Wine Economics?
Pois é, para provar que os economistas não fazem só coisa chata apareceu um campo de pesquisa inteirinho consagrado ao vinho e seus parentes etílicos, com direito a periódico científico, congressos acadêmicos e tudo o mais.
E na última edição do principal encontro da área uma dupla de pesquisadores belgas apresentou um trabalho ao mesmo tempo polêmico e capaz de despertar o interesse de quase todo mundo.
Mara Squicciarini e Jo Swinnen (uma mulher e um homem, pra evitar confusão) foram pioneiros em mostrar que existe um forte relacionamento entre o consumo de álcool e a propensão das pessoas à monogamia.
E se você pensa que não vai aí nenhuma novidade, a julgar por aquele seu tio constrangedor que fica todo assanhado depois da terceira dose, pense de novo porque o caso é bem ao contrário.
Os belgas revelam que nas sociedades monogâmicas bebe-se muito MAIS do que nas poligâmicas, nas quais frequentemente predomina a abstinência (pense nos muçulmanos e mórmons)!
Neste ponto, vale abrir um parêntese: o termo “poligamia” se aplica quando tanto homens quanto mulheres podem se relacionar com múltiplos parceiros, mas os autores só encontraram em sua pesquisa histórica casos (e muitos deles) de “poliginia”, quando o homem pode desposar várias mulheres, mas não o contrário.
O vice-versa seria a “poliandria”, que nunca esteve na moda – fica aí a ideia...
O estudo é organizado em duas frentes. Na primeira, Mara e Jo compilam dados coletados por antropólogos e historiadores sobre dezenas de sociedades espalhadas pelos quatro cantos da terra. Estes dados têm duas características principais: referem-se ao período anterior à chegada dos europeus às Américas e envolvem sociedades que entre si tinham pouco ou nenhum contato, para evitar poluições nas análises.
Entre elas, aliás, estão os brasileiríssimos Tupinambás.
Depois, usando uma porção de estatística, eles cruzam as informações sobre consumo de bebidas alcoólicas e sobre o comportamento sexual dos vários povos. O resultado é bem claro: quanto maior a bebedeira, mais estes povos se aproximavam da pura monogamia.
E quanto mais sóbrios, mais propensos eles eram à prática da poliginia.
Na segunda frente, os economistas fazem uma análise historiográfica para mostrar que o crescimento do consumo de bebidas e o declínio da poliginia no mundo caminharam juntinhos. E pra quem acha que os homens estão cada vez mais safados, pode ser útil a informação de que a poliginia, seja formal ou como prática socialmente aceita, só saiu de moda depois da Revolução Industrial, por coincidência na mesma época em que os botequins se popularizaram mundo afora como nunca antes.
Isso quer dizer que a bebida ajuda as pessoas a serem monogâmicas – ou que a monogamia estimula as pessoas a ficarem bêbadas? Claro que não, bradaria um acadêmico chato (inclusive exaltado se já tivesse sorvido um Casillero del Diablo)!
Qualquer alfabetizado científico sabe que correlação e causalidade são coisas mui diferentes e por isso os pesquisadores não ousaram atribuir uma interpretação de causa-e-efeito aos resultados reportados.
Na verdade, ninguém sabe – ainda – as razões por trás desta curiosa correlação, mas as hipóteses levantadas no paper são várias, principalmente baseadas nas características sócio-econômicas das comunidades. Por exemplo, é possível que nas sociedades mais pobres e primitivas as pessoas sejam mais propensas a beber para esquecer suas mazelas e ao mesmo tempo os homens precisam se conformar à monogamia porque não poderiam manter famílias muito grandes.
Sabe-se lá, mas é certo que a estória pode ser bem diferente. Que o diga meu infame companheiro de botequim conhecido como S. Bocão – suposto primo do famoso J. Canalha, ícone dos botequins cariocas.
Sem dar a mínima para convenções e pudores científicos (ou de qualquer outro tipo), Bocão levantou a lebre: “é a monogamia que causa a bebedeira, afinal, só resta ao marido afogar as mágoas!”. Descarado, ainda arrematou: “no dia em que acabar o botequim, também se acaba o casamento!”. Por via das dúvidas, que tal dar uma colher de chá para @ companheir@ quando el@ suplicar “deixa mais uma meia horinha, só para a saideira”?
Carlinhos K. Cimba*
* pseudônimo de um estudioso do assunto que aqui e acolá toma umas biritas.
O original do trabalho no seguinte endereço: http://www.wine-economics.org/workingpapers/AAWE_WP75.pdf
O original do trabalho no seguinte endereço: http://www.wine-economics.org/workingpapers/AAWE_WP75.pdf
3 comentários:
se a instituição social "botequim" se sustentasse das mágoas da instituição "casamento", as cidades estariam povoadas de mulheres de bucho quebrado, bêbadas de quinta a domingo, e nos bares teria sempre 85% de mulheres. Eita!
Érica
a opinião do Bocão não tem relação com o trabalho científico dos belgas.
Marcos,
Os belgas? Hein?
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