O Carnaval em Fortaleza sempre foi uma festa popular, porém, nas últimas décadas, ficou reduzido a um desfile de heroicos blocos, escolas de samba, e maracatus. No interior do Estado, as características dos carnavais são os mela-mela, trios elétricos de música baiana e forró eletrônico. Tem também o “carnaval fora de época”, um empreendimento comercial que durante vários anos se utilizou do espaço público e fez grande sucesso e “fortunas”.
Paralelamente o Pré-Carnaval fazia sua festa. Os blocos organizavam e resgatavam a folia antiga, saindo às ruas. Sem fins lucrativos, contavam apenas com o apoio dos brincantes. Seus representantes históricos, os blocos “Que merda é essa”, “Periquito da Madame”, “ O cheiro” estão nas ruas espalhando a folia há mais de 15 anos. Vale lembrar o sucesso estrondoso do bloco “Quem é de Bem Fica” que levou durante vários anos para o bairro do Benfica, tradicional reduto da cultura, uma animação sem paralelo nos dias atuais.
Num arroubo podemos dizer que Fortaleza tem o maior Pré-Carnaval do Brasil. Estende-se do primeiro sábado após o Réveillon até o domingo anterior ao Carnaval. É um evento que já faz parte do calendário da cidade. Hoje são mais de 100 blocos (50 são apoiados pelo edital de fomento da Secultfor) saindo, concentrando, desfilando em todos os bairros de Fortaleza. Do Papicu à Barra do Ceará, da Praia de Iracema ao Benfica, do Centro ao José Walter. Temos folia para todos os gostos. Opção é o que não falta.
É uma festa popular, democrática, pública, que leva folia e animação gratuita para todas as idades e classes sociais. Qualquer pessoa pode participar, fazer parte, se integrar. Não existem cordas e muito menos “pipocas” na grande maioria dos blocos. Eles estão espalhados no tempo e no espaço, durante seis a oito fins de semana de janeiro e fevereiro.
A diversidade musical vai de marchinhas, sambas, frevos, marcha-rancho, sambas de enredo, o que sugere que nossa “tradição” seja ser permeável a outras “culturas”. Mas, ao mesmo tempo, nossa irreverência está bem representada pela “Mundiça alegre”.
No plano econômico, o Pré-Carnaval gera uma demanda para músicos, notadamente de metais. Esta demanda está sendo suprida por músicos de bandas dos municípios vizinhos. Seria importante um programa de formação de músicos de sopro para Fortaleza. Temos também as escolas de ritmistas que funcionam ao longo do ano e que atendem aos blocos que têm a bateria como ponto forte. A geração de renda é também democratizada. São inúmeros os bares e ambulantes que reforçam sua renda no período.
Um evento deste porte não pode ser visto como um problema para a cidade, mas sim como uma oportunidade. É fundamental uma articulação municipal e estadual de forma a garantir o bom ordenamento urbano e a segurança pública. Aliás, não custa lembrar que o “Quem é de Bem Fica”, ainda no século passado, acabou por causa dos paredões de som após a apresentação dos blocos e nenhuma ação governamental.
Marcus Vinícius de Oliveira
Coordenador do bloco Concentra mas não sai
http://www.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2011/01/25/noticiaopiniaojornal,2093920/uma-oportunidade-para-fortaleza.shtml
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