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quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Não se aprende para saber...

Artigo do Jornalista Gervásio de Paula no Diário do Nordeste de 11 de Agosto de 2010

Não se aprende para saber...

Como a pauta diária da mídia brasileira atual é entrevistar candidatos, em particular aqueles que almejam ser eleitos para os cargos executivos - saber de suas linhas programáticas, de seus planos sócio-econômicos para aquilo que propõem - relembro aqui do grande municipalista brasileiro, saudoso jornalista, sociólogo e educador Américo Barreira, alguns tópicos fundamentais e atuais para a vivência eleitoral, sobre a Educação de que tanto se fala.

Partindo-se do blá-blá-blá dos mais diversos candidatos, sobre o que pretendem fazer nas áreas de Educação, Saúde e Segurança, se forem eleitos, o professor Américo Barreira dizia - onde estivesse, para quem quisesse ouvir - que "a Educação reflete o sistema a que serve". "É feita para sustentá-lo. Porquanto, aquele que desejar saber como vai a Educação no Brasil precisa conhecer antes a situação do regime, do sistema político-administrativo".

Segundo ele, na medida em que ela mina, elevando o nível de consciência política do povo, desarticula o regime. Passa a não existir o pseudo projeto oficioso da Educação. "Se existe plano é de não Educação, da não intromissão da Educação nos rumos do sistema, que é conservador, reacionário, ao qual a verdadeira Educação não pode servir", assinalou.

Para o municipalista, o que se faz, por exemplo, com a universidade, é desmoralizá-la, transformando-a numa ponte para algum ensino privado de péssima qualidade. No ensino médio, o que se criou de "inovação", por um período, foi o cursinho, uma espécie de supermercado da Educação Média no Brasil.

Para o educador Américo Barreira, a inexistência de mercado de trabalho para absorver a juventude era uma grande preocupação do socialismo. "Uma jovem sai com um diploma do curso médio e é obrigada a passar dois anos num cursinho para poder ter acesso à universidade. Lá, passa cinco ou seis anos, sai doutora e vai ter que ser motorista de táxi, balconista de supermercado ou outra casa comercial, para viver.

Viver não. Escapar. Porque o conceito de viver é viver decentemente, com salário digno, capaz de suprir suas necessidades fundamentais. É uma situação para não criar expectativa de mudança na sociedade", tonifica Américo Barreira.

Américo conhecia muito bem a realidade da criança do Interior e de alguns bairros da periferia dos grandes centros urbanos, que só vão à escola para matar a fome com a merenda escolar. Tentava transformar o ensino público, que sempre esteve dissociado da realidade e "altamente seletivo". A maioria dos jovens da zona rural não chega à 8ª série, não lhe ensinam nada sobre a sua realidade, sequer o ajudam a perceber como vive mal, que para viver melhor é preciso mudar muita coisa, a começar pelo processo obsoleto de produção. Se uma professora do interior disser que é preciso dar terra a quem não tem, certamente perderá o emprego. É um sistema tão arcaico como o sistema dominante.

O visionário Américo Barreira falava, nos idos de 1984, que "no Brasil de hoje o que domina é o interesse multinacional. Qualquer dia desses teremos a multinacional da medicina, a multinacional do remédio, a multinacional da previdência social e por aí vai", preconizou. "Tem-se de mudar o sistema vigente. O povo brasileiro terá de fazê-lo. E não é negócio de homem, de salvador", esclarecia. Pode até trazer Jesus Cristo para "resolver" e ele vai ser crucificado outra vez. A função da escola é, sem dúvida, preparar para a vida. Mas subentende-se uma vida melhor, com perspectivas mais amplas. Não se aprende para saber. Aprende-se para fazer".

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