Texto de novembro de 2002, a respeito da eleição do senador Tasso Jereissati
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A solidão do Imperador
“A solidão é a percepção de estar isolado de outras
pessoas, da inexistência de um vínculo. Parece ser uma
falta de ligação e, por conseguinte, uma falta de limites.
Mas pode ser tão dolorosa que as pessoas se comprometem
as cegas com um casamento, um emprego ou uma
comunidade, embora descubram que, em meio às
demais, continuam sozinhas.”
Richard Sennett
Eram três os coronéis. Vieram de um tempo de UDN e PSD. Com o golpe militar os três ficaram na ARENA, um dos dois partidos consentidos pela ditadura. Trocavam entre si a governança do Ceará, não sei se por rodízio ou por sorteio. O fato é que, entrava um saia outro e até um dos filhos fora nomeado prefeito de Fortaleza.
1982. Eleições para governador do Estado. O último dos coronéis governador elege um “técnico” chamado Gonzaga, mas conhecido por Totó. Num belo dia de 1985, Fortaleza elege Maria, prefeita pelo PT. (Nestas últimas eleições, esta Maria defendeu o voto nulo.)
Em 1986, novas eleições para governador. O afilhado do último coronel esquece o padrinho e lança candidato, um jovem integrante de um grupo de empresários ditos modernos, filhos de empresários ditos atrasados. Freud explica.
A eleição teve como mote à derrota dos coronéis. À época o jovem empresário aglutinou em torno de sua candidatura uma imensidão de apoios. A aliança passava por intelectuais, esquerdistas, trabalhistas, socialistas e profissionais, ditos liberais. Enfim quase todo mundo.
O PT ficou de fora. Saiu com um padre candidato, era o “governador do povo”. (Hoje esse ex-candidato é pároco na igreja em que o candidato vitorioso ao governo do Estado faz seus atos de contrição).
O jovem empresário foi eleito governador com os votos de Fortaleza e dos grandes municípios do Ceará. Restaram ao PT poucos votos e os chamados “grotões” votaram com um coronel que afirmava: “Eu vou voltar”. (Nesta eleição esse coronel apoiou o maduro empresário ao senado e seu candidato a governador).
Em 1986, inicia-se a era cambeba. Lá se foram 16 anos, 12 dos quais com o jovem/maduro empresário. Tempos de “modernização do estado”, privatizações.
Enfim chegamos a 2002. O maduro empresário se elege senador e seu candidato a governador se elege no segundo turno com 50,04% dos votos.
No calor da hora, finda as apurações, o maduro empresário declara ao Jornal O Povo: “Derrotamos o radicalismo xiita do PT. Derrotamos o fisiologismo atrasado e imoral de Sérgio Machado. Derrotamos o poder econômico (sic) corruptor de Eunício. Derrotamos o projeto de facismo do embuste de Moroni.” Oh! Tempus! Oh! Modus.
Ao invés da declaração ao jornal, o eleito, deveria estar refletindo:
- Como falar de fisiologismo, de poder econômico e facismo?
- Eles fizeram parte do meu projeto, eu convivi com eles.
- E antes deles os socialistas, comunistas, intelectuais, trabalhistas?
- Onde estarão eles hoje?
- Por que agora ao concorrer para o senado, perdi em Fortaleza, para o candidatodo PT?
- Por que quase perco para a minha afilhada do PPS?
- Por que derrotei os coronéis e hoje o Coronel e os filhos dos coronéis me apoiam?
C'est la vie.
A partir de 2003, o empresário estará no Senado, estreando no parlamento. Terá de votar, apresentar projetos de lei, fazer pronunciamentos, marcar presença, fazer articulações, negociações, ir e vir a Brasília, enfim, ouvir, falar e o que é pior com a TV Senado no ar, para o bem e para o mal. Será um entre 81 senadores e senadoras.
Triste fim para quem imperou durante 16 anos.
Fortaleza, 2002
Figuram no elenco: Tasso Jereissati, Virgílio Távora, Adauto Bezerra, César Cals, Gonzaga Mota, Padre Haroldo, Lucio Alcântara, Patricia Gomes, Mário Mamede, Maria Luiza, Eunício Oliveira, Sérgio Machado, Moroni Torgan,
Um comentário:
Que massa, Marcus!
Imaginei isso sendo encenado na Praça do Ferreira:
"O Auto do Imperador Só"
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