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quarta-feira, 22 de abril de 2015

Manifestar é preciso, mas não é exato

Por Américo Souza


Em 1984 ocorreram, nos meses de março e abril, diversas manifestações em favor da eleição direta para presidente da República. Passados 31 anos, nos deparamos com novas manifestações, desta vez contra a atual presidente, eleita pelo voto direto.
Vários expressivos pensadores assumem a defesa da livre manifestação de ideias, independentemente dos temas que abordem. Noam Chomsky, linguista e filósofo estadunidense, conhecido por suas posições de esquerda, enfrenta com galhardia posições conservadoras em seu país e afirma que todos devem ter garantido o direito de se expressar. O mesmo dizia Paulo Freire, agente importante das “Diretas Já”, cujas ideias estranhamente parecem incomodar os manifestantes de hoje.
Em tempos assim, a grande questão que fica é relativa aos fundamentos do nosso pensar. Se por um lado a livre manifestação de ideais parece algo dado, por outro –indicam os teóricos da Escola de Frankfurt – importa pesar a influência da indústria cultural na determinação dos modos de perceber a realidade.
Nem toda opinião está imune aos devaneios da consciência ingênua. E convenhamos, atualmente, não é fácil posicionar-se de maneira totalmente livre e consciente. Uma professora experiente, ensinou-me que “quando o passarinho está mudando de pena, não canta”. Ou seja, devemos evitar emitir opiniões apressadas, para evitar o risco de graves enganos de interpretação. Há momentos para tudo, inclusive para calar.
Nem todos que se manifestam “livremente” o fazem exatamente com liberdade, já que a liberdade é o pleno domínio sobre nossas ideias e ações. Existem poucos, como foi Freire e como é Chomsky, cujo pensamento ingovernável estará sempre exposto, sem temores, diante dos outros pensamentos, mediocremente teleguiados por quem pauta de fato as manchetes que tão vorazmente consumimos. O exemplo que nos fica desses dois pensadores é fazer um esforço para que a mediocridade não nos consuma e, assim, possamos agir com e pela liberdade.

Américo Souza é historiador e professor da Unilab. Este artigo foi publicado originalmente na seção de Opinião do jornal O POVO. 

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