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sábado, 18 de junho de 2011

Quanto vale o vinho?

Pro povo que bebe vinho e que "anda" pelo Diumtudo, um excelente artigo de Mauricio Tagliari. Mauricio é músico, participou do Nouvelle Cuisine, compositor e produtor musical. 
É também sócio da YMusic, co-autor do Dicionário do Vinho Tagliari e Campos e escreve sobre músicas e bebidas no blog www.maisumgole.wordpress.com


Por Mauricio Tagliari

Uma pergunta e uma preocupação de todos que bebem vinho. Qual é o preço justo a pagar? Não importa se você é um apreciador de algumas posses que se interessa pelo assunto e gasta bem com seus goles ou se é um dedicado bebedor de fim de semana, interessado em um vinho decente e muito barato. Sempre há alguma dúvida no ar. Como pode um vinho custar R$ 8 e outro, R$ 8 mil? Golpe? Mistificação? Não, caro leitor: capitalismo e mercado. A verdade é que pode, mas não deve.

No há nada, além da lei de oferta e procura, aliada ao marketing, que justifique tamanha disparidade. Já participei de degustações cegas que colocam ombro a ombro vinhos (muito famosos e prestigiados) de R$ 2 mil e menos conhecidos de R$ 150. Não se trata de privilégio nosso, consumidores na periferia do capitalismo enológico. Este é o grande ensinamento das degustações às cegas. Aprende-se, entre outras coisas, a humildade. Veja este vídeo, por exemplo: http://www.youtube.com/watch?v=ptXx_1lPwG8&feature=player_embedded

O amado e odiado Robert Parker pontificou tempos atrás que todo vinho acima de U$ 10 (talvez seja U$ 8, não tenho certeza) tem a obrigação de ser muito bom. Este preço no mercado americano, claro. Com os impostos escorchantes e obscenos cobrados no Brasil, isto equivaleria a uns R$ 80 ou R$ 100, talvez... Uma faixa de preço em que também espero encontrar vinhos de ótima qualidade no nosso mercado. A polêmica retorna com um tweet de Jancis Robinson criticando a escalada de preços dos vinhos franceses. Por culpa da demanda chinesa.



O ponto crucial deste assunto é a percepção do consumidor, tanto organoléptica quanto subjetiva, emocional. Quem há de negar o direito de um entusiasta em se inebriar junto com seus amigos com uma garrafa de um Petrus de boa safra? A raridade o atrai. Se ele pode, sorte dele.

Do mesmo modo, quem há de criticar um neófito que garimpe algum vinho um pouco melhor no piso da pirâmide de preços? Mas, no fim das contas, todos querem fazer um bon marché, achar um best buy ou a melhor relação custo-benefício, para ficarmos no jargão do povo que compra?

Pesquisas do California Institute of Technology e da Stanford Business School demonstram que o conhecimento do preço altera a percepção da degustação (http://www.naturalnews.com/023758.html). Isto é, ao saber que um vinho é mais caro, tendemos a apreciá-lo mais. E, na contramão, não damos muita bola ao vinho mais barato. Nosso cérebro tem truques espertos, mas também cai em muitas armadilhas. O marketing do vinho, mas não só o dele, é um reality show de pegadinhas. O problema é que produtores não podem viver sem ele.

Como decidir, então, se o preço é justo? Garrafas mais pesadas, rótulos mais elegantes, críticas e pontuações favoráveis, rolha de qualidade, enólogos famosos, certificação biodinâmica, tudo isso forma um conjunto de sinais de status do vinho, mas não são garantia de nada.

Cada vez é mais frequente o uso de tampa de rosca por bons produtores do novo mundo. Garrafas pesadas recebem críticas por serem ecologicamente incorretas. Rótulos? Apesar de minha experiência ser amplamente favorável aos belos rótulos, lembremos sempre do ditado: não julgue o livro pela capa! Enólogos famosos nem sempre são unanimidade. E, ao fim e ao cabo, adotar o biodinâmico pode ser charmoso, mas não necessariamente torna a produção do vinho mais cara, me asseguram muitos produtores que optaram pela prática.

Hoje, pequenos produtores e grandes conglomerados concorrem por fatias de mercado em todas as faixas de preço.

Sempre me pedem dicas de "qual vinho bom na faixa dos R$ 35?". Quem faz esta pergunta quer algo honesto, sem ser especial. Mas está longe do jovem, que muitos de nós já fomos, a procurar a ebriedade a baixo custo. Há inúmeras opções nas prateleiras. Quase sempre de grandes produtores do Mercosul. Os brasileiros também melhoraram muito nesta faixa. Este consumidor merece ser atendido e provavelmente é o mais valorizado pela indústria, pois busca qualidade e gastos equilibrados e constantes. Não é uma pessoal que busca o sublime.

Respondo sempre que, na busca do sublime, vale a pena fuçar e explorar a enorme variedade da oferta. Muitas vezes, um vinho bom e barato se valoriza e passa custar muito mais na safra seguinte. Lembro-me, por exemplo, de ter adorado o Quinta do Vallado há anos. Era um vinho fantástico com um preço ótimo. Algo em torno dos tais R$ 35. Hoje ele virou reserva, continua fantástico e custa quase R$ 200. Estou em busca de "novos Vallados".

Quem vai decidir se o preço é justo (descontados os impostos, sempre injustos, é claro), no fim das contas, é quem bebe. E quanto mais aprender e apreciar, sem precisar de muito blablablá, mais seguro o bebedor se sente.

Aqui algumas dicas de tintos bons e baratos (na faixa mágica dos R$35), para o clima frio. Os primeiros são um painel de uvas diferentes:

Altos Las Hormigas Malbec 2010 - R$ 39,44
Masi Passo Doble Corvina/Malbec 2007 - R$ 40,65
Callia Syrah Bonarda - R$ 32,62
Casillero del Diablo Carmenére - R$ 29,90
Aurora Cabernet Franc - R$ 27,50
Neméa Opap 2006 (Bouári) - R$ 38,47
Tilia Merlot 2008 - R$ 25,59

E para quem adora Cabernet Sauvignon aqui vão algumas opções.

Tilia Cabernet Sauvignon 2009 - R$ 28,81
Miolo cabernet Sauvignon reserva - R$ 31,99
Angheben Cabernet Sauvignon 2006 - R$ 26,70
Urban Cabernet Sauvignon 2007 (O.Fournier) - R$ 32,03


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