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domingo, 5 de dezembro de 2010

Eu vi o Paul (2)

O PAUL McCARTNEY OLHOU PRA MIM

por Érika Meneses



"Quando o TIO MARCUS, meu sogro, ops, o Marcus, blogueiro e agitador cultural, me convidou para fazer um texto pro DIUMTUDO sobre o show do Paul, fiquei muito honrada, mas um tanto quanto aflita. Como eu poderia escrever sobre esse show sem ser extremamente pessoal e piegas, sem incorrer no que o meu professor do mestrado chama de strip-tease psíquico? Porque esse show foi, pra mim, o que a peregrinação a Meca deve ser pra um muçulmano. Um momento necessário e transcendente.
Então, aviso aos navegantes. Não vai ser um texto jornalístico. Vai ser uma postagem de blog confessional. Não está com estômago, pula pro post seguinte, que o seu Marcus sempre tem um catatau de ideias geniais a dizer sobre qualquer assunto.

No dia 21 de novembro de 2010, eu era uma das 64 mil pessoas que foram ao Estádio Morumbi, em São Paulo, para ADORAR Sir Paul McCartney. Como muitas pessoas que lá estiveram, eu tenho menos de 30 anos e não fui contemporânea dos Beatles e nem mesmo do projeto posterior de McCartney, o Wings, que durou até 1981, quando eu ainda era uma malinação na cabeça de papai.

Daí que “E VOCÊ GOSTA DE BEATLES?” foi a pergunta que eu mais ouvi da velha guarda nos últimos dias. Acho que esse post também é uma chance de explicar o que é que eu estava fazendo lá. O simples fato de que Beatles é um clássico atemporal não faz uma pessoa passar o perrengue que eu passei pra ir a esse show. Ou pelo menos não deveria fazer.

ACHO VÁLIDO FALAR UM POUCO DOS PERRENGUES.

Foram tantos percalços, que acho mais prático fazer uma pequena lista. Se tiver preguiça de ler a lista dos 7 perrengues do apocalipse, você pode se fixar apenas no fato de que eu *quase morri* algumas vezes pra ver o Paul. Aí você pula logo os itens numerados.
  1.  Comprei passagem promocional, para o dia do show, no horário ingrato de 3 da madrugada. Cheguei a tempo de tirar um cochilo e correr para o estádio, para encontrar uma fila quilométrica.
  2.  Não consegui o ingresso da pista prime em NENHUMA das tentativas naquele maldito site. Não sou nenhuma toupeira digital, não faltou esforço de minha parte, acabei com minhas digitais no F5... Enfim, apenas dei azar. De forma bastante madura, me resignei e decidi comprar a pista normal pra garantir e raspar uma grana da poupança pra comprar a prime de alguém que revendesse. Não sem antes chorar muito no chuveiro, sobre o travesseiro, ao volante e em todos os momentos em que eu fiquei sozinha na semana que se seguiu ao esgotamento dos ingressos. Porque se eu chorasse na frente de alguém por causa disso, podiam me internar.
  3.  Fui SO-ZI-NHA, enfrentar a selva de pedra, os taxistas malucos, a multidão, a luta pela sobrevivência nos instantes finais da fila e a falta de banheiros químicos. Ok, eu já sou adulta há uma década. Mas vai convencer o meu pai e o meu namorado de que eu não fui temerária e não pus minha vida em risco.
  4.  Cheguei à fila às 16 horas. Tecnicamente, isso significa que eu deveria ficar exatamente na última fileira da pista prime, onde eu sofreria muito pelo fato de só ver o Paul pelo telão. Milagrosamente, eu cheguei perto do palco, e mais milagrosamente ainda, isso aconteceu antes de o show começar. Na falta de uma vela benta, eu já estava acendendo um isqueiro pra São Judas Tadeu quando meu amigo IVAN – salve, Ivan – me ligou. Ivan é amigo de uma grande amiga e São Judas fez ele se lembrar de que eu poderia estar na fila. Ele estava lá na frente, interessado em ir ao banheiro e ter uma conhecida para guardar o lugar. Eu ainda tive um dilema ético se devia ou não entrar no estádio com ele em vez de ir pro fim da fila, mas pensei em tudo que NÃO deu certo até então e resolvi aproveitar a *milagrosa* chance. Me desculpem, mesmo.
  5.  Esqueci a chave do apartamento do meu amigo, que me hospedou, dentro de casa e fiquei trancada do lado de fora, com meu ingresso dentro, a poucas horas do show.
  6. Tive que dar um tabefe no pé do ouvido de um tiozão metaleiro que apareceu lá do nada e achou por bem apertar a minha bunda pra mudar de lugar. Sei, foi temerário, mas certamente que ele não ia me açoitar lá pra perder o ingresso dele, e vê lá se eu vou me tacar do Ceará pra São Paulo pra ver um show, morta de cansada, sem dormir, e deixar a galera passar a mão na minha bunda. Não fazia sentido. Na volta, encontrei três amigos e voltei de carona com o amigo de um deles. A volta foi esquisita, o cara era gente boa mas se perdeu muitas vezes e eu ainda tenho minhas dúvidas se voltei viva ou se morri naquela viagem e ainda não tomei consciência do fato. Posso estar vagando, no limbo, sei lá.
  7.  O que apenas justificaria todo o terror psicológico a que eu fui submetida nas vésperas do show, quando meu pai, a pessoa que me fez gostar de Beatles, o criador do monstrinho, começou a ter sonhos premonitórios com a filhinha dele morrendo pisoteada no Morumbi ao som de Ob-la-di Ob-la-da.

Mas, retomando... Quando me pediu esse texto, o seu Marcus me disse, ainda, que queria entender POR QUE ele não estava lá. E por que tantos jovens, que não viveram a época da beatlemania, fizeram questão de ir.
Eu soube melhor quando voltei. Foi ótimo, sobretudo, ir SOZINHA. Lá no estádio, me perdi do meu amigo Ivan e tive oportunidade de socializar com pessoas que eu não teria encontrado de outra forma. Pessoas da minha idade, que cresceram ouvindo Beatles e ouvindo as mesmas CONSIDERAÇÕES que eu a respeito disso.

NA ALFABETIZAÇÃO
OS OUTROS - Eu gosto da Xuxa.
EU- Meu pai diz que a Xuxa é retardada e asquerosa. Eu gosto do John Lennon.
OS OUTROS- Quem?
NA FACULDADE
OS OUTROS – Então, eu sou bacana e cult e gosto de Placebo.
EU – Também, mas gosto mesmo é de Beatles.
OS OUTROS – Jura? Todo mundo diz que gosta dos Beatles. Isso é tão ultrapassado.
Todo mundo da minha idade que estava lá na pista prime, nas primeiras fileiras, já havia sido desacreditado em algum momento por gostar TANTO de Beatles. Do meu lado, tinha um casal gente fina, e o menino tinha raspado toda a grana da poupança ano passado pra ir a Liverpool e sabia o nome de todos os parentes de Paul McCartney até o 5º grau. Foi bonito, achei alguém mais pirado que eu. 

Então, esses momentos antes do show foram psicologicamente muito importantes. Saí com minha narrativa de mim mesma melhorada, reconstruída. Eu não estou sozinha gostando de um negócio ultrapassado, por limitação minha. Eu cresci ouvindo Beatles e, como todo clássico, as letras deles me acompanham e se reatualizam na minha vida a cada vez que eu ouço. Que bom que essa riqueza não é só minha e que deu tempo de eu ver a performance de um dos quatro melhores músicos que já existiram. Com um pouco de saudade do que eu nunca vivi, eu estava lá me dando o direito de ser bem anacrônica, de delineador marcado e faixa no cabelo, gritando como uma groupie dos anos 60. Ah, com um detalhe muito importante. Em um dos momentos em que eu me passava de gritar e chorar desesperadamente, ELE OLHOU PRA MIM. Eu aumentei a intensidade do escândalo, e ele acenou com a cabeça. Ok, pra mim, esse foi o PONTO ALTO dos três shows do Paul em território brasileiro, não quero nem saber de quem possa ter opinião diferente. O olhar dele é lindo, o aceno de cabeça dele é lindo, e eu amo o Mateus, e esse é o blog do meu sogrinho, mas O PAUL McCARTNEY OLHOU PRA MIM, e isso é digno de nota.

De todo modo, pra além de fazer escândalo e chorar, eu estava também admirando a performance de um músico cujo legado, certamente, é maior do que a nossa geração é capaz de entender. Eu queria MUITO estar viva para ver o que Paul McCartney vai significar em 200 ou 300 anos."

12 comentários:

Morgana disse...

muito boa a narrativa, entretida sobre tudo. me fez ler do começo ao fim com aquele gostinho de " é quase como se eu estivesse estado lá" . legal érica. valeu!

PABLO ROBLES disse...

O título me instigou a ler a postagem, irreverente e fanática.

Eu arriscaria uma peregrinação do tipo, se fosse pelo Pink Floyd, rs.

Abraços, Pablo

www.gritopacifico.blogspot.com

PABLO ROBLES disse...

O título me instigou a ler a postagem, irreverente e fanática.

Eu arriscaria uma peregrinação do tipo, se fosse pelo Pink Floyd, rs.

Abraços, Pablo

www.gritopacifico.blogspot.com

Érika Calvet disse...

Ótimo texto!!
Me pergunto até hoje porque eu não parcelei esse ingresso em mil vezes e ia ser feliz para sempre..
Como ela é minha chará me considero olhada também..hahaha
Tenho uma história de vida parecida com a dela, a diferença é que minha geração respondia que gosta de backstreet boys!
Bom, aviso que dia 17 desse mês tem show da Banda Rubber Soul no Órbita

Fernanda disse...

E-X-C-E-L-E-N-T-E!!!!!!!

Fernanda disse...

E-X-C-E-L-E-N-T-E!!!!!!!

Ana Paula Rabelo disse...

"a experiência descrita deve mesmo ter sido fantástica e o seu texto tem qualidades tão valorosas quanto... se eu fosse o seu sogro, convidaria você para doar umas palavrinhas pro blog dele vez por outra..."

Rogério disse...

Haha! Delícia de texto!
Fica a vontade de saber como foi a volta! Fica para o "Eu vi o Paul - O Regresso"

Os tais perrengues são absolutamente necessários pro resultado final. Alguem já disse que "O melhor da viagem é o caminho"

Tirando a mão na bunda, adorei estar em São Paulo com os outros leitores do texto, perder a chave, pegar taxi maluco, pegar filas quilométricas, conhecer outros fanáticos e sentir falta de ouvir alguma coisa como "I Want You".


Parabéns pelo texto! Minha viagem saiu baratinha!

Érika disse...

Obrigada a todo mundo que leu e comentou. Foram todos muito legais. Obrigada.

Erika Ogawa disse...

Se houvesse a ferramenta: "Curti" do facebook, certamente, teria clicado, erikita! bjo

Ana disse...

Incrível! Me identifiquei do começo ao fim! Os perrengues, a sensação gostosa de encontrar gente com o mesmo sonho naquela fila, e, principalmente, o significado meio "espiritual" que estar ali vendo Sir. Paul teve! Amei, amei, amei! Também voltei me sentindo uma pessoa "melhorada"! Pena não ter encontrado ninguém daqui lá! :)

Érika disse...

Seu Marcus, pode descontar aí pelo menos 20% das visitas do meu post. Eu tô SEMPRE visitando pra ver os comments novos. Adorei o da Ana, logo acima. Fui no blog dela e tudo. bJOS.