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terça-feira, 21 de janeiro de 2014

A vida por um fio

Por Iana Soares
Iana Soares


A vida por um fio. Literalmente e sem exagero. 

Estava caminhando pelas calçadas do Bairro de Fátima, voltando pra casa a pé, entre O POVO e a Treze de Maio... [tenho feito isso nos últimos dias, se consigo sair do trabalho ainda com o sol no mundo, e me dá uma alegria dessas pequenas e necessárias, além de ser uma economia]... quando de repente passa um caminhão em altíssima velocidade, numa rua MUITO estreita que eu nem sei o nome (perpendicular à Conselheiro Tristão, ali próximo ao Kasa Kaiada) e carrega os fios que haviam entre os postes. 

Um deles se transforma em um chicote e corta minha perna. O motorista segue na mesma ou maior velocidade, enquanto os frequentadores do bar da esquina gritam "a menina levou um choque, socorre a menina" e eu não entendia nada. A sensação era de que tinham passado uma faca na batata da minha perna, pensei até em um assalto. Depois de soltar um grito e alguns palavrões, vi o fio no chão.

Lembro que uma coisa que achei muito feia na Fortaleza, ao voltar a morar aqui depois de um tempo fora, foram os fios. Entre o aeroporto e a nova casa, minutos depois de aterrissar, fiz essa observação, há 11 anos atrás. 

Quem me conhece sabe que não engrosso o caldo dos que esculhambam a cidade. Pelo contrário, insisto na delicadeza, no otimismo, nas esperanças. Só que nesse momento, me deu uma raiva grande. Dos moradores que fazem trilhões de gatos e rebaixam os fios, da Prefeitura que não fiscaliza, nem substitui a porcaria desses fios que além de feios são perigosos, por outros subterrâneos; do homem que dirigia e pouco se importou com o fio ou comigo. Lá é uma área super residencial e com criança no meio da rua pra um caminhão passar assim. Tem um monte de coisa errada e não é só na minha vizinhança, é espalhado pela cidade inteira.

Tive algumas sortes: o fio era de telefone, segundo apurou um dos moradores; estava de calça jeans e não de vestido como de costume, então o machucado foi menor, mesmo com a sensação de queimação que persiste; foi na batata da perna (que é bem grossinha) e no tornozelo, e não no pescoço ou no rosto.

Agradeço ao Pedro Paulo, frequentador do bar da esquina, que me ofereceu um copo d'água. Há umas duas semanas queria escrever sobre o meu percurso entre o jornal e a minha casa, que é simples e incrível, mas tive de começar com essa raiva e essa tristeza. Depois falarei da barbearia, do homem que conserta TVs de tubo, do avô que sempre está com as netas, da casa com fotopinturas na parede.

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