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terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Ainda os paredões...

Por Felipe Araújo

Vivi o Carnaval de Olinda na virada dos anos 1990 para os anos 2000. Foram pelo menos sete edições em que fiquei hospedado no Centro Histórico. Presenciei, portanto, a experiência dos pernambucanos em relação ao controle dos famigerados paredões de som. Em Olinda, pela configuração do sítio urbano, eles não vinham nos reboques ou nos bagageiros de automóveis, mas nas janelas das casas – de onde vomitavam suas músicas cretinas.

Na época, a prefeitura decidiu comprar a brigar para preservar aquilo que é o principal patrimônio da folia olindense: o cortejo e a música das troças e blocos que cortavam as ladeiras da cidade histórica. Ou Olinda acabava com a praga dos paredões ou os paredões acabavam com o Carnaval. Depois de uma forte campanha educativa (que permanece até hoje) e, principalmente, depois da aplicação de rigorosas multas e punições, o poder público conseguiu vencer a briga contra a truculência representada pelas caixas de som. E o melhor: com forte apoio da população.

Hoje, Fortaleza vive o mesmo dilema que Olinda superou há dez anos. Mas, por enquanto, nosso entrecho não é virtuoso. Aqui, a despeito de uma lei municipal que já trata do assunto, os paredões estão não só ganhando a queda de braço, como desmoralizando o poder público. O drama recente registrado no bairro Ellery e o cancelamento de (lindas) festas, como a do Lago do Jacareí na Cidade dos Funcionários, por conta do medo dos moradores em relação aos donos dos paredões, revelam o despreparo e o fastio das instituições com (in)competência para resolver o problema, em especial da Polícia Militar. E mostram como ainda é precária e provinciana nossa relação com o espaço público.

Nas cidades do Interior, essa é uma guerra perdida. Já em relação a Fortaleza, se a Cidade quer manter seu Pré-Carnaval como a festa exuberante que conhecemos e, por tabela, consolidar seu Carnaval, como vem fazendo nos últimos anos, poderá se mirar no exemplo de Olinda.
http://www.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2013/02/04/noticiasjornalopiniao,3000364/ainda-os-paredoes.shtml

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