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sábado, 26 de fevereiro de 2011

Uma Epopéia


Por Walber Nogueira da Silva


Quem foi ao Parque dos Campeonatos na noite da quarta-feira, 23/02, não viu apenas um jogo de futebol, viu uma epopéia, um poema épico, um feito heróico de proporções homéricas.

O Fortaleza precisava ganhar de 2 a 0 para decidir nos pênaltis ou por uma diferença de três gols para lograr a classificação direto. Com um minuto de jogo, Reginaldo Júnior balançou as redes e indicou à torcida tricolor a alegria que estava por vir. Aliás, a torcida merece um comentário à parte e, adiante, me ocuparei dela.

Depois do gol, o tricolor continuou pressionando e chegou até a marcar, mas o gol foi anulado. Pelo ângulo em que me encontrava no estádio, não vi nenhuma irregularidade. A pressão continuava, as chances eram criadas, mas nada do segundo gol sair.

Vem o segundo tempo e, aos 16 minutos, a defesa do Fortaleza toma o seu indefectível gol de todo jogo. Com isso, precisávamos fazer mais 3! Naquele momento, perdíamos gols, errávamos passes fáceis e nos enervávamos, desesperados que estávamos, correndo atrás da classificação. Como superar tudo isso?

As decepções e derrotas acumuladas nos campeonatos nacionais dos últimos anos vieram à tona naquele momento. O estádio silenciou. Vi alguns irem embora e, como estes, muitos desacreditaram. Desacreditaram do Fortaleza, da sua fama de fênix, a ave mitológica que renasce das cinzas. Desacreditaram da mística de suas camisas. No fundo, desacreditavam de si mesmos.

Aos 20 minutos, o chute certeiro de Gilmak no ângulo direito do goleiro adversário foi uma espécie de aviso: acreditai-vos, pois esta camisa é capaz do inimaginável. A Batalha do Pici não estava perdida.
Esta foi a senha para a explosão da torcida tricolor.

E ela foi um capítulo à parte. Com seus cantos, seus gritos, entoando a mais perfeita criação musical do gênero humano, o hino do Fortaleza, a torcida tricolor foi simplesmente: Fortaleza. E ser Fortaleza é colocar-se acima, além, em um estágio de transcendência em que a própria ordem do óbvio, do esperado, da realidade, é subvertida. Ser Fortaleza não é uma mera opção clubística, é um estado de espírito. Sua torcida nunca soube disso tanto quanto ontem.

Aos 39 do segundo tempo, o gol de Reginaldo Júnior veio nos libertar. Não apenas da tensão, do nervosismo. Aquele quarto gol, o gol da classificação, nos libertou das agruras do dia-a-dia, dos sofrimentos da existência, do patrão chato, do ônibus lotado, do capitalismo que leva a humanidade à extinção, das tristezas da vil condição humana. Mesmo por um instante, por um momento, aquele gol nos vingou de tudo isso, nos vingou de todas as derrotas da vida!

O jogo desta quarta foi um lenitivo para todos os tricolores. Nós merecíamos isso. O Fortaleza foi grande, foi heróico, honrou sua história e seu nome: foi forte. Soube vencer suas próprias limitações, transformando-as em matéria de vitória.

Se Homero tivesse assistido a vitória de ontem, não teria escrito um poema em homenagem aos feitos de Ulisses, teria homenageado este feito do Fortaleza.

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