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quinta-feira, 5 de junho de 2014

O Conceito de Natureza Não é Natural

Por Carlos Walter Porto Gonçalves,*

É comum entre aqueles que se envolvem com a problemática ecológica citar outras sociedades como modelos de relação entre os homens e a natureza. As comunidades indígenas e as sociedades orientais são, via de regra, evocadas como modelos de uma relação harmônica com a natureza. Se em diferentes religiões o paraíso é projetado no reino dos céus, para diversas ecológicas este se localiza em outras sociedades. Há uma virtude nesse procedimento: ele oferece um consolo, enquanto ideia, para o mundo em que vivemos – que concretamente não tem consolo. Isto não deixa de ser, à sua moda, uma critica à sociedade que não é tal e qual os modelos citados, daí as utopias. Nesse sentido, as utopias têm um lugar concreto no mundo onde não existem concretamente, sendo por isso sonhadas e projetadas enquanto utopias. Por outro lado, esse procedimento não deixa de ser também uma fuga dos problemas concretos, muitas vezes derivada de uma incompreensão das razões pelas quais em nossa sociedade e cultura as coisas são do jeito que são.

Toda sociedade, toda cultura cria, inventa, institui uma determinada ideia do que seja a natureza. Nesse sentido, o conceito de natureza não é natural, sendo na verdade criado e instituído pelos homens. Constitui um dos pilares através do qual os homens erguem as suas relações sociais, sua produção material e espiritual, enfim a sua cultura.

Dessa forma é fundamental que reflitamos e analisemos como foi e como é concebida a natureza na nossa sociedade, o que tem servido como um dos suportes para o modo como produzimos e vivemos, que tantos problemas nos tem causado e contra o qual constituímos o movimento ecológico.

*em "Os (des)caminhos do meio ambiente" - Editora Contexto pág 23 e 24


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