mas com os falsos amigos que já trabalham para diluir o processo. Da mesma forma que você pode ter café descafeinado, cerveja sem álcool, sorvete sem gordura, eles tentarão transformar isso é um inofensivo protesto moral”.

Agora eu volto ao título: é bonito de se ver aquela quantidade de pessoas na rua, é instigante ver que o movimento cresce em várias cidades do país. Mas há necessidade de se pensar nos dias seguintes. Há necessidade de mostrar o rosto e dizer a que veio. Há necessidade de se apropriar do futuro. Há necessidade de acabar com o capitalismo. Há necessidade de se mostrar para os conservadores, reacionários e fascistas de plantão que o movimento é, sim, político e que não se deve ter medo ou vergonha disso. Há necessidade porque eu não quero estar, em uma manifestação, lado a lado de direitistas, conservadores e reacionários, gritando as mesmas palavras de ordem, em um grande protesto vazio, sem saber o porquê. Eu não quero confundir o Movimento Passe Livre com o Fortaleza Apavorada.

O estudante Paulo Motoryn define o que, para mim, parece ser o teor do movimento que nasce no texto intitulado “O que queremos”: “Sob hipótese nenhuma podemos nos alinhar aos Datenas, Jabores e Pondés. O que queremos é derrubar as barreiras entre ricos e pobres, quebrar os muros entre centro e periferia, consolidar o povo como um ator político de importância ímpar e lutar por um Brasil com justiça social, sem desigualdade e com oportunidades iguais para todos e todas. Nada mais. E nada menos.” Concordo com o Žižek quando ele diz “O único sentido em que somos comunistas é que lutamos pelos comuns (...) Por isso, e somente isso, devemos lutar”.

Como disseram uma vez Gil e Caetano: “É preciso estar atento e forte”.

P.S.: O Movimento Passe Livre disse, na TV Cultura, a que veio: a curto prazo, quer revogar o aumento da passagem de ônibus. A longo prazo, quer transporte gratuito e de qualidade pra todo mundo. Uma proposta inovadora, audaciosa e aplicável - por que não? Como eles mesmos diziam, é decisão política.

* Texto do Žižek disponível em inglês: http://takethesquare.net/2011/10/11/zizek-at-wall-street-“don’t-fall-in-love-with-yourself”-occupywallstreet-ows/

* Texto do Paulo Motoryn disponível em: http://revistavaidape.wordpress.com/2013/06/17/o-que-queremos/

* Vídeo do Datena: https://www.youtube.com/watch?v=7cxOK7SOI2k

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