Aldir, 64
3 de setembro de 2010 por Moacyr Luz
Setembro é o mes de aniversário do meu parceiro Aldir Blanc.
Um convívio que trouxe à minha vida a Rosa dos Ventos,a alavanca pra erguer a vida.
A memória dispara acima dos 24 quadros, um fast de imagens, sépia no tempo, eternas histórias na mesa do bar.
Num dos últimos telefonemas disputamos doenças tardias, bulas e seus efeitos, até rir das distancias etílicas.
Na amizade, rituais.
As noites em parceria terminavam com um forte café, última dose permitida.
O coador exalando aromas tradicionais perto das cinco da manhã, um violão encostado na torcida manta do sofá e a desculpa pra encarar outro dedinho de Cointreau, a saideira infinita.
Lembrei da morte do Paulo Emílio.
O Aldir me telefona perto das sete da manhã de um sábado chuvoso:
- O Miguilio está passando mal na Guajaratuba. Vamos lá?
Miguilio é Paulo Emilio.
Deitado, nosso querido amigo, ainda ria da desgraça própria.
Aldir percebe um vazio no olhar, e a gente sai sem um diagnóstico formado.
Poucas horas depois, morre o co-autor de “Linha de Passe”, do “Sudoeste”.
Foi uma noite interminável.
O toca-discos repetia ad libitum o samba “Nação”.
Antológico, jogamos no Rio Maracanã um pequeno barco, embarcando no porão todas as citaçoes de “Valsa do Maracanã”.
Paulo Emílio da Costa Leite, estava a uma semana de completar 50 anos.
Por isso comemoramos muito a mesma data de vida do Aldir com direito a enredo de bloco, seguidos porres na semana e um CD memorável aonde tenho o orgulho de ter algumas das nossas músicas.
Mais outra lembrança.
Fui com ele à casa do mestre Paulinho da Viola que ensaiava o samba “50 Anos”, Aldir & Cristóvão Bastos.
Sentamos em torno de um lotado isopor de cervejas. De repente, mestre Paulinho sugere um cachacinha, confidenciando preferir às geladas cevadas servidas.
Eu à beira de recusar, sinto uma cutucada do parceiro na minha canela, seguida de um sussurro:
- Não corre! aceita…
Foi o meu mal.
Saí de lá disposto a renovar meu bar pessoal até completar 100 rotulos de diferentes ucas brasileiras.
Meu querido amigo fez aniversário e senti como minha a festa imaginária.
As imagens contiunuam frenéticas, o longa-metragem de um convívio.
Guardo uma última.
Não sei explicar o inusitado, mas o Aldir alugou uma casa em Vilatur, um bairro escondido de Saquarema. O mapa do tesouro pra alcançar o destino.
Chego de mala e cúia pra passar um fim de semana de copo cheio na mão.
A vista é linda, mar aberto e um quiosque parecendo abandonado na beira-mar improvisada.
Vale conferir.
Chegamos junto com a maresia forte. Ventava o suficiente pra nos deixar sóbrios no feriado.
Encosto num peitoril de madeira e despenco, tres metros abaixo, entre blocos de granito e alguma areia de praia.
No hospital constatada a fratura do ísquio, um osso do tamanho de uma unha das mãos, capaz de sustentar o equilíbrio de todo o corpo.
Voltamos pra Vilatur correndo. Eu numa cadeira de rodas.
Foi cumprido o prometido. Bebi o que pude girando o porre nas rodinhas multi-direcionais e só amanheci em casa tres dias depois.
Fiquei dois meses nesse trono móvel. Aldir resolveu deixar de mão a Vilatur, decidindo os dois que praia é coisa pra bacana.
Nos somos apenas tijucanos.
Feliz aniversãrio, meu irmão.
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