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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

ZAZ - "Dans ma rue"



Dans ma rue (Edith Piaf/Jacques Datin)

J'habite un coin du vieux Montmartre
Mon père rentre soûl tous les soirs
Et pour nous nourrir tous les quatre
Ma pauvr' mére travaille au lavoir.
Moi j'suis malade, j'rêve à ma fenêtre
Je r'garde passer les gens d'ailleurs

Quand le jour vient à disparaître
Il y a des choses qui me font un peu peur

Dans ma rue il y a des gens qui s' promènent
J'les entends chuchoter dans la nuit
Quand je m'endors bercée par une rengaine
J'suis soudain réveillée par des cris
Des coups d'sifflet, des pas qui traînent, qui vont et viennent
Puis le silence qui me fait froid dans tout le coeur

Dans ma rue il y a des ombres qui s' promènent
Et je tremble et j'ai froid et j'ai peur
Mon père m'a dit un jour : "la fille,
Tu ne vas pas rester là sans fin
T'es bonn' à rien, ça c'est d'famille
Faudrait voir à gagner ton pain
Les hommes te trouvent plutôt jolie
Tu n'auras qu'à sortir le soir
Il y'a bien des femmes qui gagnent leur vie
En "s' balladant sur le trottoir"

Dans ma rue il y a des femmes qui s' promènent
J'les entends fredonner dans la nuit
Quand je m'endors bercée par une rengaine
J'suis soudain réveillée par des cris
Des coups d'sifflet, des pas qui traînent, qui vont et viennent
Puis le silence qui me fait froid dans tout le coeur

Dans ma rue il y a des femmes qui s' promènent
Et je tremble et j'ai froid et j'ai peur
Et depuis des semaines et des semaines
J'ai plus d' maison, j'ai plus d'argent
J' sais pas comment les autres s'y prennent
Mais j'ai pas pu trouver d' client
J'demande l'aumône aux gens qui passent
Un morceau d' pain, un peu d' chaleur
J'ai pourtant pas beaucoup d'audace
Maintenant c'est moi qui leur fait peur

Dans ma rue tous les soirs je m' promène
On m'entend sangloter dans la nuit
Quand le vent jette au ciel sa rengaine
Tout mon corps est glacé par la pluie
Mais je n' peux plus, j'attends sans cesse que le bon Dieu vienne
Pour m'inviter à me réchauffer tout près de Lui

Dans ma rue il y a des anges qui m'emmènent
Pour toujours mon cauchemar est fini

http://en.wikipedia.org/wiki/Zaz_(singer)

O livro leva ao ridículo a nossa burguesia arrivista

por Alfredo Bosi

"Cotia, 23 de fevereiro de 2012

Caro Mino Carta,

[Captatio benevolentiae pela demora destas linhas. Passado infelizmente um tempo turvado por longo pós-operatório, dispus daquelas horas de leitura, intervalo feliz entre os cuidados de que é feito o cotidiano. Foi só então que pude ler os originais do seu livro.]

Balanço de uma vida, diz o bilhete com que me chegou este retrato agônico da vida pública brasileira. Nascido em 1936, fui contemporâneo dos sucessos narrados. Mas, lido este Brasil, vejo pessoas e acontecimentos à luz de outro olhar. Mais intenso, quase ofuscante, não raro cruel. No começo da leitura pareceu-me que a ferinidade vinha de uma visada mais aguda e ácida que a do comum dos mortais. Mas não, não era só isso. Era a própria realidade que se revelava na sua crueza. Crueza cruel, com o perdão do pleonasmo. Retratar o nosso homo politicus é lidar com o nauseante: que galeria de patifes talvez superada apenas pela dos jornalistas! Aqui o narrador pôs o dedo na ferida, mas, em vez de sangue fresco, o que jorrou foi pus. Lembra, de longe, a fauna satirizada por Lima Barreto nas Recordações do Escrivão Isaías Caminha, mas tão deteriorada que desafia qualquer hipótese progressista em relação à história da nossa espécie.

Sempre desconfiei dos colunistas de nossos jornalões. Agora vejo estampada em negrito a sua venalidade, a completa expressão da covardia e do oportunismo. A exceção luminosa de Cláudio Abramo brilha, de raro em raro, servindo apenas para que o leitor entreveja o negrume da malta. Que figura organicamente lastimável esse Abukir (pouco importa se figura à clef, ou não), que atravessa o livro de ponta a ponta e só teve um momento fugaz de autoconsciência nas páginas finais! Aí o autor acertou em cheio dando a palavra, entre cínica e confessional, a esse títere do sistema trabalhado em terceira pessoa ao longo do texto. No final, as personagens, quase sempre meros tipos sociais, tem a oportunidade de se converterem em pessoas. Não todas, é bem verdade, pois o tipo é inerente ao gênero satírico da escrita. E qual o desígnio do seu texto? Levar ao ridículo a nossa burguesia arrivista e puni-la metodicamente, mas sem nenhuma esperança de corrigi-la. Já não daria mais para crer no ridendo castigat mores? Parece que não. Tudo ficou opaco, tudo mercadoria subindo ao primeiro plano, tudo status dentro de cada carreira profissional.

A caricatura expõe traços obsessivos. O narrador nunca deixa de pontuar o cafonismo kitsch colado ao granfinismo paulista e figurado pelo ponto de vista de um anarco-sindicalista aristocrático e renascentista chamado Mino Carta. Afinal, “nel mondo non c’è che volgo”, palavra de Maquiavel ajustada à semicultura dos políticos e jornalistas que não cessam de nos infelicitar. Farpas lançadas contra as veleidades gastronômicas e as indumentárias dos figurantes valem como portraits de uma classe sem classe.

No entanto, há clareiras neste carrascal. Quem diria que o enigmático Golbery conseguisse passar quase incólume pela malha apertada de um juiz invariavelmente democrático e progressista, que é o nosso narrador? Pois passa; é o olhar humanizado por uma longa experiência da fragilidade humana que o valia, e é capaz de compensar a triste astúcia do maquiador de golpes com a melancolia do jogador derrotado em um momento digno do seu destino. (Terei entendido bem?)

E há a figura imponente do chevalier sans peur et sans reproche, Raymundo Faoro. Não conheci o privilégio de tê-lo como confrade, mas a honra de tê-lo como eleitor. Um voto que ainda me surpreende e comove. E há os que ajudam a matizar o quadro sinistro: Ulysses, Montoro, Severo Gomes, mas são tão poucos… E a imagem de Lula, que apesar dos pesares, resiste galhardamente.

No tecido que remata o livro, sinto em Paulo alguém que me dá vontade de abraçar fraternalmente.

Mas é já tempo de reconhecer, ao longo de cada página, uma voz amarga, ainda que animosa. É a voz que fundou o Jornal da República, e que se desenha, em corpo inteiro, na tocante autobiografia do jornalista intimorato, homem digno de outro jornalista, que o gerou e instruiu.

Obrigado e o abraço amigo do

Alfredo Bosi"

http://www.cartacapital.com.br/cultura/o-livro-leva-ao-ridiculo-a-nossa-burguesia-arrivista/

Papa de maisena - Messias Holanda



Papa de maisena ( Messias Holanda e Guajará Cialdini)

Mariana tá querendo comer papa de maisena
Ela ta querendo ir lá na bar do seu Lucena

No seu Lucena o bar tá quase fechado
Ele é muito afobado, ele não vai atender
Parece até que to ouvindo ele gritar
Isto não é hora de pedir papa em bar

De pedir papa em bar
De pedir papa em bar
De pedir papa em bar
De pedir papa em bar

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Fidel Castro

Por Marcus  Vinicius

Líder cubano Fidel Castro comparece à sessão de abertura de Assembleia Nacional. No centro da foto, o Presidente cubano, Raúl Castro


TÊNIS MODELO “ESPLAR” LANÇADO NA FRANÇA

Por Pedro Jorge B. F. Lima


O Esplar recebeu importante homenagem da Veja Fair Trade: foi lançado à venda via internet um novo tênis modelo denominado ESPLAR! A Veja Fair Trade é uma empresa do comércio justo, fundada em 2004 em Paris que no início de 2005 lançou seu primeiro modelo de tênis, fabricado no Rio Grande do Sul usando lona de algodão agroecológico do Ceará, borracha natural da Amazônia e couro do Rio Grande do Sul.
O novo modelo “Esplar” utiliza algodão agroecológico do Ceará e borracha produzida por seringueiros do Acre. A homenagem é o reconhecimento pelos 9 anos de parceria que mantemos com aquela empresado comércio justo, que desde 2004 compra algodão agroecológico do Ceará, que tem origem nas nossas iniciativas de apoiar agricultores e agricultoras familiares nessa atividade.Por 10 safras seguidas que a ADEC, em Tauá vende a pluma de algodão orgânico para fabricação de fios com os quais é confeccionada a lona usada na fabricação de tênis e outros produtos como bolsas, mochilas, carteiras vendidos nos mercados europeu, asiático e norte americano.

Post card

Via Pedro Jorge B. F. Lima

O cartão postal de Ho Chi Minh foi comprado na Califórnia há anos por Pedro Jorge B. F. Lima e recém encontrado num caderno abandonado.
A foto é de Michael  Ochs. (http://en.wikipedia.org/wiki/Michael_Ochs)





domingo, 24 de fevereiro de 2013

Direto de Philly (5) - "O samba da minha terra"

Por Lucas Barros

Se você pensa que a Filadélfia é o túmulo do samba, está muito enganado. Melhor dizendo, não muuuito... digamos, um pouco enganado. Vero, entrar num boteco e topar com alguém cantarolando Paulinho da Viola será bem difícil – até porque aqui não tem boteco. Ainda assim, nosso samba tem ótimos representantes e simpatizantes na região – uma “comunidade” bacana composta principalmente por americanos apaixonados por música brasileira.

Esta turma compareceu no último sábado a uma animadíssima festa de carnaval (um pouquinho fora de época) numa casa de show. Até começar o batuque, assistimos teipes de desfiles cariocas no telão, com narração e legendas para sambas enredo, alas e carros alegóricos, tudo em inglês. Achei um barato, ainda mais depois da segunda caipirinha. A casa lotou, com muitos locais (especialmente negros), estrangeiros diversos e só um punhado de brasileiros (em parte porque na mesma hora rolou outra festa de carnaval, organizada pelos estudantes de Wharton).

Antes do show - samba enredo legendado

 Alô Brasil

Alô Brasil. Alex Shaw no berimbau

Depois do show. Saguão do World Cafe Live
 O som foi comandado pela banda Alô Brasil, formada por músicos da região (http://www.alobrasil.net/aboutalo.htm), com direito a dançarinos (brasileiros) e convidados. O ponto alto foi a participação de alunos de uma escola secundária de Nova Iorque (Frederick Douglass Academy, que fica no Harlem). A Samba Band virou uma febre na escola (me contaram que há mais de 300 batuqueiros por lá). A meninada sabe tocar e ainda canta samba enredo em português! (achei este vídeo deles de 2011 http://www.youtube.com/watch?v=JtPmwPWVNHw) Uma noite de música brasileira feita por gringos e para gringos – confira abaixo.

Faltou o carnaval de rua, é verdade. Mas, com 10 graus abaixo de zero lá fora, só sai o bloco do picolé. Vamos deixar pra próxima!

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Muito Além do Peso



Muito Além do Peso
(Way Beyond Weight)
84', cor, censura livre.

Obesidade, a maior epidemia infantil da história.

"Um filme obrigatório para qualquer pessoa que se importe com a saúde das nossas crianças" Jamie Oliver

Pela primeira vez na história da raça humana, crianças apresentam sintomas de doenças de adultos. Problemas de coração, respiração, depressão e diabetes tipo 2. Todos têm em sua base a obesidade.
O documentário discute por que 33% das crianças brasileiras pesam mais do que deviam. As respostas envolvem a indústria, o governo, os pais, as escolas e a publicidade. Com histórias reais e alarmantes, o filme promove uma discussão sobre a obesidade infantil no Brasil e no mundo.

Com: Jamie Oliver, Amit Goswami, Frei Betto, Ann Cooper, William Dietz, Walmir Coutinho, entre outros.
Direção: Estela Renner
Produção Executiva: Marcos Nisti
Direção de Produção: Juliana Borges
Fotografia: Renata Ursaia
Montagem: Jordana Berg
Projeto Gráfico: Birdo
Trilha Sonora: Luiz Macedo
Produção: Maria Farinha Filmes
Patrocínio: Instituto Alana

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Nassif X VEJA

Por Luis Nassif

O Tribunal de Justiça de São Paulo confirmou, agora de manhã, meu direito de resposta na revista Veja.

Quero agradecer o escritório Leonardi & Advogados, de jovens e brilhantes advogados, que reiteraram minha confiança na profissão. Em outras ações da Abril, fui abandonado pelo escritório Rodrigues Barbosa, Mac Dowell de Figueiredo, Gasparian, dos meus amigos Marco Antonio, Samuel e Thais.

A sentença não apagará os dissabores pelos quais passei, o sofrimento da minha família, o constrangimento de enfrentar acusações falsas disseminadas através de quase um milhão de exemplares pelo país.

Mas ficam dois frutos.

Primeiro, o fato de essa ação provocar a nova jurisprudência sobre direito de resposta - depois que os procedimentos foram vergonhosamente apagados da legislação pelo ex-Ministro Ayres Britto, do STF.

Segundo, minha convicção de dedicar toda minha energia para ajudar a fixar limites contra abusos da mídia. Fiz isso nos anos 90, em campanhas individuais reunidas no livro "O jornalismo dos anos 90". Vítima do que sempre denunciei, senti na pele o que sentiram milhares de pessoas, cuja reputação virou joguete nas mãos de uma mídia que há muito perdeu todos os filtros.

Por Fernanda Pascale

Caro Nassif,

Tenho a satisfação de comunicar que fomos vitoriosos no julgamento da apelação interposta pela Editora Abril contra a sentença que lhe assegurou o direito de resposta contra a Revista Veja, em relação à coluna escrita por Diogo Mainardi.

O advogado da Editora Abril, Dr. Jorge, e eu, Dra. Fernanda, fizemos sustentação oral.

Eu ressaltei para os Desembargadores os principais pontos do caso, reforçando o que já havia constado nos Memoriais apresentados no final da semana passada. Enfatizei, especialmente, a garantia constitucional do direito de resposta e destaquei a relevância do tema após o fim da Lei de Imprensa no Brasil.

Após uma sessão de julgamento de pouco mais de 2 horas, os três Desembargadores, de forma unânime, votaram pelo reconhecimento de seu direito resposta contra a Revista Veja e selecionaram a decisão para constar como jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, dada a importância do precedente.

A Editora Abril ainda pode recorrer aos tribunais superiores em Brasília. Vamos acompanhar o desenrolar dos acontecimentos. Assim que o acórdão estiver disponível, enviaremos cópia.

Atenciosamente,
Fernanda Pascale

LOGO - Kevin Johansen

Via Bruno Perdigão



Logo (Kevin Johansen)


Recuerdo cosas de otros tiempos,
De cuando el Almacén no tenía luces de neón
Cuando el paraíso no tenía marquesina…

(Coro) Generation Logo...'Até', Até Logo
Todo tiene Logo... 'Ya tein', ya tein Logo
Veneration Logo... 'Axé', axé Logo
Si no tiene Logo, falta poco, saravaravá!

Manteca, chuleta, buseca... 'Ya tein Logo'!
Carlito, Robinho, Dieguito... 'Ya tein Logo'!
Mengano, Fulano, Caetano*... 'Ya tein Logo'!
Todo tiene Logo, até logo, saravaravá!

Coraza, coracao, coragem... 'Ya tein...'
Saraza, bobaza, bobagem...
Su tio, mi hermana, tu abuela...
Si no tiene Logo, falta poco, saravaravá...

Todo tiene Logo... 'Até', Até Logo
Generation Logo...'Ya tein', ya tein Logo
Veneration Logo... 'Axé', Axé Logo
Todo tiene Logo...'Ya sé', hasta el pogo
Saravaravá...

Compre todo ahora porque ahora ya es mañana
Y mañana ya va a ser pasado
Si no compra todo, seguro lo compra otro
Y despues, seguro se lamentará
Todo 'on sale', aproveche que sale temprano
Y sin más demora
Sino compra ahora, va a caer en bancarrota
Espiritual, Intelectual y Emocional!

El Yoga, en boga y la toga…
Orgánico, higiénico, transgénico…
El Mantra, el tantra, el "chantra"…

El Rock Star, el Pop Star, el "Old Star"…

"I was hangin'around, waitin' for somethin' to happen'
When nothin' happened at all
Until I found a Trademark, a Brand
I fell in love with
I fell in love with that lovely, big fat
(It's the final...) LOGO!!!

Generation Logo, Até! Até Logo.
Todo tiene Logo, Ya tein! Ya tein, Logo.
Veneration Logo, Axé! Ashé, Logo!?
Si no tiene Logo, falta poco, Saravaravá!

Compre todo ahora…

Carlito, Robinho, Dieguito
La Roña, la Doña, Maconha
El Dating, el rating, skating
El Dealing, el feeling, el peeling
El Mantra, el Tantra, el "Chantra"
Festival, Carnaval (Tein Logo!)
Ya se fue, ya vendrá, Saravá!

Recuerdo cosas de otros tiempos,
De cuando el Almacén no tenía luces de neón
Cuando el paraíso no tenía marquesina…

It's the final…Logo!

Rafael Correa e Julian Assange

via Bruno Perdigão


A arte de ostentar fachadas

Felipe Araújo
Por Felipe Araújo

Ao saber da queda de parte da estrutura da entrada do Hospital Regional Norte, em Sobral, lembrei do verso de um poema com que me deparei recentemente na Internet – cuja autoria não consegui confirmar. “Essa fachada de rocha,/ por dentro é areia movediça”, diz a poesia. E pensei em como nossa política é, em grande medida, a “arte” de ostentar fachadas.

Os semioticistas e psicanalistas de plantão talvez consigam explicar esse traço de nossa cultura. Mas o fato é que, mais do que em qualquer outra seara do debate público, é no simbolismo dos pórticos, monumentos, inaugurações e outras liturgias do gênero que nossos governantes gastam a maior parte de suas energias - e do nosso dinheiro. Um expediente que é um fim em si mesmo, um simulacro em que o “parecer ser” é (sempre) mais importante do que o “ser”.

Voltando ao caso do acidente em Sobral, penso como nosso atual governo do Estado é um típico exemplo dessa obsessão por fachadas, dessa prioridade pelo continente em detrimento do conteúdo. O hospital em questão, todos lembram , foi inaugurado com um show nababesco da cantora Ivete Sangalo, mesmo sem ter condições de funcionamento por falta de funcionários. E na mesma época em que centenas de cearenses restam à míngua no “piscinão” do HGF.

O caso é apenas um de uma longa lista de contradições semelhantes. Temos, por exemplo, as viaturas policiais mais luxuosas do País, mas vivemos uma assustadora epidemia de violência urbana. Temos também um estádio ostentador que não serve aos clubes do futebol local. Teremos em breve um aquário (!) à beira-mar enquanto milhares de sertanejos sofrem com uma seca dramática. Temos delegacias com fachadas modernas, mas condições medievais de acomodação dos presos - sem falar nas fugas recorrentes. Temos um pomposo Centro de Eventos que não previu uma passarela de acesso para os pedestres. Entre inúmeras outras estultícias.


E assim seguimos. Entre fachadas imponentes a esconder a terrível “areia movediça” da incompetência, do fisiologismo e do provincianismo.

http://www.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2013/02/18/noticiasjornalopiniao,3007567/a-arte-de-ostentar-fachadas.shtml

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Lincoln e Zé Dirceu

Lincoln

Por Plinio Bortolotti




“O Zé Dirceu tinha feito isso bem rapidinho.” O comentário eu ouvi à saída do filme Lincoln, que conta a história de como foi aprovada a 13ª emenda à Constituição americana - que pôs fim à escravidão - e esse momento na vida do homem que foi seu artífice: o 16º presidente dos Estados Unidos, Abraham Lincoln.
O comentário do espectador tem a ver com o modo como a emenda foi aprovada; se é justo fazer paralelo com o chamado “mensalão” é outra história.

Em uma das cenas, um dos parlamentares mais radicais - que propunha o fim da escravidão acompanhado do confisco de terras dos fazendeiros do sul para distribuí-las entre os negros -, leva o documento recém-aprovado para casa, entrega-o à sua companheira, uma negra, e lhe diz: “A maior medida do século XIX foi aprovada pela corrupção”.

O filme se passa nas duas semanas em que Lincoln conseguiu sair de uma derrota - o Congresso havia rejeitado a proposta um mês antes - para uma vitória histórica: os mesmos congressistas aprovaram a emenda. Como ele faz para virar os 20 votos que lhe dariam os 2/3 necessários para a aprovação?

Chamou seu chefe de gabinete e mandou que negociasse os cargos no seu segundo governo com os parlamentares que perderam a eleição - e estariam “sem emprego” brevemente. Para fazer o serviço, digamos, pouco republicano, foi contratada uma turma de operadores -mostrada de forma um tanto cômica -, instruída a não citar o nome de Lincoln. O presidente lançou-se às negociações abertas, na tentativa de convencer os recalcitrantes e acalmar os radicais. Usou a sedução (era bom nisso), ameaças e trapaças, no que também saía-se muito bem.

Olhando o passado, quem ousaria criticar Lincoln por fazer o que fez, em plena guerra civil que dilacerava o país? Mirando o futuro, o que dirá a velha senhora, a História, sobre Lula, Zé Dirceu e o PT?

Resta perguntar: será que a política foi e será sempre assim? O filme mostra políticos dispostos a vender a alma. Por sua vez, Lincoln aparece como um homem isento de ambições particulares, exceto a maior de todas: deixar seu nome na história da humanidade, o que, sem dúvida, conseguiu.
http://www.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2013/02/14/noticiasjornalopiniao,3005499/lincoln-e-ze-dirceu.shtml

Suporte: pra que te quero

Por Rogério Lama

Há um episódio do seriado mexicano “Chaves” que mostra o personagem principal vendendo um doce para si próprio. Ele troca freneticamente de lado no balcão, fazendo às vezes de vendedor e cliente, usando a mesma moeda que recebeu da venda para comprar todas as guloseimas, uma a uma. Uma pequena adaptação dessa cena é repetidamente estrelada pela recém centenária Indústria Fonográfica. Na cena, a protagonista usa o mesmo truque Mandrake, só que para vender o mesmo produto várias vezes para o mesmo cliente.


O martírio pelo qual passa o colecionista musical parece não ter fim. Depois de consumirem os mesmos títulos em Lp e K7 nas décadas de 70 e 80 em nome da portabilidade e terem sido dissuadidos do valor de seus acervos no final da década de 1980, tudo em nome da vantagem do som puro e cristalino, eis que novamente o disco de vinil surge dentre as nuvens, como um deus que veio salvar os ouvintes da experiência paupérrima de apreciação através dos arquivos digitais. 
Sim, a cara de pau e o desespero de mãos dadas desconhecem fronteiras. E o maior descalabro desse cenário, é o festival de opiniões “embasadas” que se disseminam como virais pela grande rede alicerçando qualquer discussão de bar. Segundo algumas delas, você que pôde ouvir o Paêbiru de Zé Ramalho e Lula Côrtes sem desembolsar uma garoupa sequer, (atenção: sua audição foi comprometida. Há uma perda de informações no arquivo digital. Um “achatamento” do som.) “Existe uma compressão na onda sonora que impedirá você de ouvir o 2º Estudo para Violão de Villa Lobos na faixa “Harpa dos Ares”. 



Portanto, não espalhe por ai que ouviu esse disco. Você marcou gol com a mão. Sua salvação é que as gravadoras já têm a solução para o fosso aberto no seu conhecimento: o relançamento da obra em disco de vinil 180g, com todos os ruídos de estática a que você tem direito. Sim, um dos poucos pontos fracos do longplay virou uma virtude. 

Outra razão acordada entre alguns “especialistas” é que a experiência estética através dos arquivos digitais é severamente prejudicada pela falta de capas e encartes. É um argumento que desqualifica toda música gravada até 1940, período em que surgiram as primeiras capas de discos. Tiro no pé. Sem desmerecer nomes como Egeu Laus e Elifas Andreato que criaram um capítulo a parte na história da arte brasileira com suas capas de discos, a música ainda seria a mesma sem eles. 
Em 2004, Athur Dapieve escreveu em sua coluna no O Globo que:


“Enquanto existirem pessoas, ouvidos, arte, vida, os terráqueos continuarão a comprar novas versões do “Álbum Branco”, dos Beatles(...) Nada é definitivo: todos, ouvintes e suportes sonoros, encontram-se sempre na iminência de passar deste para melhor...”


O dilema sobre a legitimidade da audição musical não é novo. No início do século XX o compositor John Philip de Souza foi um dos primeiros a preconizar a morte da música. Sentenciou que com o advento das músicas gravadas, o ofício de artista da música chegaria ao fim. Que razão haveriam de existir, se agora poderíamos escutar a mesma música sempre que quiséssemos? E que função teriam os cafés e teatros? Ambos eram espaços frequentados para a apreciação artística. Para Souza, a função social e aglutinadora da música estava seriamente ameaçada. Havia ainda outra questão embutida ali. A fidelidade do som (nesse aspecto seu argumento era muito pertinente). Como absorver de forma plena a intenção artística do músico em gravações tão aquém da sonoridade obtida pela audição in loco? Para qualquer purista que se prezasse, o futuro era sombrio e pessimista. Estava decretado o fim da música antes mesmo dela surgir como conhecemos. 

Curioso como em meio à discussão sobre o tamanho da capa, formato da onda e taxas de compressão, pouco se discute o caráter agregador da música. Claro que não. Quanto mais individual for a experiência de audição, maior é a possibilidade de se vender mais cópias. Afinal, todo disco traz nalgum lugar da contracapa: “É proibido reproduzir publicamente esta obra”.

Como podemos então defender o disco de vinil em detrimento dos formatos digitais? Numa perspectiva mais purista, ambas são formas de encaixotamento e degradação da arte. Penso nos cantadores repentistas. Que sentido faz dentro de um estúdio, se sua arte é construída justamente a partir da sua reação ao ambiente? O suporte não nos traz muita coisa além de um arremedo da arte original. A função do formato deveria ser a de simples abrigo da memória artística, e não a arte em si.

Outra coisa que li de especialistas é que o individualismo do fone de ouvido havia arruinado a forma como experimentamos a música. Que ninguém mais conversava sobre música. Dentre exemplos que pululam todos os dias na internet, gosto muito de citar um cidadão de codinome KingCake. Em 2010 ele disponibilizou num blog, o áudio de mais de 100 álbuns da extinta gravadora de jazz Xanadu Records. Um verdadeiro tesouro. Desconheço uma forma mais desapegada de dialogar e difundir conhecimento. As obras estão lá há um clique, com um campo para você escrever um comentário e iniciar uma discussão sobre o disco com outras pessoas do mundo.



Longe de mim fazer coro contra os acervos. Para mim todo colecionista é um herói em luta perene e ingrata. O que me parece inadmissível é colocar recortes de plástico e papel acima do conteúdo que guardam.

Assisti em meados de 2008 uma apresentação do compositor Moska, que comentou impressionado o fato de ter visto um vídeo dele no youtube, cantando uma música que iria entrar em seu próximo disco. Ele fez uma pausa, deu de ombros e disse: “Finalmente a música está livre!”.

Parece que John Phillip de Souza pode finalmente descansar.

Uma história da música,apenas uma...

Via Eva Caldas



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Folha X blog Falha

Julgamento em 2ª Instância que pode derrubar a censura da Folha imposta à Falha será nessa quarta-feira no TJ-SP

Às 9h da manhã dessa quarta-feira (20/02) a 5ª turma de desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo vai julgar, em 2ª Instância, se o blog Falha de S.Paulo, censurado a mando do jornal Folha de S. Paulo desde outubro de 2010, poderá voltar ao ar. O julgamento é abeto ao público e à imprensa --para gravações no interior do prédio do TJ-SP, contudo, há a necessidade de se pedir autorização.

É um julgamento inédito no Brasil, segundo a avaliação do próprio juiz de 1ª instância, Gustavo Coube de Carvalho. O magistrado rejeitou alguns dos argumentos da Folha, mas manteve o site fora do ar. Nunca antes um grande veículo conseguiu tirar do ar judicialmente um site ou blog que o criticasse e, agora, os 3 desembargadores que julgarão o caso vão decidir se prevalece a tese da Folha, de “uso indevido da marca” (mesmo que não houvesse concorrência comercial e o objetivo fosse uma paródia) ou a tese dos criadores da Falha, que evoca a liberdade de expressão para fazer críticas e paródias.

Já se manifestaram a favor da Folha boa parte da blogosfera nacional, a Organização Repórteres sem Fronteiras (que soltou comunicado condenando a Folha), Frank de la Rue (relator da ONU para a liberdade de expressão), veículos internacionais (Financial Times, Wired etc), entidades de defesa da Liberdade de Expressão como Global Voices e Knight Center for Journalism, deputados federais de 5 partidos diferentes e personalidades como Gilberto Gil e Marcelo Tas. O criador do WikiLeaks, Julian Assange, também se manifestou claramente a favor do fim da censura à Falha, em entrevista ao Estadão. Mais detalhes sobre todas essas manifestações você confere no site www.desculpeanossafalha.com.br, página criada pelos irmãos Mário e Lino Bocchini após a censura de seu blog original.

A Falha de S. Paulo foi lançada no final de 2010 para denunciar de forma bem-humorada as preferências políticas da Folha. Durou um mês e, desde o final de outubro de 2010, está fora do ar a pedido da empresa que edita o jornal. Há uma liminar que ameaça os criadores da Falha com uma multa diária de R$ 1.000 caso retorne com suas atividades. O pedido inicial da Folha era de uma penalidade de R$ 10 mil por dia, mas o juiz baixou o valor. Em seu processo de 88 páginas contra os irmãos criadores da Falha, o jornal da família Frias também pede indenização em dinheiro por “danos morais”.

Por fim, vale lembrar que, sendo uma ação inédita, a decisão irá abrir uma jurisprudência, o que torna o caso especialmente importante. Por isso o crescente interesse público na questão. O julgamento, marcado para às 9h, contará com uma defesa oral dos advogados da Falha e da Folha. Todos estão convidados.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

A CURIMBA DO MALANDRO

Por Luiz Antonio Simas
 
Via Gabriela Nunes


Há certos eventos que jamais se repetirão. Não podem ser reproduzidos nem como representação dramática, pois perderiam o caráter único, transformador, epifânico, potencializador da vida. Exemplifico.

É madrugada do dia 11 de fevereiro e a Portela se prepara para entrar na avenida. O enredo contará a história do bairro de Madureira. A bateria está vestida como Zé Pelintra, o malandro seminal. A rainha dos ritmistas, Patrícia Nery, vem de Maria Padilha. As fantasias, evidentemente, fazem referência ao Mercadão de Madureira e suas inúmeras lojas de artigos religiosos ligados ao candomblé e a umbanda.

Desde o ensaio geral da escola, por alguns recados mandados pelo próprio malandro e pela Padilha, a bateria sabia que deveria pedir licença a Seu Zé antes de iniciar o desfile. Acontece, então, o momento único. As caixas, repiques, tamborins, surdos e agogôs param de tocar. Os atabaques começam a curimba e abre-se um corredor. A rainha de bateria / Maria Padilha, inicia sua dança sensual, desprovida de pecados, sacralizadora do profano e profanizadora do sagrado. Sem culpas. Os diretores de bateria bailam no corredor com a ginga sinuosa, sincopada, festeira e alforriada de Seu Zé. A bateria canta, o público canta e a madrugada canta o ponto do malandro divino, o Zé das Alagoas, o do balanço da canoa.

Contemplado o malandro, a bateria retoma o ritmo do samba e a Portela se prepara para entrar na avenida. Gilsinho, o puxador do samba, vez por outra assombrará a Sapucaí com a gargalhada vital do Homem da Rua. Os tambores portelenses sustentarão o samba - para mim o melhor do ano - e a bateria sairá consagrada pelo juri oficial e pelas premiações paralelas como a melhor dos desfiles. O malandro gostou da festa e bateu tambor pelas mãos e baquetas de cada um dos ritmistas.

Aquela curimba portelense conseguiu, em menos de cinco minutos, sintetizar o que eu tento escrever há tempos, sempre de forma precária, sobre o perfil civilizador peculiar da nossa cidade. Em um texto de antanhos, ao tentar expressar que civilização é essa, escrevi mais ou menos o seguinte:

Brado louvores e toco atabaques para festejar a civilização. Sim, a civilização que João Candido, Zé Pelintra, Pixinguinha, Paulo da Portela, Cunhambebe, Cartola, Noel Rosa, Bide, o Caboclo das Sete Encruzilhadas, Tia Ciata, Meia Noite, Madame Satã, Lima Barreto, Paula Brito, Marques Rebelo, Manduca da Praia, Silas, Anescar, Dona Fia, Fio Maravilha, Leônidas da Silva, Di Cavalcanti, os judeus da Praça Onze, a pomba gira cigana, a escrava Anastácia, o Cristo de Porto das Caixas, o Zé das Couves, o vendedor de mate, o apontador do bicho, o professor, o aluno, o gari, os líderes anarquistas da greve de 1919, a Banda do Corpo de Bombeiros, a torcida do Flamengo, o pó-de-arroz, a cachorrada, a nau do Almirante, o Bafo da Onça, o Cacique de Ramos, o Domingo de Ramos, a festa da Penha, a festa na lage e a cerveja gelada, criaram nesse extremo ocidente. Com baixaria na sétima corda e uma sonora gargalhada no final.

Foi exatamente isso que aconteceu na avenida nesta madrugada recente de carnaval. A Portela, sétima colocada pelo julgamento oficial, não retornará no desfile das campeãs. Melhor assim. O momento único, epifânico, civilizador, festeiro, celebrador das alforrias do corpo, libertador da alma, encantado nos arrepiados do batuque, não podia mesmo ser repetido. É feito o desfile de 1988 da Vila Isabel, a festa da raça com a Kizomba. Naquele ano a Vila ganhou, mas um temporal impediu a realização do desfile das campeãs. Será assim com a curimba para Seu Zé e a Dona Padilha que a Portela realizou na entrada do Sambódromo. Festa de encantaria; Brasil redimido no fuzuê do tambor suburbano. Irrepetível.

É assim, meus camaradas, que a gente reinventa a vida, zomba do pecado e transforma o corpo em totem. Na ginga do malandro da Portela, no balanço dos ombros da Padilha, o silêncio é preenchido e a bateria toca na cadência do samba. Ele, o samba, essa nossa gargalhada zombeteira que alumia o mundo.



http://hisbrasileiras.blogspot.com.br/2013/02/a-curimba-do-malandro.html

SANATÓRIO GERAL - CARNAVAL DE 2013 (4)

por Marcus Vinicius



O boss das Gata Pira




















"Olhaí Andrézim"