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sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Eu vi o Paul (1)

    
Este é o primeiro de uma série (espero) de impressões, visões e versões sobre o show de Paul McCartney.


"EU VI McCARTNEY!

Por Walber Nogueira

Quando me perguntam como foi o show de Paul McCartney, dia 21 último, no morumbi, digo que foi ótimo, mas teve um problema: terminou! De fato, essa foi a primeira sensação que tive, a de ter sido tão bom que o problema maior foi justamente ter acabado.

Éramos trinta e poucos cearenses na caravana organizada por colegas do programa Frequência Beatles, da Rádio Universitária. Saímos de Fortaleza na madrugada de sábado (20/11) e nos hospedamos em um hotel no Centro de São Paulo. O sábado foi pra "bater perna": andar pela cidade, visitar a Galeria do Rock, tomar umas no Bar Brahma (na famosa confluência da Ypiranga com a São João), comprar na 25 de Março. Tentativas de domar a ansiedade que tomava conta de todos: estávamos a poucas horas do show de Paul McCartney.

O domingo amanheceu ensolarado e com a promessa (que se cumpriu) de que não teríamos chuva. Na hora marcada, 15h, o ônibus que nos levaria ao Morumbi chegou. Todos com camisas do Paul ou dos Beatles, máquinas fotográficas, ingressos na mão, mochilas com alguma comidinha rápida, que o show começaria só às 21:30h. Levei também o Sagrado Pavilhão Tricolor, a bandeira do Fortaleza E.C., pra demarcar o território. No caminho, tomava umas cervejinhas pra diminuir a tensão e conferia, de cinco em cinco minutos, meu ingresso!

O ônibus chegou ao estádio do São Paulo F.C. pouco depois das quatro da tarde e, depois das fotos de recordação tiradas na frente do estádio, fomos procurar a fila da arquibancada azul, o setor que íamos. A esta altura, ela já estava enorme, talvez uns quinhentos metros. Claro que, à medida que o tempo passava, ela dobrava e triplicava de tamanho.

Depois de uma boa hora na fila, entramos. Antes, passamos pelo pente fino dos seguranças. Mochilas e bolsas revistadas, pois nada de entrar com garrafas (nem descartáveis), máquinas fotográficas profissionais, bebidas alcoólicas e outras restrições.

Uma vez dentro do estádio, foi a vez da espera. E que espera! Foram quatro horas (ou quase isso) sentados (pra não perder o lugar), inventando conversa, fazendo palavra-cruzada, tentando fazer o tempo passar mais rápido. A espera foi longa não só porque é tedioso ficar sem fazer nada, mas porque queríamos ver McCartney e, naquele momento, cada minuto se arrastava preguiçosamente. Era feito final de campeonato. O tempo não passa: o relógio marca 40 do segundo tempo; 10 minutos depois, marca 41...

Mas o momento chegou! Pontualmente às 21:30h, Paul McCartney entra no palco do Morumbi e o público delira. Ele inicia com Venus and Mars, seguida de Rock Show e Jet. Depois de algumas músicas, arrisca um português para interagir com o público. Diz: "vou falar algumas coisas em português, mas vou falar mais em inglês". O público adora.

Desnecessário dizer do talento dos músicos. A sincronia e harmonia da banda são impecáveis, e eles ainda fazem uns "mugangos" que só evidenciam que fazer aquele show, que tocar com Paul McCartney é, antes de tudo, uma grande brincadeira, um grande prazer. E como haveria de ser diferente?

Ao final daquelas quase três horas, ficou em mim aquela sensação de ter visto um grande espetáculo, mas não o espetáculo vazio e inócuo que faz a alegria da grande mídia, mas um espetáculo da grande arte, da grande e boa música. Ficou a lembrança de McCartney ao piano tocando Hey Jude ou ao violão, com Yesterday, sendo acompanhado por um coro de 64 mil vozes; a irreverente dancinha do baterista Abe Laboriel Jr. em Dance Tonight; o inesperado e belíssimo show pirotécnico em Live and Let Die. Ficou a sensação de ter visto um artista grandioso, que sabe interagir e agradar seu público fiel, sem o pedantismo ou a arrogância que caracterizam tantos por aí que nem sequer calçam suas chuteiras. Um artista acima de tudo.

Suas últimas palavras de despedida foram "até a próxima". Será que a teremos? Não sei. Torço desesperadamente que sim. Se a arte nos salva da barbárie (e penso que foi isso que Adorno quis dizer com "não há poesia possível depois de Auschwitz"), naquele domingo, fomos todos menos bárbaros."


Walber Nogueira da Silva.Advogado, professor,beatlemaníaco e Tricolor.


 Este é o autor do texto, Walber Nogueira. A melhor síntese de Baco e Euterpe. 

Um comentário:

Bruno disse...

Parabéns pelo texto Walber. Parabéns, Marcus pela iniciativa