Quem sou eu

Minha foto
Agrônomo, com interesses em música e política

sexta-feira, 12 de julho de 2013

CONTRA A GLOBO? TUDO!

Por Edu Goldenberg

Assim que começaram a pipocar as primeiras notícias após eu ter descoberto a ação penal movida perante a Justiça Federal do Estado do Rio de Janeiro pelo Ministério Público contra a funcionária que sumira com os autos do processo que envolvia a Receita Federal do Brasil e a GLOBOPAR – que autuava a empresa por sonegação de impostos que, à época, somavam cerca de 600 milhões de reais – tratei logo de, dotado de justificado orgulho, contar a novidade a meu pai, por e-mail. A resposta veio em tom de reprimenda (e como seu preciso do início ao fim, reproduzirei sua sintética resposta exatamente da forma como me chegou, às 14h34min do dia 09 de julho próximo passado):

“Cara , onde voce está se metendo ………….”

Venho ao blog, hoje, não apenas por conta da repercussão absurda que ganhou a matéria publicada no Diário do centro do mundo – clicando na foto abaixo você será direcionado para ela -, o que me dá vontade de dar alguma espécie de satisfação a tanta gente que está me mandando e-mail me dando parabéns pela “coragem”, é o que mais tenho lido, mas para responder a meu pai (ou a mim mesmo, esse blog sempre funcionou perfeitamente como uma espécie de divã eletrônico).

Onde estou me metendo, afinal? – e acho que a pergunta nem é cabível.

Estou exercendo um direito que é meu e é inalienável: o de me informar, e a Rede Globo de Televisão, o jornal O Globo, toda e qualquer empresa desse cogumelo de poder, desde que foi criada (com o mesmo dinheiro americano que financiou a ditadura militar no Brasil, mantida e adulada pela Vênus Platinada), esmera-se dia e noite no extremo oposto: sonega (opa!) informação, distorce os fatos, mente, manipula, lobotomiza.

Quando conversei com o Kiko Nogueira, do DCM, contei a ele sobre meu brizolismo. Eu tinha 12, 13 anos de idade – pensem nisso, em 1981/1982! – e a figura de Leonel Brizola, desde a primeira vez que o vi, impactou-me de tal forma que eu ia, quase-escondido, à Cinelândia para ver seus comícios, para estar perto da Brizolândia, espaço sagrado para eleitores e simpatizantes do velho caudilho, ao lado da Câmara dos Vereadores. E eu ia escondido porque, além de ser um pirralho, em casa meus avós, minha bisavó, meus pais – até – não tinham lá simpatia pelo homem a quem chamavam, freqüentemente, de “agitador”. Pois eu gostava era daquele agito!

Lembro-me, ainda moleque, de ouvir o Brizola dizer num comício: “Quando vocês tiverem dúvidas quanto a que posição tomar diante de qualquer situação, atentem… Se a Rede Globo for a favor, somos contra. Se for contra, somos a favor!”.

Vi Brizola passar como um trator por cima de seus adversários na eleição de 1982 para o Governo do Estado do Rio de Janeiro, quando ele era considerado “candidato sem chances do PDT ao Palácio Guanabara” - leiam aqui Veja contra Brizola em 1982, interessante pesquisa sobre a maneira como a imprensa tratava (e como sempre tratou!) o maior dos homens públicos brasileiros. E quando venceu, veio à tona um golpe sórdido, descoberto a tempo, engendrado pela Rede Globo, que tentava roubar votos de Brizola para tirar de suas mãos a vitória consagradora e acachapante.

Acompanhava, extasiado – e mais à frente pude ver como não era mero deslumbre -, sua atuação como Governador do Rio de Janeiro: cercado dos melhores homens, Brizola revolucionou a relação da polícia com a população pobre, marginalizada, das favelas. De seu absoluto e irrestrito respeito aos Direitos Humanos e às garantias fundamentais – “se a polícia não dá botinada na porta de cobertura na Vieira Souto, não será em porta de barraco que vai dar” – é que nasceu a sórdida mentira, adulada pela Rede Globo, de que Brizola era conivente com o crime organizado. Seu projeto educacional, os CIEPs, que seriam depois destruídos por Moreira Franco, foi mais uma de suas obras que para sempre ficarão na memória do povo do Rio de Janeiro. Nilo Batista, Darcy Ribeiro, Abdias do Nascimento, Oscar Niemeyer, alguns dos nomes que compunham a linha de frente de seu governo. E isso diz tudo.

Ingressei na faculdade de Direito em 1987 e em 1989 fui um dos poucos alunos a fazer ferrenha campanha por sua eleição para Presidente da República – a esquerda, na PUC/RJ, se dividia entre Lula e Roberto Freire. Foi meu primeiro voto em Leonel Brizola!

Tornei a vê-lo Governador do Rio de Janeiro em 1991, tendo vencido as eleições em 1990 – e foi meu segundo voto em Leonel Brizola, em que votei outras tantas vezes.

Em 2000, deu-se o episódio que contei aqui, no texto Faz um 12, Brizola! – e foi a partir daí que conheci, pessoalmente, o velho Leonel.

Nunca – nunca! – me esquecerei de nossa primeira (de muitas) conversa pessoalmente, na sede do PDT, na rua Sete de Setembro, no Centro.

Brizola queria porque queria que eu me filiasse ao PDT. Repetiu, algumas vezes:“Te filia ao PDT, eu abono tua ficha!”, e ficava repetindo – e eu admiradíssimo, diante dele – que era preciso que alguém com tamanha coragem ingressasse na vida pública. Porque ele achou admirável (usou mesmo essa palavra!) o que eu fiz, ao vivo, na Rede Globo. Hoje, confesso, me arrependo tremendamente: não porque eu fosse seguir carreira na política, mas porque eu teria, ao menos, essa relíquia, a ficha de filiação abonada por ele.

Em 2004, a morte levou Brizola – jamais seus ideais.

E eu quero lhes fazer uma última confissão: muitas vezes, em muitas ocasiões, em comícios, em rápidas aparições na sede do PDT, em caminhadas durante as campanhas, cantei junto com Brizola – e com o povo! – o hino que ele mais gostava…

“Brava gente brasileira!
Longe vá… temor servil:
Ou ficar a pátria livre
Ou morrer pelo Brasil.”

Em quase todas as vezes – como no dia de seu comovente velório, no Palácio Guanabara – chorei quieto vendo aquele homem, um brasileiro maiúsculo, honrado, vilipendiado a vida inteira pela Rede Globo, cantando esses versos com brilhos nos olhos, com gana, com um amor pelo Brasil que não vi, nunca mais, nos olhos de nenhum de nossos homens públicos.

Pois quando eu disse ao Kiko Nogueira, já no final do nosso papo, que eu não quero mudar o mundo, que eu só quero fazer um barulhinho, foi por conta dessas constatações que a gente vai acumulando com o tempo: eu queria muito mudar o mundo, mas sozinho não posso; eu quero viver minha vida sem grandes ambições, a mesma vida “simples e digna que todos os trabalhadores brasileiros deveriam ter”, como disse meu irmão e meu compadre, Luiz Antonio Simas,aqui; mas sempre que puder – como foi agora, nesse caso – vou fazer das minhas, lutando contra o dragão, para honrar tudo aquilo que aprendi com ele, Leonel de Moura Brizola.

Se eu tenho medo?, outra pergunta que o Kiko me fez. Não.

Tudo o que sempre fiz (pouco, perto do que eu gostaria) e que sempre farei para expôr as vísceras podres desse império que destrói o Brasil desde 26 de abril de 1965, será sempre dentro da legalidade – outra lição que tomei com Brizola.

Por mim, meu último registro a seu lado – e nesse dia, na casa do Martinho da Vila, cantamos o Hino da Independência, pouco depois de Brizola – o próprio! – cantar, sozinho, acompanhado pelos músicos que lá estavam, Felicidade, de Lupicínio Rodrigues. Uma noite de não se esquecer.



Até.

Nenhum comentário: