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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

A calmaria na cidade é geral ?

Por Marcus Vinicius

Têm-se os grandes carnavais de Olinda, Recife, Rio de Janeiro, São Luiz e Salvador (este hiper mercantilizado). Em Fortaleza, o maior e melhor Pré-Carnaval. Pré-Carnaval este que existe há mais de trinta anos e que nos últimos anos vem se tornando uma manifestação cultural mais visível e mais popular. É fato.

O Pré-Carnaval é um sucesso. No mês que antecede ao Carnaval, mais de 100 blocos animam a Cidade, do mucuripense à Barra do Ceará, do Centro ao Conjunto José Walter, passando por Messejana, Benfica, Vila Pery. É uma festa pública, descentralizada, gratuita, popular (com as exceções de praxe), diversificada em ritmos, públicos e propostas. Cabe registrar que parte deste sucesso vem do incentivo e fomento, que a partir de 2007, o poder público municipal passou a fazer. Este incentivo/fomento se manteve em 2012.

Um dia ao ser perguntado sobre a diferença entre o Pré-Carnaval e o Carnaval em Fortaleza respondi de pronto: “O sucesso do Pré-Carnaval é que você faz parte da folia e, no Carnaval atual, você é espectador, você vê o desfile dos outros e necessariamente este espectador não precisa ser folião”.

Ao Carnaval, referia-me aos dos últimos anos e especificamente aos desfiles de blocos, escolas de samba, maracatus e mais recentemente dos afoxés, na avenida Domingos Olímpio.

(E, como a história não começa com a nossa chegada - como muitos pensam -, houve uma Fortaleza de carnavais com o corso da avenida Dom Manuel, os blocos dos sujos, dos bailes de salão, dos desfiles de blocos, escolas de sambas e maracatus).
O desfile é uma forma de se fazer Carnaval e as agremiações que participam dele trabalham duramente durante todo o ano para colocar “o bloco na rua”. O que não é tarefa fácil. É um Carnaval consolidado com público cativo.

Ocorria que, antes do Carnaval, grande parte dos que faziam o Pré-Carnaval, já estavam de malas e cuias prontas para brincar o Carnaval, em Olinda (lá existe uma travessa chamada durante o Carnaval de 085 ponto de encontro dos Fortalezenses), Recife, Rio de Janeiro, Salvador. Outra parte, não menos considerável, saía da cidade para “curtir”: paredões de som, forró eletrônico ou o “hit” de ocasião. Eram os “mela-mela da vida” das praias e cidades do interior.

Esta era a realidade. Uma Fortaleza pulsante no mês de janeiro e um desfile de agremiações, consolidado, em fevereiro. (O povo do turismo vendia pacotes de tranquilidade para turistas que viriam a esta cidade descansar).

Este diagnóstico ainda se mantém na cabeça de muitos, inclusive autoridades.
Mas isso vem mudando, aos poucos, é vero.
Ocorre também que essa ampliação do Carnaval de Fortaleza não vai se dar pela boa vontade de alguns e ou por decreto governamental.

E neste “processo”, tem “contribuições” para todos os gostos:

• Temos um Pré assim assado; é fácil fazer um Carnaval assim assado.
• Pega os editais da Prefeitura para o Pré e condiciona ao Carnaval.
• Não existe Pré-Carnaval, o que existe é carnaval.

Neste campo, não tem como inventar. Não tem como artificializar.

O importante é que nos últimos anos a partir da animação que o Pré-Carnaval deu à cidade, esboça-se uma reação ainda incipiente, por parte de blocos de Pré-Carnaval que querem e estão dispostos a jogar suas energias no Carnaval. Há cerca de quatro anos, o bloco Sanatório Geral, originalmente surgido no Pré-Carnaval, faz Carnaval no Benfica. Já com o apoio do poder público municipal, ano passado, o Não Ispaia Sinão Ienche fez Carnaval em frente ao bar da Mocinha e o Luxo da Aldeia fez em frente ao bar do Chaguinha.

Este ano não teremos muito mais que do que nos foi oferecido ano passado.
A programação oficial do Carnaval, divulgada pela Prefeitura, traz novidades como os dois bailes infantis de Carnaval, em espaços como o Passeio Público e o Mercado dos Pinhões. No mais, são os desfiles das agremiações, o Não Ispaia..., o Luxo da Aldeia, e as “fertinha” (tô doido pra saber o que é isso). Muito legal o 3° Tambores Ancestrais na Noite Escura, agora na Praça dos Leões. Outra novidade foi a introdução de blocos de Pré-Carnaval no arrasto e no palco principal do aterrinho – lá estarão presentes Unidos da Cachorra, Camaleões do Vila e Luxo da Aldeia juntos às atrações de fora. Mas palco é palco e rua é rua.
E em outra vibe, teremos o Sanatório Geral, no Benfica.

Muito pode ser feito e muito podemos fazer por um Carnaval de folião.
Pra começar e de imediato:
1. Fazer com que o povo que faz o Pré-Carnaval cancele suas viagens para Olinda, Recife e Rio;
2. Baqueteiros esqueçam Portela e Mangueira, vamos batucar por aqui.;
3. Garantia do poder público no tocante à fiscalização e apreensão dos paredões de som.

Pra frente:
1. Que a Prefeitura incentive/fomente blocos de carnaval fora do circuito do desfile da Domingos Olímpio;
2. Formação de músicos para metais;
3. Ampliação dos pólos de carnaval para os bairros.

Para 2014, o secretário da Cultura de Fortaleza promete uma integração entre o Pré-Carnaval e o Carnaval. Boa discussão deverá ser travada em torno desta integração. Participemos. As condições objetivas estão dadas para grandes carnavais futuros.
Nos últimos anos, foi possível curtir o Carnaval em Fortaleza. Este ano também será. Meu circuito neste Carnaval será: Luxo, Não Ispaia, Sanatório, Maracatus e quando aguentar os shows no palco do aterrinho.

Termino homenageando o grande compositor de Carnaval, o cearense, Paulo Gomes, autor desta pérola chamada “Velho Palhaço”.



VELHO PALHAÇO (Paulo Gomes)

“ A Colombina já morreu
Morreu
e  o palhaço ainda sou eu
Sou eu
A procurar nos blocos
Nas ruas e nos rostos
Tudo que a vida não me deu.

Confete é peça de museu,
Museu
Junto com o cheiro que foi teu,
Foi teu
Que se espalhava louco
Dos lanças e do corpo
Do corso, enfim, das fantasias.
E hoje as cinzas
São os três dias 
E os outros dias
São também...
E o carnaval não morre de vez
Por causa de mim
E dos outros palhaços
Que são assim”
http://www.opovo.com.br/app/opovo/vidaearte/2013/02/02/noticiasjornalvidaearte,2999055/a-calmaria-na-cidade-e-geral.shtml

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