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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

O PINTINHO CEGO

Lembrança da Nova Seleta, poemas lidos na infância que a www faz reviver.


O Pintinho cego
de Olegário Mariano


É ridículo, não nego:
Mas como me comovia
Aquele pintinho cego
Que eu criava e não me via.

O meu cuidado primeiro,
Quando cansado chegava,
Era indagar do caseiro
Meu ceguinho como estava.

E ele que vivia a sós,
Num momento aparecia.
Certamente conhecia
O timbre
 da minha voz.

Vinha vinda e tateando
Pela grama do jardim.
Abaixava-se piando
A esperar com alegria
A festa que eu lhe fazia
Quando o tinha junto a mim.

Uma vez... (se bem me lembro
Era o mês de dezembro)
Pus a criadagem tonta...
Ninguém dele dava conta.

Fiquei louco, furibundo
,
Pus em campo todo mundo,
Gente corria assustada
Pelo jardim, pela estrada,

Até que o acharam com frio,
Longe, num campo baldio,
Tonto, sem poder voltar.
O seu caminho de volta
Era escuro e misterioso
Como uma noite sem luar.

Então resolvi prende-lo:
Fiz-lhe uma casa de palha
E a todo instante ia vê-lo.
Desse modo procurava
Dar-lhe paciência e esperança
Enquanto ele era criança,
Para aguardar o futuro
Mais escuro que o esperava.

Mas o destino, na trama

Como a aranha o prendeu.

O caseiro resolveu
Soltá-lo um pouco na grama...
E ele desapareceu.

Quando no fim de semana
Voltei à minha choupana..
.
Vinha feliz! Mal sabia
Que ele não mais existia.

E me acreditem, não nego,
Chorei com pena e saudade
Daquele pintinho cego
Que não via a claridade
Do sol que ilumina o dia,
Que dá vida a todos nós,
E entanto me conhecia
E era feliz quando ouvia
O timbre da minha voz.


Um comentário:

Anônimo disse...

Esse me fez lembrar o tempo que minha mãe contava para mim, e eu ficava todo triste por causa do pintinho...