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domingo, 4 de dezembro de 2011

‘Morre a lenda’ - Sócrates 1954 - 2011

“Para Sócrates, a bola foi um adorno aos livros na sua infância, incentivado pelo pai – admirador de filósofos gregos – para que exercesse uma profissão digna. Sempre lhe atraiu a medicina, mas seu talento não estava nas mãos e sim nos pequenos pés, tamanho 37, estranho para alguém com 1,90 de altura”.

É assim que o diário espanhol El País lembra-se de Sócrates Brasileiro Sampaio de Sousa Vieira de Oliveira, o Doutor ou Magrão, na página inicial de seu site. O ex-jogador de futebol e colunista de CartaCapital faleceu às 4h30 da madrugada deste domingo 4, aos 57 anos, vítima de uma infecção generalizada no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.

Irmão mais velho do também ex-jogador de futebol Raí, Sócrates estava internado desde quinta-feira 1 devido a uma infecção intestinal causada por uma bactéria. Ontem, o ex-atleta respirava com a ajuda de aparelhos e fazia tratamento diálico na UTI. Seu estado era considerado grave, mas estável. O ex-atleta deixa esposa e seis filhos.

Essa foi a terceira internação de Sócrates nos últimos quatro meses. Em setembro, ele passou 17 dias hospitalizado por um sangramento gástrico, complicação de uma cirrose, e mais nove dias pelo mesmo problema em agosto.

Em seu blog, o jornalista Juca Kfouri, amigo de Magrão, aponta que o médico chefe da equipe do ex-jogador, Dr. Ben-Hur, diz não ser possível determinar com certeza se a bactéria responsável pela morte de Sócrates veio de um almoço em um hotel de São Paulo, após o qual o ex-jogador passou mal e foi internado.

Pela manhã, Kfouri postou em seu blog uma homenagem ao amigo: apenas uma foto de Sócrates vestindo a camisa da seleção brasileira e a data de seu nascimento e morte (1954-2011). Outro colega do Doutor, Vitor Birner também usou o seu blog para comentar o ocorrido. “O mundo fica menos bondoso, construtivo e inteligente. Sentirei falta do amigo carinhoso, verdadeiro, divertidíssimo e muito especial”, disse.

Em seu site oficial, o Corinthians, clube pelo qual o ex-jogador teve maior destaque, lamenta a morte de Sócrates na véspera do jogo contra o Palmeiras neste domingo 4, partida que pode dar o título de campeão brasileiro de 2011 ao clube. Na curta mensagem, o time se despede do ex-atleta e agradece “pela honra de ter visto um dos maiores jogadores da história do futebol vestindo o manto alvinegro por tantos jogos”.

Da imprensa internacional, o craque ganhou elogios. “Morre a lenda” e “um dos maiores jogadores da seleção brasileira e um dos melhores meiocampistas da história”, diz o site da rede britânica de televisão e rádio BBC. O esportivo espanhol Marca destaca que o ex-atleta “entrou para a história por sua qualidade e finura, apoiado em seu pequeno pé”.

No El País, Sócrates é apontado como o “democrata do futebol”, em referência a sua filosofia de vida em campo e fora dele. O jornal ainda traz uma das falas mais marcantes do Doutor, uma delas após a histórica derrota da seleção brasileira para a Itália nas quartas-de-final da Copa do Mundo de 1982, quando aquele time era considerado o melhor do mundo. “É um azar, pior para o futebol”, afirmou o craque, autor de 22 gols com a camisa amarela. Mais recentemente disse: “Não se deve jogar para vencer e sim para não ser esquecido.”

Carreira e alcoolismo

Após as internações em agosto e setembro, Sócrates falou abertamente sobre seu vício em álcool, que levou as complicações de sua hospitalização. Com o fígado comprometido, disse em entrevista a Kfouri, colunista da Folha de São Paulo, que talvez não precisasse de um transplante. Aproveitou a ocasião para declarar também que pretendia trabalhar na conscientização das pessoas em torno do transplante de fígado.

Dono de um toque refinado, Sócrates conquistou os gramados com sua inteligência e habilidade, além do famoso toque de calcanhar. Começou a carreira no anos 70 no Botafogo de Ribeirão Preto, time do interior de São Paulo, na época uma equipe de médio porte no País.

Em 1978, foi contratado pelo Corinthians, onde virou ídolo e ganhou os apelidos de Doutor, por dividir o tempo nos gramados com a faculdade de medicina, e Magrão, devido ao seu porte físico. No clube, comandou o movimento
“Democracia Corintiana”, que permitiu aos jogadores participar de decisões internas do clube, entre elas os termos das concentrações pré-jogos.

Em copas do mundo não teve muita sorte e nunca passou das quartas-de-final. Em 1982, parou na Itália e quatro anos depois esbarrou na França, nos pênaltis.

No exterior, o Doutor passou pela Fiorentina de 1984 a 1985, mesmo ano em que voltou para o Brasil, contratado pelo Flamengo. Ficou no time carioca até 1987 para no ano seguinte se transferir para o Santos.

http://www.cartacapital.com.br/sociedade/morre-a-lenda/

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