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quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Pela primeira vez, a Prefeitura de Fortaleza formaliza com empresas privadas o patrocínio para realização do Pré-Carnaval. Com o apoio privado, o evento corre o risco de ser privatizado? O Sim.


SIM, por Américo Souza - Historiador, professor da Unilab e folião

O risco existe e preocupa. Como declarou o secretário de Cultura Magela Lima, “o Pré-Carnaval é uma festa com 30 anos de história”. História marcada por iniciativas descentralizadas e comunitárias num vigoroso e apaixonado esforço de reinvenção do Carnaval de rua. Blocos de destaque, como Concentra mas não sai, Cheiro e Unidos da Cachorra, se constituíram como agentes de uma festa popular, angariando foliões, recuperando a liberdade e a criatividade que compõem a alma do Carnaval brasileiro.

Forjado sob uma ideologia não comercial, pelo que sempre público e gratuito, o Pré cresceu e se consolidou. Nos últimos anos, a Prefeitura atuou para dar maior visibilidade e organização ao evento, assegurando a tradição popular e livre que o constituiu. Por isso é lamentável que, vitimados pelas divergências que pautaram a transição de gestão, não tenhamos hoje esta mesma segurança. Mais lamentável é que a solução apresentada implique vinculação com o capital privado, responsável pelo desmonte do espírito libertário de festas de gênese igualmente popular, como os carnavais do Rio e de Salvador.

Ao dar a uma empresa o direito de explorar comercialmente o Pré, transmuta-se a festa pública num evento de marca, impondo ao folião o consumo da propaganda, quiçá até do produto, cerceando seu direito de escolha. Preocupa, ainda, o modelo de repasse do apoio financeiro aos blocos, feito diretamente pelo patrocinador. Na ausência de um edital público que regule a relação, caberá à empresa estabelecer as contrapartidas para a liberação do recurso. Isto fragiliza os blocos, pondo em risco, por exemplo, a identidade de cada um. Ademais, a recusa da administração em divulgar o valor do investimento e seus instrumentos de controle inspira preocupação.

Alguns hão de considerar minha análise alarmista e têm razão em fazê-lo, pois a hora é mesmo de soar o alarme que nos ponha vigilantes ao risco de tornarem em mercadoria a festa do povo.

"Transmuta-se a festa pública num evento de marca impondo ao folião o consumo da propaganda"

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