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segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Para hoje, amanhã e depois

Por Iana Soares

Observar o espreguiçar de uma borboleta (ou de uma lagarta). Desenhar um calendário no qual, em vez de dias, marque frutas. Acompanhar o caminho de uma gota sobre a pele, enquanto esta se arrepia. Plantar árvores para colher sombras. Saber diferenciar um flamboyant de um ipê e um ipê de uma acácia. Aprender nomes de plantas como se sabe os dos amigos.

Colecionar sorrisos desconhecidos. Estudar para me descobrir e lá encontrar o mundo. Fazer mais bolhas de sabão do que edifícios de cimento. Ter flores na varanda para que venham os pásssaros. Enviar cartas com perfume e postais com carimbos. Olhar o mundo para me encontrar, meio Wally. Revelar fotos e dar de presente com recados no verso.

Ter mais esperança do que medo. Aprender com o medo e a raiva. Inventar um movimento novo, sempre que me sentir paralisada. Abraçar quem acha esperança uma besteira. Apreciar as ilusões não para enganar-se, e sim para encantar o mundo. Usar o dia como matéria-prima. Em um segundo, experimentar mil revoluções. Em um passo, uma vida inteira. Não ter pressa, nem preguiça. Apreciar as “horinhas de descuido”. Fazer arte de artista, mas principalmente de menina danada que faz arte.

Fotografar o tempo que escorre. Deixar o tempo ir embora em mais uma imagem. Reciclar qualquer mágoa. Nadar no inverno para que o corpo se mantenha tropical. Aprender com o outro e a vida que inventou para si. Contar boas notícias. Não acreditar que é normal cortar árvore para dar espaço ao asfalto. Indignar-se com as tragédias cotidianas. Espalhar que nenhuma vida vale mais do que outra e que uma vida vale muito, e isso não se mede em dinheiro.

Não beber coca-cola. Estar perto das minhas fofurinhas, da minha mãe e do meu pai para amá-los, mesmo quando longe. Ter um barco imaginado em que caibam os amigos dos dois lados do Atlântico. Lembrar que “apesar de tudo existe uma fonte de água pura e quem beber daquela água não terá mais amargura”. Procurá-la e compartilhar as coordenadas. Olhar nos olhos de quem passa. Rasgar todas as listas que não sejam feitas de liberdade, amor e sentimentos de mundo. Para que, no final, possa dizer do 2015 que tive: “que não seja imortal, posto que é chama. Mas que seja infinito enquanto dure”?

http://www.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2015/01/05/noticiasjornalopiniao,3371751/para-hoje-amanha-e-depois.shtml

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