Quem sou eu

Minha foto
Agrônomo, com interesses em música e política

sábado, 14 de janeiro de 2012

O público, os caretas e os covardes

Por Felipe Araújo

Fortaleza tem uma dificuldade enorme de se relacionar com o espaço público. Somos uma cidade em que não se vai à praia, mas a barracas de praia; em que as calçadas das ruas dos bairros mais nobres são desertas a qualquer hora do dia; em que a Justiça vive a atropelar o Poder Executivo para autorizar construções privadas em áreas que seriam de usufruto de todos.

Uma cidade em que uma de suas mais belas festas, o Pré-Carnaval, todo ano enfrenta a disputa desigual com a sanha privatista de alguns empresários e com a estupidez dos famigerados paredões de som, essa sublimação automobilística para recalques das mais diversas ordens. Fálica inclusive, como brinca uma campanha muito bem humorada que circula nas mídias sociais.

Hoje, começa oficialmente o calendário em que dezenas de blocos vão comandar a alegria por toda a cidade. Ao longo de mais de um mês, tem o virtuosismo e o bom humor da bateria do Unidos da Cachorra, na Praia de Iracema; a tradição do Concentra mas não sai, no Centro; o Luxo da Aldeia (e o resgate do repertório momino cearense), no Benfica; o Vá tomar no Carlito; o estreante Bloco do Falcão; e tantos outros. Tudo (ou quase tudo) num clima saudável, moleque e espontâneo. E tem também a turma que gosta de estragar essa folia. Por essa nossa dificuldade atávica de se relacionar com o que é público.

A gestão Luizianne Lins fez muito pela retomada da relação dos fortalezenses com a cidade: Réveillon, Carnaval, aniversário de Fortaleza, Mercado dos Pinhões, Vila do Mar, Passeio Público, entre muitas outras iniciativas. O Pré-Carnaval é uma celebração dessa retomada, um reencontro da cidade consigo, com seus sorrisos, abraços e sua leveza.

Mas temo pelo futuro da festa: seja pela fiscalização pífia da PM e da Guarda Municipal em relação aos paredões – e à degradação que se estabelece em seus entornos -; seja pelo desejo cada vez maior de alguns empresários em privatizar a festa. Parafraseando o blues de Cazuza, Fortaleza não pode mais ter piedade com essa gente careta e covarde.
http://www.2011.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2012/01/13/noticiaopiniaojornal,2373087/o-publico-os-caretas-e-os-covardes.shtml

Um comentário:

Rogério disse...

Na bucha! Belo texto!