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segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Twitter e Facebook mais isolam que unem

Os cibercéticos estão na moda



Paul Harris, The Observer

O modo como as pessoas se 
comunicam freneticamente on-line
por meio do Twitter, do Facebook e 
das mensagens instantâneas pode ser considerando uma forma de loucura
 moderna, segundo uma importante 
socióloga norte-americana.

“Um comportamento que se tornou
 típico ainda pode expressar os problemas 
que antes nos faziam considera-lo 
patológico”, escreve Sherry Turkle,
professora do MIT, em seu novo livro,
 Alone Together (Sozinhos Juntos), 
que está liderando o ataque contra
 a era da informática.

O livro de Turkle, que será publicado no Reino Unido no mês que vem, causou
 sensação nos Estados Unidos, país geralmente mais obcecado pelos méritos 
da redes sociais. Ela participou na semana passada do programa cômico de
 TV de Stephen Colbert, The Colbert Report. Quando Turkle disse que
 esteve em enterros em que as pessoas verificavam seus iPhones, Colberto 
retrucou: “Cada um tem sua própria maneira de dizer adeus”.

A tese de Turkle é simples: a tecnologia ameaça dominar nossa vida e
 nos tornar menos humanos. Sob a ilusão de permitir uma melhor
 comunicação, na verdade nos isola das verdadeiras interações humanas,
 em uma ciber-realidade que é uma pobre imitação do mundo real.

Mas o livro de Turkle não é a única obra do tipo. Uma reação intelectual
 nos Estados Unidos pede a rejeição de alguns dos valores e métodos
das comunicações modernas. “É uma enormes revolta. Os diferentes
 tipos de comunicação que estamos utilizando tornaram-se algo
 que assusta as pessoas”, disse o professor William Kist, especialista em 
educação na Universidade Estadual de Kent, em Ohio.

A lista de ataques à mídia social é longa e vem de todos os cantos do 
mundo acadêmico e da cultura popular. Um best seller recente nos EUA, 
The Shallows (Águas Rasas ou Os Baixios) de Nicholas Carr, sugeriu
 que o uso da internet estaria modificando nosso modo de pensar,
 para nos tornar menos capazes de digerir quantidades de informação
 grandes e complexas, como livros e artigos de revista. O livro baseou-se 
em um ensaio que Carr escreveu na revista Atlantic. Era igualmente
 enfático e se intitulava O Google Está nos Tornando Idiotas?

Outra linha de pensamento no campo do ciberceticismo encontra-se
 em The Net Delusion (A Ilusão da Rede), de Evgeny Morozov. Ele afirma
 que a mídia social produziu uma geração de slacktivists (ativistas frouxos).
 Ela tornou as pessoas preguiçosas e consagrou a ilusão de que clicar
 com o mouse é uma forma de ativismo equivalente às doações em dinheiro
 e tempo no mundo real.

Outros livros incluem The Dumbest Generation (A Geração mais Idiota),
 de Mark Bauerlein, professor da Universidade Emory, que afirma que
 “o futuro intelectual dos Estados Unidos parece sombrio” – e We Have Met 
the Enemy (Encontramos o Inimigo), de Daniel Akst, que descreve os 
problemas de autocontrole no mundo moderno, dentre os quais um
componente-chave é a proliferação das ferramentas de comunicação.

A reação atravessou o Atlântico. Em Cyburbia, publicado na Grã-Bretanha
 em 2010, James Harkin investigou o mundo tecnológico moderno e 
encontrou algumas possibilidades perigosas. Embora Harkins não seja um 
cibercético puro, encontrou muitos motivos de preocupação, assim 
como de satisfação, na nova era tecnológica. Em outra frente, o filme de sucesso 
A Rede Social tem sido considerado um ataque ligeiramente velado à geração da
mídia social, sugerindo que o Facebook foi criado por pessoas que não 
conseguiam se encaixar no mundo real.

O livro de Turkle, porém, provocou mais debates até agora. É um grito de
 alerta para que se ponha de lado o Blackberry, se ignore o Facebook
e se evite o Twitter. “Nós inventamos tecnologias inspiradoras e potencializadoras,
 mas permitimos que elas nos reduzissem”, ela escreve.

Outros críticos apontam diversos incidentes para reforçar seus
 argumentos. Recentemente, a cobertura na mídia da morte de Simone
 Back, em Brighton (Inglaterra), concentrou-se em um bilhete de suicida 
que ela havia “postado” no Facebook e que foi visto por muitos de seus
 1.048 “amigos” no site. Mas nenhum deles tentou ajuda-la – em vez disso 
trocaram insultos na página de Back no Facebook.

O livro de Turkle também agradou, porque suas obras anteriores, The Second 
Self (O Segundo de Si Mesmo) e Life on the Screen (Vida Tela) pareciam mais 
abertas ao mundo tecnológico. “Alone Together parece ter sido escrito pela
 gêmea maligna de Turkle”, brincou Kist.

Mas hoje até a reação tem uma reação, e muitas pessoas saltam em defesa
 da mídia social. Elas indicam que e-mails, Twitter e Facebook 
geraram mais comunicação e não menos – especialmente para pessoas que 
podem ter dificuldades para se encontrar no mundo real devido à 
distância física ou à diferença social.

Os defensores dizem que sua forma de comunicação é apenas diferente,
 e algumas pessoas podem ter dificuldade para se adaptar. “Quando você
 entra em um café e todo mundo está em silêncio sobre seus laptops, compreendo 
o que ela diz sobre não conversar uns com os outros”, disse Kist. “Mas
 ainda é comunicação. Eu discordo dela. Não vejo a coisa tão preto e branco.”

Alguns especialistas acreditam que o debate está tão acirrado porque as
 redes sociais são um novo campo que ainda precisa desenvolver regras de
 etiqueta que todos possam respeitar, e que por isso incidentes, como 
a morte de Simone Back, parecem tão chocantes. “Sejamos francos, não vejo
 sinais de alguém se desligando”, disse Kist. “Mas talvez precisemos desenvolver 
uma ‘netiqueta’ para lidar com tudo isso.

Ele também indicou que o “mundo real” a que muitos críticos da mídia
 social se referem nunca existiu realmente. Antes que todo mundo viajasse 
no ônibus ou no trem com as cabeças enterradas em iPads ou smartphones,
 geralmente apenas ficavam em silêncio. “Não víamos as pessoas 
conversar com estranhos espontaneamente. Elas se voltavam para si 
mesmas”, disse Kist.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
The Observer - in Carta Capital de 2 de fevereiro de 2011

5 comentários:

Rogério disse...

A primeira crítica dos detratores das redes sociais é sempre de que seus usuários vivem noutra dimensão, no sentido pejorativo, claro.

Até parece que todo mundo mora na mesma rua, que não existem pessoas com dificuldade física e financeira de locomoção, que a interação física entre as pessoas sempre foi uma facilidade, e que SÓ AGORA nos tornamos preguiçosos.

Tenho minhas dúvidas de quem vive nessa tal dimensão.

"... nos tornar menos humano..." é meu ovo.

marvioli disse...

E aí Rogério.
Tô esperando as colaborações.
Aliás, precisamos nos tornar mais humanos e nos encontrarmos para falar sobre música e outras coisas.

Rogério disse...

É só dizer o nome do Pé Sujo que eu apareço!!!

A bola tá com você!

Abraço do Lama

marvioli disse...

No Chaguinha ou Marcão no Benfica. No Luxo na sexta ou no sábado no Concentra.

Rogério disse...

Depois que a "Tia" liberar a gente da aula