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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

O ritmo da profissionalização

Por Ana Mary C. Cavalcante

Estrutura ou repasse financeiro, manter a espontaneidade ou estabelecer regras, patrocínios privados ou capital intelectual. A palavra “profissionalização”, como alcançou o Réveillon a partir de 2005, indica muitos sentidos – e desafios - quando se aproxima do Carnaval de Fortaleza.

“A profissionalização é viável, sim. Mas o trabalho da Prefeitura (de conquista do público, apoio aos barracões e divulgação) deveria ser melhor para atrair a iniciativa privada. Falta investimento”, aponta Eduardo Medeiros, da diretoria da Associação Cultural das Entidades Carnavalescas do Estado do Ceará.

“Não existe o investimento. Não temos as condições necessárias para melhorar nossa qualidade”, ratifica Francisco José, presidente do Maracatu Rei de Paus. “Quem mantém o maracatu é a família: minha mãe, eu, meu irmão. Só em uma roupa dá quase R$ 4 mil em plumas e pedras”, cita.

Ele considera que “a Prefeitura não tem que manter, mas poderia ajudar com as leis de incentivo, não deixar a gente depender só do edital. Podemos fazer um grande Carnaval, se a gente conseguir grandes patrocinadores, capitaneados pela Prefeitura”. O secretário de Cultura de Fortaleza dialoga: “Para 2014, é um desafio colocar o Carnaval na Lei Rouanet. A Lei é um mecanismo facilitador que a Prefeitura ainda não cogitou fazer”.

Magela Lima considera que a profissionalização do Carnaval “é um desafio para Fortaleza” porque “o Carnaval é um mecanismo interessante para a gente pensar essa possibilidade de relação do fortalezense com a Cidade”. Além disso, ele atenta, não há um “caminho único de profissionalização... Não é, necessariamente, ter um CNPJ, um departamento financeiro, mas entender que o Carnaval tem custos que precisam ser viabilizados de alguma maneira. Os próprios blocos vão sinalizando para onde a Prefeitura deve atuar”.


“Não temos essa pretensão de profissionalização. O que temos conversado com o poder público é sobre serviços e não sobre recursos”, fala Danilo Patrício, um dos organizadores do bloco Sanatório Geral. O bloco se concentra, domingo e terça-feira de Carnaval, na Praça da Gentilândia e quer permanecer “um grupo de amigos que se organiza no bairro. Não temos a ideia de um Carnaval de multidão”.

Para preservar a espontaneidade, explica Danilo, o Sanatório optou, “desde 2009, pela campanha o folião é quem bota o bloco na rua. Não recebemos nenhum centavo do poder público e nem de patrocinador”. O bloco vende produtos de marca própria, faz festas e bingos se precisar. “Não somos profissionais, não vivemos disso. Queremos continuar com nosso espírito de folião e o poder público tem que estar aberto para entender essas diferenças geográficas e de trajetória de cada bloco”, conclui.

Patrocínio

A alternativa tem dado certo. Tanto quanto o patrocínio privado, para o bloco Unidos da Cachorra. “A gente tenta atrair esses patrocinadores através do nome que o bloco adquiriu na Cidade. Não foi algo programado. Começou com uma brincadeira e acabou crescendo. E a gente teve que organizar, tomou outras proporções”, conta Fernando Bustamante, um dos diretores do grupo.

Na relação com os negócios, o cuidado para não perder o passo da festa popular, contrapõe Fernando, é “poder conservar essa cultura do Carnaval de rua. Tem que manter os mesmos moldes, dos blocos saírem gratuitamente para os foliões”. “A profissionalização não pode ser militarizada. Dentro do Carnaval, tem o privado e o público. Cada bloco tem sua filosofia. Tem público para todo canto e essa descentralização é importante”, reflete o produtor cultural Dilson Pinheiro.
A criação de polos carnavalescos, a garantia de segurança e a diversificação da programação, enumera Liège Xavier, proprietária da Free Lancer Produções, atraem públicos e afirmam, ano a ano, o Carnaval de Fortaleza.

Mas, além do fazer, a realidade que abre alas para o futuro dessa festa na Capital demanda “pessoas que saibam refletir porque estão fazendo e para quê estão fazendo”, indica Rachel Gadelha, diretora da Via de Comunicação e Cultura (responsável pelo Festival de Jazz e Blues de Guaramiranga).

“Não é só organizar um bom Carnaval, mas para aonde estamos indo, qual o lugar do produtor cultural, da iniciativa pública, da iniciativa privada. É preciso ter mais conteúdo, conhecimento, instrumentos”, incita. “É sempre uma batalha muito grande (obter recursos) e precisamos caminhar muito para que a sociedade perceba que a cultura é boa por ela própria. Ainda temos que pensar muito sobre isso”, projeta.

http://www.opovo.com.br/app/opovo/vidaearte/2013/02/02/noticiasjornalvidaearte,2999061/o-ritmo-da-profissionalizacao.shtml

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