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segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Crônica de uma cidade-colombina

por Felipe Araujo

E vamos a mais um pré-carnaval. Sexta-feira é o início oficial segundo a programação da Prefeitura (embora inúmeros blocos já estejam a pleno vapor há alguns finais de semana). Daqui até quarta-feira de cinzas, a alegria será a prova dos nove. E tome Luxo da Aldeia, Sanatório Geral, Unidos da Cachorra, Concentra Mas Não Sai, Cheiro e inúmeros outros blocos do prazer a libertar nossos corações.

O evento, que começou a renascer como um marco público do calendário na segunda metade da década passada - com a chegada mais efetiva do poder público municipal no apoio à festa -, remonta, na verdade, a algumas décadas atrás, com estandartes como Periquito da Madame e o inesquecível Quem é de Benfica, de Dilson Pinheiro.

A festa chega a 2014 fortalecida pelo acúmulo de discussões e iniciativas desenvolvidas ao longo dos últimos anos. Destaque para o instituto do edital, que, à parte a necessidade de ajustes, democratiza o acesso ao recurso público; e para a criatividade e garra dos próprios blocos. Destaque também, e sobretudo, para a resposta favorável da população, que, por alguns dias, parece perder o medo de sair à rua, de se (re)encontrar com o espaço público, de (re)viver com o outro novos desejos e novas possibilidades de cidade.

“A colombina já morreu,/ E o palhaço ainda sou eu / A procurar nos blocos / Nas ruas e nos rostos / Tudo que a vida não me deu”, diz a linda melancolia de uma marchinha composta por Paulo Gomes – música do repertório do bloco Luxo da Aldeia, que dedica suas apresentações à celebração das composições de autores cearenses (de Petrúcio a Fausto, de Lauro a Ednardo). Pois o pré-carnaval e o carnaval são, pelo menos para este folião, uma oportunidade para procurar, nos blocos, fantasias e molecagens espalhadas nas ruas, um sorriso que, em relação à cidade, no restante do ano, nos tiraram do rosto; uma esperança (meio fugidia) de fazer valer a pena ser e estar por aqui.

Palhaço à espera de uma ingrata e por vezes cruel cidade-colombina, em nenhum outro momento do ano, me sinto tão fortalezense... 

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