Por Magela Lima
Tem gente que a gente faz um esforço danado para gostar. Em compensação, tem gente que a gente gosta de graça e, se preciso for, até põe a mão no bolso para garantir a amizade. Dona Mocinha era uma dessas. Mais que a dama do samba, mais que a dona do bar, era ela uma alma boa. Quanta besteira eu falei para lhe arrancar gargalhadas ao pé do seu balcão! Quanta sabedoria e exemplo de vida ela me deu em troca!
Sob as vistas de Dona Mocinha, tomei meus primeiros porres históricos. Sob as vistas de Dona Mocinha, fortaleci amizades que pretendo carregar até o meu samba acabar. Sob as vistas de Dona Mocinha, conheci uma Fortaleza absolutamente fascinante e escondida do cotidiano comum da cidade. Dona Mocinha era uma aula de como é possível viver e se reinventar diante da vida. Sofrer, ela sofreu muito. A vida lhe tirou o maior dos amores, e ela ainda sorria.
Como uma rainha, sem necessariamente sair do castelo, ela sabia tudo o que se passava no seu reino. E como era generosa! Olhava os rapazes com seus companheiros de sempre e as moças com seus companheiros de uma noite só sem preconceito algum. Nunca negou seu ouvido, muito menos o ombro amigo, a um coração sofrido. Reconhecia cada um de seus súditos e, mesmo quando já lhe faltava as forças, erguia-se do trono e não abria mão de um abraço acalorado.
Sim, Dona Mocinha vai fazer uma falta absurda. E como vai! Com ela por perto, era como brincar na rua com a avó na calçada: nada de errado aconteceria. Diante do inevitável, já que não se pode (ainda) parar o relógio da vida, o que resta é esperar que o legado deixado por ela não se perca. Dona Mocinha fez de Fortaleza, ou pelo menos da Fortaleza onde viveu, um lugar pleno de alegria, apesar dos pesares. Pois que seja assim: vá com Deus, Dona Mocinha, e deixe aqui a sua-nossa alegria.
http://www.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2011/04/18/noticiaopiniaojornal,2129062/ela-vigiava-a-nossa-alegria.shtml
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