domingo, 17 de abril de 2011
O que eles e elas pensam sobre Fortaleza
"Com a mudança de escala da cidade é normal que ela crie "novos centros". Mas essa 'policentralidade' precisa criar uma série de medidas para controlar o esvaziamento do velho centro. Cada dispersor é mais um golpe no centro. Daí acontece a queda dos valores imobiliários, que promove grandiosas oportunidades para o comércio popular. Esses comerciantes podem ser peças importantes no processo de reabilitação urbana, mas eles têm temores que mudanças alterem os resultados do comércio. Por isso, é preciso um projeto vigoroso que promova a passagem gradativa para uma nova situação. Essa situação demanda a inserção de catalisadores de novos desenvolvimentos econômicos que, por sua vez, precisam de conveniências tais como morar perto para trabalhar, lanchonetes, colégios. Não rigorosamente no núcleo central, mas a sua periferia em um raio pedestre podia ser redesenhada para instalar oportunidades organizadas de vida. Seria o planejamento de um anel comunitário em torno do centro." Fausto Nilo – arquiteto e urbanista, vice-presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil no Ceará (IAB-CE).
"O uso inadequado das áreas de preservação permanentes (APP) constituídas principalmente pelas margens de rios, lagoas e mangues têm sido ocupadas por construções diversas, dentre as quais moradias precárias, causando permanentes situação de risco como enchentes e proliferação de doenças. Recuperar essas áreas ambientalmente mais sensíveis e proporcionar moradias em áreas adequadas constitui-se em um dos grandes desafios da sociedade fortalezense e de seus dirigentes. O governo federal disponibiliza recursos por meio do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social e outras fontes. Somente ações municipais de planejamento urbano permanentes e apoiadas em projetos de arquitetura e urbanismo ambientalmente sustentáveis poderão recuperar essas áreas e moradias precárias." Odilo Almeida Filho - Presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil do Ceará (IAB-CE)
"A implantação da proposta de requalificação da Praia de Iracema se transformou em mais uma obra interminável da atual gestão municipal de Fortaleza. O projeto não indica nenhuma proposição de integração entre o novo desenho e a situação existente na Ponte Metálica, que está a precisar, urgentemente, de um roteiro de ordenamento, definição e usos e ocupação. A proposta destina todo o leito da avenida Almirante Tamandaré para estacionamento de veículos, no que deveria ser um imenso boulevard interligando equipamentos culturais. Outra “ausência assustadora” é a não existência de arborização urbana prevista em toda a orla em requalificação desde a Praia do Ideal até a Praia de Iracema e o Poço da Draga". José Sales Costa Filho - professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFC (Universidade Federal do Ceará).
"Nas últimas três décadas, a paisagem natural da orla marítima da Praia do Futuro foi transformada com a construção de barracas que funcionam como equipamentos de lazer e entretenimento. Esta ocupação está consolidada e, em sã consciência, é difícil acreditar na viabilidade de uma proposta de demolição das barracas com o objetivo da Praia do Futuro ficar parecida ao que era. A ideia de uma Praia do Futuro sem barracas não resiste à realidade socioeconômica e cultural de Fortaleza. O ideal seria adotar medidas como a imediata demolição das barracas abandonadas, seguida da urbanização das áreas em que estavam construídas por meio da implantação de equipamentos públicos que melhorem a segurança e o conforto dos usuários." Joaquim Cartaxo – arquiteto e urbanista, mestre em Planejamento Urbano e Regional.
"A insegurança é reforçada pelo ciclo vicioso da violência que gera medo e desfaz os laços sociais. Com isso os fortalezenses se cercam de proteções individuais como muros altos, segurança privada e abandonam o convívio social, o que gera mais sensação de insegurança. Um caminho seria incentivar, por meio de campanhas educativas, a preservação e ocupação de praças, logradouros e áreas públicas de lazer. Isso melhoraria diretamente a sensação de segurança." César Barreira – sociólogo e coordenador do Laboratório de Estudos da Violência. (LEV) da UFC.
"Com 25 mil habitantes, Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHm) de 0,386 e 90% da população beneficiada pelo Bolsa Família, o bairro Serviluz é um exemplo de assentamentos precários, que não são problema exclusivo da periferia. Investimento em vias de acesso, espaços públicos de lazer e oferta de serviços básicos, acompanhados da construção de novas unidades habitacionais podem amenizar a situação de desconforto da população local. Para isso, é preciso ter vontade política para enfrentar a questão como prioridade." Amando Costa – arquiteto e urbanista, professor da Universidade de Fortaleza.
"A população fortalezense sofre com o trânsito caótico. A frota da capital ultrapassa 700 mil veículos, de acordo com o Departamento Estadual de Trânsito (Detran). Alargar vias e construir novos corredores de trânsito são medidas paliativas. Para melhorar a mobilidade urbana e inverter a tendência de preferência pelo transporte particular é preciso priorizar o transporte público. Quando a população passa a ver uma oferta interessante de serviços, conforto e segurança, começa a deixar o seu carro em casa." Carla Camila Girão Albuquerque - arquiteta e urbanista, mestre em Desenvolvimento Urbano e professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Fortaleza.
"A cidade de Fortaleza, conhecida como Terra do Sol, vem perdendo paulatinamente seu verde e se tornando um local insólito, com calçadas e canteiros desnudos, praças e parques com arborização descuidada e, em alguns casos, até inexistente. É sensível a todos os seus cidadãos, bem como aos visitantes, a crescente sensação de calor e aridez em seus espaços livres. Seria um grande presente à cidade e seus usuários a implantação de uma arborização adequada e eficiente, tratada e mantida dignamente ao longo do tempo, fornecendo ar fresco a todos e animando a paisagem com cores, formas, texturas e aromas, abrigando e fornecendo alimento à fauna, contribuindo com o solo e a drenagem. Só então teríamos uma Fortaleza de clima ameno." Fernanda Rocha - arquiteta e urbanista, especialista em Paisagismo e em Arquitetura Paisagística e professora da Universidade de Fortaleza.
Fonte: http://migre.me/4gz1P
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Muito bom. É um apanhado bem legal dos principais problemas da nossa cidade, e que se encarados de frente, podemos melhorar Fortaleza absurdamente.
Postar um comentário