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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Um filho é capaz de nos tornar um ser humano melhor



Por Daniele de Oliveira Medeiros - no blog  http://ecopedepano.blogspot.com/

Incrível notar as expressões faciais das pessoas ao saberem que “abandonei tudo” para cuidar do meu filho. Umas ficam estupefatas, outras revoltadas, outras até hostis. Elas buscam explicações para o fato de deverem continuar a vida como ela é ou era antes da chegada do bebê. Podem continuar no caminho sem nunca aproveitarem esse período para a busca da transformação.
Abandonei a minha profissão de agrônoma, abandonei minha vaidade de mulher, abandonei as festinhas e a vida social, principalmente a noturna, abandonei a vida sexual que levava com meu marido. Tornei-me outra mulher, a louca. Com isso fui abandonada também. Muitos amigos, quase a maioria, não conseguem mais penetrar na nossa vida. Ficamos deslocados.
Essa mudança vinha automaticamente na medida em que eu me deixava levar pelas necessidades do meu filho e não às minhas. Começou com a amamentação que foi e é em livre demanda, depois com o local de dormir, pois percebia que lhe deixava mais acolhido em nossa cama, ao meu lado e, sem contar com a atenção exclusiva nos momentos em que era necessário. Ou seja, sempre.
Meus questionamentos eram, na maioria das vezes, até quando? Qual é a medida certa? Porque eu já estava super cansada, exaurida mesmo e não me reconhecia mais como antes. Quem era eu? Meus horários eram os horários do Rudá, minha vida era a vida do Rudá e meus pensamentos eram em torno do conforto e comodidade do Rudá. Comecei a entender que estava em trabalho de supração do meu ego. Foi aí que caiu a ficha que a gente é capaz de sair do mais alto grau egocêntrico e superar todas as dificuldades por amor. Um filho é capaz de nos fazer um ser humano melhor.
Mas por que eu fazia isso? Porque enfrentei o encontro com a experiência maternal como arquétipo e permiti que muitos aspectos ocultos da minha psique fossem revelados e ativados pela chegada do Rudá. E não foi nem é fácil. Não amo mais que outras mães e não sofro mais que as outras também, mas me entreguei a esses momentos de revelação. Fiz, com isso, uma grande oportunidade para reformular as minhas idéias pré-concebidas, meus preconceitos e, principalmente, autoritarismos relacionados às formas de criar vínculos e comunicação entre mães e bebês.
Na nossa contemporaneidade somos levadas a já nos acostumar com o fato de que vamos nos separar de nossas crias antes mesmo delas estarem preparadas. Criamos um dispositivo de escape para, ao acabar a licença maternidade, estarmos aptas ao abandono. Com isso, todo o tempo que poderíamos utilizar para viver a fusão emocional, foi trabalhado ao contrário, nos violentando ainda mais.
O bebê humano nasce prematuramente mesmo àqueles que nascem a termo. O cérebro não está desenvolvido o suficiente, mas esperá-lo atingir o grau necessário faria com que qualquer mulher não conseguisse parir, pois o bebê sairia com a cabeça grande demais. Nossos bebês humanos são os únicos que depois de nove meses pós-parto estão em condições semelhantes a outros mamíferos de outras espécies depois de seus nascimentos. A partir daí é que eles começam a manifestar alguns sinais de autonomia.
Ora, isso é dizer que os bebês continuam fundidos no mundo emocional das mães. Eles mesmos não sabem de si e tomam por deles o corpo da própria mãe. O bebê vive como se fosse dele tudo aquilo que a mãe sente e recorda, aquilo que a preocupa ou que a faz rejeitar.
Nesse sentido, devemos carregar nossos bebês conosco todo o tempo, assim como algumas mulheres tribais ainda fazem. O início da separação emocional começa por volta dos dois anos de idade! Antes disso, é cruel forçar a separação.
Essa relação é simbiótica porque à medida que a mãe cuida do bebê sem se preocupar com o momento da separação, o bebê se torna um verdadeiro mestre, manifestando todas as nossas emoções, especialmente aquelas que ocultamos de nós mesmas e que não queremos esquecer. Aí vem a grande dificuldade de lidar com a maternidade na sua plenitude.
Descobri que dói e dói muito essa entrega porque é um encontro com a sombra e se é sombra é porque é difícil enxergá-la, reconhecê-la e aceitá-la. Incomoda. O que nos é incômodo é deixado de lado. Passamos por cima.
Meu filho teve muita cólica. Chorava demasiadamente. Hoje, consigo perceber que quando eu estava tranqüila, ele também ficava. Quando, aos finais de semana, ficávamos sós - meu marido, nosso filho e eu, tudo era harmônico. Durante a semana, com a chegada de outras pessoas, muito queridas, por sinal, se transformava num caos.
Sem saber elas violentavam o que era de mais importante naquele momento, a privacidade entre mãe e bebê. A casa, o almoço, a organização, as visitas, a aparência, nada disso tem sentido se não estamos conectadas com a fusão emocional.
Por que isso acontece? Porque a experiência de vida das pessoas foi de negarem-lhes também o direito de estarem a sós com suas mães. De acharem que poderiam causar prejuízo, torná-las mimadas, interferir na independência, e, além disso, de ser inimaginável uma mulher parar sua carreira profissional por um bebê. O que vejo é que o direito de se conhecerem é que lhes foi usurpado, tentando transformá-la em um ser desconectado com suas emoções.
O mundo sucumbe por ações mais humanas, solidárias e cooperativas. A paz só é de fato possível se o mundo tornar-se menos mesquinho e violento, se começarmos a reconhecer o verdadeiro papel da maternidade e do significado de trazer um ser à vida.
 

Um comentário:

Alan de Morais disse...

Essa mulher transpirava amor por todos os poros... amor tangível e visível por seu franco sorriso... esteja em paz, pois já nós estamos tentando nos conformar