Quem sou eu

Minha foto
Agrônomo, com interesses em música e política

sábado, 16 de abril de 2011

Adauto, Cid e o desembargador


Por Demitri Túlio



Memórias são águas nunca passadas. E amanheci encafifado com o poder de Adauto Bezerra




Do atencioso coronel do Exército Bayma Kerth, já na reserva, recebi há alguns anos um envelope grande e uma cartinha datilografada. Ontem, sexta-feira chuvosa, o farnesim me tentou e voltei a escarafunchar o dote. Diz assim a missiva:

“Prezado jornalista Demitri, conforme combinado, estou remetendo cópias de alguns documentos do SEI (Serviço Estadual de Informação) que tinha em meu poder. Alguns até originais, porque talvez interesse a um jornalista político possuir cartões e até envelopes subscritos por Virgílio Távora. Dentre outros documentos, destaco o meu discurso de passagem do cargo ao final do mandato. De forma sumária dá ideia das atividades do SEI. Há ainda, um informe político completo sobre a análise feita pelo SEI a respeito da sucessão de 1982. Neste particular, confirmo o que lhe disse pelo telefone. Que o acordo que indicou o governador Gonzaga Mota foi firmado em reunião sigilosa realizada na minha residência, à rua Eduardo Sabóia, 84, Papicu, entre Virgílio, Adauto e um representante do Serviço Nacional de Informações (SNI).É a primeira vez que trato deste assunto. Porque não mais se justifica a manutenção do sigilo, considerado importante na ocasião. No mais, vai um retrato tirado no SEI e outros escritos que, talvez, também possam interessar. Obrigado pela atenção e um abraço.”

E por quais moinhos d´águas, resolvi remexer no que estava enfurnado? Porque memórias são águas nunca passadas. E amanheci encafifado com o poder de Adauto Bezerra, já vascolejado de forças do atraso pelos Ferreira Gomes e Jereissati. Um coronel sobrevivente da Ditadura, que eu diria, nunca perdeu a majestade e é um exímio semeador de pé de “cá te espera”. E arriscaria ainda, um Nostradamus na atual política cearense.

Nos bastidores da entrevista que concedeu para as Páginas Azuis do O POVO, em outubro do ano passado, Adauto brincando comigo e o repórter Cláudio Ribeiro, descobriu que eu e o “promotor” Teodoro da Silva Santos havíamos sido sargento da Polícia.

Corrigiu-me sorrindo de orelha a orelha: “promotor não, Procurador”. E foi além. Na despedida da boa prosa que se esticava até o elevador de seu gabinete no BIC Banco, ainda preservado no Centro de Fortaleza, profetizou: “Anote aí, Teodoro vai ser desembargador no próximo ano”. Desembargador? “Sim, desembargador!”.

E para surpresa mediúnica, o Ferreira Cid Gomes indicou Teodoro para o Tribunal de Justiça do Ceará. Profético, Adauto! Volto aos documentos que o coronel Bayma Kerth me confiou. Num relatório secreto do SEI, há um perfil encomendado dos dois coronéis que disputavam poder com Virgílio Távora: César Cals e Adauto.

Pena que o espaço já se faz miúdo. Mas em um parágrafo, resumo este rififi inocente sobre Adauto Bezerra pelos olhos dos espiões do SEI. Em 29 de agosto de 1980 rabiscaram: “Possui muita experiência política, sendo frio e persistente para a conquista de seus objetivos. É muito discreto, dificilmente deixando transparecer as suas ideias e sua posição, face a um acontecimento futuro de seu interesse”.

Um comentário:

Anônimo disse...

UM OLHAR DE NEÓFITO

A nomeação do novo desembargador para última vaga do quinto constitucional levou muitos estudantes de Direito, principalmente os formandos a pensar sobre a necessidade de se compreender melhor o binômio Poder e política na configuração da justiça.
Tal entendimento figurou como um grande desafio, pois temos a impressão que as regras são aplicadas de forma diametralmente oposta ao que está determinado pela lei. E assim, emerge uma reflexão sobre a efetivação da justiça embasada no plano político.
Seria talvez, necessário conhecer com maior acuidade como se constitui a harmonia necessária entre o chefe do Executivo e o poder judiciário, pois com a escolha do novo desembargador, os estudantes de Direito e também os demais cidadãos ficaram curiosos se perguntando por que o terceiro lugar da lista tríplice foi o escolhido em detrimento do primeiro ou segundo lugar.
A princípio se lança um olhar de neófito no mundo da política e do poder na relação com o judiciário, pois se tem a impressão que todo o processo realizado para que se tenha uma lista composta com primeiro segundo e terceiro lugar, não tem significação fática para a escolha.
E sendo assim, talvez seja preciso se lançar um olhar caleidoscópico capaz de captar as imagens do cenário político que constituem a realidade daquilo que repousa no horizonte da justiça.